Supostos blogs literários e o desserviço que prestam a literatura

POSTADO POR: admin ter, 05 de março de 2013

Peço perdão pela rispidez das palavras que podem vir a seguir, mas é
realmente em um momento de sublime indignação que resolvo escrevê-las.
Não sei se você considera o DpM um blog de literatura, mas essa tem sido a intenção, e como tal, sempre que posso dou uma pesquisada em outros blogs
do gênero para conhecer o que tá rolando no high
society
da literatura e principalmente para diminuir o risco de tocar
desnecessariamente em algum assunto já debulhado por outros blogueiros. 
Na
maioria das vezes gosto muito do que encontro, mas tem alguns subtipos que
realmente deveriam ser exterminados da rede.

Indignamente autointitulados ‘blogs literários’, me refiro aos sites
criados por pessoas que se dizem ‘amantes da leitura’ mas tudo que fazem é
enrabar os escritores sem dó, além do que o mercado editorial já força suas
castigadas pregas a aguentarem. 
Covardemente (ou inocentemente?) esses crápulas
acham que estão ‘revolucionando’ o meio literário criando um blog/site para
disponibilizar livros para download. NÃO meu caro ‘filhodaputa’, você está
ajudando a cortar a conta de luz de um escritor por falta de pagamento, e
merecia uma boa surra por isso.

Se você se julga tão integrado assim com a literatura, deveria saber
que um escritor fatura apenas 10% sobre o preço de capa de seu livro, e o que
você está fazendo é equivalente a roubar um mendigo. Não o dinheiro do coitado,
mas pior, a cambuquinha que ele usa pra pedir os trocados. E se disser que não
sabia disso, deveria voltar para os quadrinhos.
Aliás, convenhamos, procurar uma leitura por aparato eletrônico como
primeira opção é um atestado de ‘eterno cabaço’. Nunca vou entender como que
alguém consegue ler um livro que não se pode cheirar.
Antes que retruquem, não sou contra o download. O que sou severamente
contra é chutar cachorro morto, tirar muleta de aleijado e roubar bengala de
cego.

É tudo uma questão de sapiência financeira. Quando faço o download de
um filme ou música, tenho a serenidade de que todos os profissionais envolvidos
naquele processo estão devidamente pagos pelos seus respectivos trabalhos. O
que vier depois, além de lucro puro, vai justamente para as pessoas que menos
se envolveram fisicamente com aquela produção. Ou você acha que algum astro de
Hollywood aceita um papel contando com o dinheiro da bilheteria para pagar suas
contas? Quando um filme chega ao cinema, é certo que até os figurantes já
desfrutaram e gastaram o dinheiro de seus cachês. Afinal, só mesmo um imbecil
aceitaria receber só depois de meses, ou anos, após seu trabalho duro. Os
imbecis, e claro,… Os escritores.
Sim, um escritor depende única e exclusivamente da venda de seus
livros para se sustentar. Não são como os músicos que podem cagar para os
centavos que ganham com a venda de um álbum já que o dinheiro de verdade vem
dos shows milionários, desses que você tem coragem de pagar 100, 200, às vezes
300 reais sem reclamar para frequentar o lugar por três horinhas de música e
diversão coletiva, mas não possui a decência de pagar 30 contos em um livro que
te proporcionará dias de entretenimento pessoal (e outras cositas mais), com o
bônus de que poderá ser revisitado quantas vezes desejar.
Escritores não são convidados para estrelar propagandas comerciais, nem
mesmo para escrevê-las. Não são conhecidos nos eventos e nem reconhecidos nas
ruas, e por consequência disso não possuem as facilidades sociais da classe
artística. Eles são a base de toda forma de expressão cultural, mas
infelizmente não são respeitados como tal. E esses sites de downloads de livros
contribuem muito pra essa falácia.
Se o problema for dinheiro, eu sei que não tá fácil pra ninguém. Mas
se você deseja tanto assim aquela leitura, o que custa fazer alguns sacrifícios
para adquiri-la? Porque tenha certeza que o autor fez muitos sacrifícios para
leva-la até você. Sacrificar uma balada de fim de semana, peneirar em sebos,
juntar as moedas do fim do dia para poder comprar o livro no final do mês, tudo
isso faz parte do processo de leitura. Na verdade tudo começa aí, e não quando
se vira a primeira página. Se você nunca passou por algo assim para adquirir um
livro, é até compreensível o fato de não ter respeito pela literatura. Mas não
justifica.
Não vai colar você deixar um comentário nesse post reclamando dos preços dos livros por culpa dos impostos brasileiros e blá, blá, blá, se o seu perfil de rede social está lotado de fotos ostentando dispendiosas noitadas periódicas. Nenhuma credibilidade.
Em resumo, não sei dizer se essa ‘artimanha’ é certa ou errada, legal ou ilegal, só acho uma tremenda sacanagem por parte de alguém que se diz ‘fã da boa literatura’ . Eu até recorreria ao download de um livro, mas somente se fosse o caso de um exemplar muito raro, que não estivesse mais sendo publicado, e que já estivesse esgotado todas as outras formas de comprá-lo. Porque assim, mesmo que eu encontrasse uma edição usada, teria certeza que o autor já teria recebido a centelha que lhe cabia daquela obra e dormiria com a minha consciência mais tranquila.
Se você é incapaz de verdadeiramente ajudar na difusão da literatura, seja com resenhas, sinopses, escrevendo os próprios textos ou qualquer outro real serviço útil em prol da literatura,… Não faz mas isso não. Fica só sendo ‘leitor’ mesmo que já tá de bom grado.