Tudo que eu queria de aniversário, são meus livros de volta

POSTADO POR: admin sáb, 14 de fevereiro de 2015

“Livro raro é aquele devolvido depois de emprestado“

A. Braithwhite

Sim. É verdade. Hoje é o dia do meu nome, também conhecido como ‘meu aniversário’. Talvez sejamos íntimos o suficiente para que você se lembre deste dia, ou próximos o bastante para que tenha sido avisado pelo facebook, mas sei que o mais provável é que você apenas tenha sacado isso pelo título desta postagem. De qualquer forma, não precisa incomodar-se com qualquer formalidade do tipo. Já tenho verões o suficiente para saber a lástima que é fazer aniversário em dias de Carnaval… Mais de mil palhações no salão, e nenhum na sua festa.
Alguns diriam que eu estou ficando velho, eu prefiro pensar que estou virando um clássico. A prova disso é que eu me mantenho um fumante inveterado. Diretamente de um tempo em que um homem era considerado elegante por fumar cigarro, e discriminado por se vestir de mulher. Enfim, hoje as coisas são diferentes.
Mas o que eu queria mesmo dizer é que, no meu aniversário eu não quero bolo e nem vela, não faço questão de presente e nem festa, tudo que eu queria são meus livros de volta. Aqueles meus livros queridos que, ao longo de mais de três décadas de vida, foram furtados, emprestados, perdidos ou simplesmente revendidos para um sebo naquele momento de aperto de grana,… E nunca mais voltaram para a minha prateleira.
Para provar a ligação espiritual que certos livros exercem sobre as pessoas, eu listei aqui alguns desses livros que se foram e deixaram um buraco em minha estante. E até onde me lembro, a história por trás de seu desaparecimento.

✔ Marcelino Pão e Vinho, de José Maria Sánchez-Silva
É o primeiro livro que tenho lembrança de ter lido na vida, provavelmente na idade entre seis pra sete anos. Fora um presente da minha mãe, que sempre me dizia que aquela história tinha sido o primeiro filme que ela vira, ainda em preto e branco, no cinema. Talvez minha queria mãezinha nunca tenha percebido a ironia das páginas de um livro também serem em preto e branco, mas como pelo menos a capa era de um colorido bonito, achei que tinha saído na vantagem.
Demorei um pouco para me acostumar com aquelas folhas sem imagem pra colorir ou espaço pra desenhar, mas devagar eu fui me afeiçoando com a ideia e comecei a ler o livro durante o recreio do colégio. E para que isso ocorresse, eu precisava evitar as atividades físicas, evitar as outras crianças, e me isolar em algum canto obtuso do pátio da escola. O que me tornava um alvo perfeito para a prática do bullying. 
Um dia, enquanto eu lia o livro e tomava o meu prosaico suquinho de frutas, as páginas escureceram devido a três garotos que pararam na minha frente e bloquearam a luz do sol, dizendo o seguinte recado de forma enfática: ‘A gente tá te achando muito metido com esse seu livrinho pra cima e pra baixo. Então é o seguinte, ou você para de ler no recreio, ou a gente vai te moer na porrada’. Depois desse acontecimento, os banheiros tornaram-se meu local de leitura favorito.
Em um processo natural do tempo, este livro acabou perdido em algum lugar do passado.
Sinopse: É a história de um pequeno bebê deixado à porta de um humilde convento de frades franciscanos na Espanha. O tempo passa e a criança é adotada pelos religiosos. Ele começa a ter uma vida de travessuras, questionamentos típicos da curiosidade infantil, crescimento interior e uma grande jornada… Tudo mostrado ao leitor de maneira pura e que envolve o leitor para que possa encontrar um pouco do menino Marcelino, e seu amigo Manuel, na criança que cada um tem dentro de si (Editora Record).

✔ O Vampiro Armand, de Anne Rice

Não importa o quanto as pessoas idolatrem o vampiro Lestat, pra mim, sempre foi Armand, o personagem mais interessante das crônicas vampirescas de Anne Rice, e nada melhor que um livro solo dele para provar minha teoria. Este livro marca, de certa forma, a minha volta para a literatura depois de passar longos anos afastado dos livros tendo experiencias no mundo real, para ter as minhas próprias histórias para escrever.
Em um momento de aperto crítico em que eu me encontrava numa pindaíba desgraçada, e precisando de algum dinheiro rápido, acabei cometendo a loucura de vender alguns livros para um sebo por uma merreca. E infelizmente este estava incluído na pilha.
Sinopse: A autora descreve em detalhes o sensual relacionamento do ainda mortal Armand com o seu mentor e a consequente transformação do pupilo em vampiro. Quando esta finalmente ocorre, as cenas fortes de sexo são substituídas pelo questionamento de Armand, forçado a escolher entre a imortalidade adquirida e a salvação de sua alma. O romance descreve cenas de luxo e elegância no suntuoso palácio renascentista de Marius, em Veneza, passa para mirabolantes aventuras e cultos diabólicos na Paris do século XIX, até chegar à Nova Orleans de hoje. Os capítulos finais relembram o significado profundo dos vampiros de Anne Rice: uma metáfora para os mais intensos e ocultos desejos do ser humano (Editora Rocco).

✔ Tudo Que Você Não Soube , de Fernanda Young

Este livro foi adquirido no aeroporto Tom Jobim, e foi a minha leitura de viagem em uma espécie de passagem rápida que eu faria pelo Acre, mas que acabou durando três dos melhores anos da minha vida. O exemplar foi comprado quase que aleatoriamente na pressa de não perder o avião, e basicamente narra a história de uma filha que faz um tipo de acareação com o pai, enquanto ele, preso a uma cama de hospital e impedido de falar, é limitado apenas a ouvi-la. Curiosamente eu estava indo fazer algo parecido nessa viagem.
Ao fim da leitura eu acabei emprestando o livro para uma cunhada. O resto da história já dá pra prever, meu irmão terminou com a garota, e parece que ela acabou ficando com o meu livro na ‘separação de bens’.
Sinopse: Neste romance, Fernanda Young troca o humor ácido por um tom amargurado para contar, em primeira pessoa, a história de uma mulher sem nome que escreve ao pai moribundo, com quem não fala há anos. Tudo que você não soube traz o conteúdo dessa longa carta, na qual a personagem faz um resumo detalhado da sua vida, dividida entre o desejo de chamar a atenção do homem que a colocou no mundo e a vontade de chocá-lo com suas revelações. 
Em uma narrativa sem ordem cronológica, a protagonista traça um parâmetro entre seus traumas de infância e a mulher que se tornou: sóbria, dissimulada e imersa em um poço de desamparo e solidão, embora as aparências mostrem alguém que leva uma vida normal. Na maior parte do tempo, ela tem uma rotina de luxo ao lado do marido e dos filhos, mas, durante as madrugadas, se dedica a examinar o passado e mexer em feridas ainda abertas (Editora Ediouro).

✔ Textos Autobiográficos, de Charles Bukowski

Esta obra era o orgulho da minha coleção. Uma incrível copilação de textos do meu autor favorito, alternando entre o melhor das suas cronicas e poesias. E além do seu conteúdo inestimável, publicado em um exemplar caprichado que, esteticamente, dava gosto de se ver. E o mais interessante de tudo,… Este livro me foi dado de presente por uma fã. Sim, você leu certo, uma ‘fã’. Ou pelo menos é o que ela se dizia ser na época em que me enviou o livro, e uma de suas calcinhas, pelo correios.
Infelizmente, quando me mudei para São Paulo, tive que enviar muitas das minhas coisas pelos correios, e numa dessas, um caminhão da empresa foi roubado com minhas encomendas dentro. Incluindo uma caixa enorme com pelo menos um terço dos meus livros, e esse era um desses. Eu fiquei arrasado, mas imagino que os ladrões também não devem ter ficado contentes quando descobriram o conteúdo daquela caixa tão pesada que eles roubaram.
Nesse dia eu aprendi uma lição,… O Correios dá com uma mão, e tira com a outra.
Sinopse: Começando com os escritos sobre as primeiras lembranças da infância e culminando com sarcásticas reflexões de um septuagenário, este volume apresenta uma completíssima coletânea das melhores histórias autobiográficas de Charles Bukowski. Contos, poemas e trechos de romances dão forma à vida de um dos maiores expoentes da contracultura norte-americana (Editora L&PM).