Se for ‘politicamente’, não pode ser correto

POSTADO POR: admin sáb, 08 de março de 2014

A mágica de inverter valores e criar barreiras intelectuais
Meus caros malditos, eu já estou no limite com essa coisa toda do politicamente correto. Pois o correto é o correto, e o político é o político (e na política quase nada é correto).  
Não é difícil notar que boa parte das pessoas, de um tempo pra cá, resolveu apelar ao júri das ruas como em tempos longínquos, em praças de execuções armadas unicamente para julgamentos idiotas e sumários. E é claro que a tal onda do político (pois, repito, o correto não se mistura ao político) cairia também sobre a literatura, inclusive – infelizmente – sobre a ficção.
Antes de tudo é necessário dizer que o escritor pode e deve gozar de toda a liberdade possível para criar seus mundos e personagens de ficção. Não é uma coisa nova isso que eu estou dizendo aqui. A ficção tem o direito de ser livre, desde o momento em que se apresenta como plataforma paralela (muitas vezes por antítese, outras não) da realidade vigente que nos oprime. E no mundo ficcional tudo pode acontecer, pois é assim que somos apresentados aos piores e melhores lados da raça humana. É através da fantasia de alguns que muitos outros conseguem visualizar situações que, até então, passariam despercebidas, ou nem sequer seriam cogitadas em seus pensamentos mais comuns. 
Quando a sociedade conspira contra a livre criação do artista, conspira contra ela mesma em sua essência livre, democrática, evolucional e racional.
Ser um intelectual correto, na trilha mais simples da definição é ter disciplina própria para criar pensamentos e ideias sem faltar com respeito ou corromper o pensamento do outro (respeitando raras exceções). Ser correto é seguir em paz, firme, respeitador da lógica, ciente de seu papel social e de seu papel humano. Íntegro com as leis constitucionais do real estado democrático e com a ordem. 
Mas ser correto também é viver e deixar viver, baixar o dedo e baixar as armas. Ser correto é não cuspir no prato que o alimenta pelo simples prazer ignóbil de ver a cor do próprio escarro! Ser correto é ser gente, gente boa, gente sem retoques, coisa de verdade que se vê e que se sente. Pessoas de bem… E que buscam o seu bem estar sem macular o bem estar do outro.
Enfim, já falei demais e o meu lance aqui é outro. Gosto de brincar com a desgraça enquanto escrevo, não de me manter desgraçado escrevendo. Portanto, deixemos o político de lado, para dar voz ao correto – que é correto por ser livre e humilde na raiz e não é político.
Deixem o artista criar em paz. Afastem-se da ficção. Afastem-se de nós.