A sexta vez que escapei da morte

POSTADO POR: admin ter, 03 de abril de 2012

Sabe quando o herói do filme está prestes a morrer? Puxa o ouvido de alguém pra perto de sua boca e solta uma frase linda e profunda que emociona a todos e perdoa os que o fizeram mal. Baboseira! Falo com propriedade no assunto, já passei perto de morrer seis vezes. Seis vezes! E em nenhuma delas eu pensei em algo bom. Nenhuma! Na primeira vez pensei “Não é justo morrer com um tiro de um assaltante torcedor do Santa Cruz”. Na segunda eu jurei que nunca mais faria uma piada racista em voz alta. Na quarta eu entendi que não se deve falar mais que necessário quando alguém aponta uma arma pra você. A terceira e a quinta eu não devo mencionar. E na sexta… deixa eu contar a sexta com um pouco mais de detalhes.

Eu estava saindo de uma agencia bancaria às margens da br-101 de uma sexta-feira. O trafégo era intenso e o sol castiva Recife com a brutalidade de sempre. Eu fiquei lá esperando para atravessar a via, uma brecha que teimava em não vir. Tenho a clara impressão que minutos se passaram antes que eu me desse conta de que teria que atravessar a pista correndo. Analisei bem o movimento dos veículos e no momento propícios me desembestei à correr para aproveitar os segundos de estrada livre que tinha.
Até aí tudo bem, estou correndo com frequência, perdi peso e o tempo era mais que suficiente para atravessar uma via com três faixas em segurança. O problema é que eu perdi peso demais para andar por aí sem cinto e o Destino não me perdoa, o bicho bota pra torar em mim, basta que eu de um vacilo para que ele chegue junto e faça alguma merda acontecer. Dessa vez, Ele fez com que as minha calças descessem um pouquinho, o suficiente para que eu perdesse um pouco da liberdade de movimento das pernas. Esse pouco foi suficiente para que a minha perna direita não conseguisse levar o meu pé ao topo da calçada. Provavelmente foi a maior topada de todos os tempo. Assim que meu pé se chocou contra o maldito meio-fio, meu corpo entrou em colapso e perdeu o rumo. Parte de mim tentava sair da pista, outra parte tentava achar o chão e os meu olhos tomaram vida própria e encontraram os olhos do motorista de uma Kombi mais velha que a fome. Fui tomado pelo desespero, mas sei lá como, consegui me jogar para a calçada. 
Enquanto caia pra frente minha mão travou segurando um boleto já pago e nem por um casal de caralhos consegui abri-la. Alguns chamam esse ato de travar a mão durante a queda de “reflexo de bêbo”, irei chama-lo de reflexo idiota que custou a pelo dos meus dedos. 
Foi uma queda feia, mas não foi o pior de tudo. Afinal, depois da queda o coice veio na forma de um grito disparado pelo motorista da Kombi “levanta pra cair de novo”.
Foi neste momento que eu descobri outro reflexo, um bem mais inteligente e rápido. Meio que sem perceber disparei um grito tão alto quanto se pode gritar pro motorista da Kombi. Gritei “Vai tomar no c*, preto fídirapariga”. Poucas vezes me senti tão feliz em ser preto.