SOS ou Suruba Ordinária de Sexta

POSTADO POR: admin sex, 23 de novembro de 2012

O telefone toca e eu atendo.
– Alô…
– Pitz, seu vagabundo!
– Quem é a moça?
– É Geraldo, porra!
– Fala, meu camarada. Qual é a boa?
– A boa é que vamos sair mais tarde, hoje é
sexta feira! O pessoal está querendo ir lá naquele mesmo boteco da última vez.
– Não posso, cara… Preciso terminar
o texto da minha coluna.
– Que coluna?
– Vá se foder, Geraldo. Já te falei
mil vezes.
– Ah, da internet!
– Éééé…
– Não dá pra fazer isso mais rápido?
– Não, eu gosto de pensar na coisa.
– Tá bom, com você nem adianta
insistir… Depois a gente se fala de novo, então. Veja se aparece lá!
– Vou tentar.

Onde eu estava mesmo? Sim, um homem
que decide andar com os cães. Os cães
eram puros, fiéis, e em seus corações carregavam a bela ingenuidade infantil
que perdemos tão cedo. Os cães, melhores amigos e protetores da humanidade,
raça irmã que…
O telefone toca outra vez.
– INFERNO! – A vontade era a de não
atender, mas a racionalidade faz você caminhar até o telefone. Pode ser algo
importante, uma bela foda, dinheiro, publicação, e vai que você deixa passar por irritação
de momento. Atendi. Não era foda nem dinheiro. Era só um amigo legal que me
descolou um bico de roteiro (rimei sem querer).  
– Fala, camarada Montanha!
– …Por quê você não me ligou, seu
veado…?
– Meu telefone está cortado.
– Você ficou de fazer contato. Não ficou?
– Sabe, Montanha, eu ando dizendo um
monte de coisas, mas a cabeça não quer ajudar.
– A cabeça?
– É.
– Está maluco da cabeça?
– Possivelmente….
– Que merda.
– É o que eu acho. Mas se deu certo
pra Van Gogh. De repente…
– Não vai mais entregar os roteiros?
– Sim, eu quero entregar. Só não
estou conseguindo, sei lá, já acordo com dor de cabeça, náusea, vontade de
correr até uma cachoeira, coisas assim.
– Ressaca?
– Também.
– Foda-se, eu sei que você consegue,
maluco ou não. Eu sei que você tem condição de fazer o trabalho.
– Tá certo…
– Vá distrair a cuca, saia um pouco,
pense em coisas do tipo “pão e circo”, sacou?
– Saquei, meu amigo. Deixa quieto.
– Fica na paz aí. Um abraço.
– Você também. Tchau.
Onde eu parei? Sim, é claro. Raça irmã que nunca pediu de nós nada mais
que carinho e algumas migalhas para sobreviver ao nosso lado…
O que eu
estou fazendo?! Os caras do DpM vão detestar a história do cachorro. Será? Ah,
foda-se. Vai ser a do cachorro mesmo. Não dá tempo de mudar. E se eu me
preocupar com o gosto dos leitores, não escreverei mais uma linha.
A Campainha toca. TzééééééééééééééH!! TzééééééééééééééH!!
– Só pode
ser pegadinha…
Caminho até o portão de entrada, lá está o
cara de cu do Ernesto sorrindo. Seu carro está com as portas abertas. Duas
maluquinhas, morenas com pinta de safadeza aguda revezavam um cigarro no banco de
trás. Uma era mais gordinha, cara de índia. A outra tinha um corpinho bonito,
na primeira olhada, porém o rosto me pareceu menos atrativo.
– Olha ele aí! Esse é o cara que eu falei pra
vocês! O homem invisível! O pica!
– Que nada, Ernesto. Boa tarde, senhoritas.
Elas responderam num corinho cheio de caras e
bocas.
– Então, cuzão, vamos encher a cara e curtir
um som lá no meu apartamento. Você vem?
– Cuzão é teu pai. E eu não sei se posso
acompanhar vocês… Tenho que terminar a minha coluna.
– Ninguém lê aquela porra!
– Ernesto, você é um cara que às vezes merece
apanhar. Mas eu gosto de você mesmo assim.
– Vamos com a gente, meu amigo!
– É barbudo, vem com a gente. – Disse a índia
gordinha. – A minha amiga quer aprender a escrever.
– O quê?
– Poesia.
– Bem, o primeiro passo então é chupar um poeta.
– Ah é? Você já fez isso, por acaso?
– Não. Mas o Ernesto aqui já fez e agora está poetando direitinho.
– Vá se foder, Pitz! – Esbravejou ele. – Vamos
logo! Mais tarde você escreve essa porra.
– É mesmo, ta parecendo um velho! – A gordinha
pelo visto seria a voz das duas.
– Que seja. Esperem aí que eu já volto.
Os três aplaudiram. Peguei minha carteira,
coloquei a calça e os sapatos, e lá fui eu para mais uma aventura de sexta feira.
– Será que eu termino a história dos cachorros
antes de virar o sábado?
– Pensei, enquanto a gorda falava que nunca na vida viu o
caralho de um escritor.