Saiba as desvantagens de casar-se com um Gênio (segundo os Diários de Sofia Tolstói)

POSTADO POR: admin sex, 01 de maio de 2015

É possível ser um gênio e ser uma boa pessoa ao mesmo tempo? Vamos descobrir ao decorrer desse texto que NÃO. Por isso deve se pensar duas vezes antes de se casar com alguém com uma mente brilhante. Especialmente se for um artista. E principalmente se for alguém cujo o trabalho você admire.
Quando lemos os diários de Liev Tolstói por exemplo, fica a agradável sensação de que ele era um homem cativante. Imperfeito, com certeza. Porém, alguém que sempre buscava ser uma pessoa melhor. Escrevia listas e mais listas de boas intenções que nunca cometeu (afinal, a vontade é fraca), elaborava projetos grandiosos para tornar o mundo mais adequado e definia inúmeras metas pessoais.
Mas a nossa referência muda drasticamente quando lemos os diários de Sofia Tolstói, sua esposa. Eles se casaram em 1868, quando ele tinha 34 anos e ela apenas 18. Ficaram juntos por 48 anos, período que tiveram 13 filhos (dos quais apenas 8 atingiram a idade adulta). Com certeza ela se envolveu profundamente com o trabalho de Liev, sendo encarregada das finanças e do marketing do escritor, além de ter sido copista de grande parte da sua obra. No entanto, no campo sentimental, as coisas não iam tão bem. Embora fascinada pela figura mítica do escritor, logo ela começou a sentir-se sozinha e muito frustrada pelas exigências e mudanças de humor do Liev. Nos últimos anos o casamento dos Tolstói foi de mal a pior depois que ele decidiu doar todos os seus bens para a humanidade e deixar a família na mais completa miséria. Ainda assim, ao longo do seu diário são frequentes as suas declarações de amor pelo marido.
Lendo o diário de Sofia descobrimos algumas indicações de que estar casada com um gênio como Liev Tolstói pode ser um verdadeiro tormento,… Entre eles:
1. Descobrir todos os vícios de solteiro do seu marido na hora errada.
Na véspera do seu casamento, obcecado com a honestidade, Liev obrigou Sofia a ler todos os seus diários íntimos no qual ele descrevia em detalhe suas experiencias sexuais, suas bebedeiras e até um caso bizarro em que narra ter violado uma empregada com quem teve um filho. Tudo isso considerando que Sofia era uma jovem menina de 18 anos que pouco sabia da vida. Assim, ela mesmo veio a escrever mais tarde: “Todo o passado do meu marido parece tão terrível. Eu acho que nunca vou me acostumar com isso. Talvez, quando eu tiver outros objetivos, quando as crianças nascerem, então a minha vida estará finalmente completa e eu poderei encontrar neles a pureza sem passado, sem horrores, sem tudo o que agora me causa tanta amargura do meu marido”.
2. Ter que se adaptar a sua crescente lista de exigências e valores morais.
Poucas coisas agradavam mais Liev Tolstói quanto ponderar entre o bem e o mal, mas como ele mesmo tinha dificuldade em seguir as suas próprias normas, não hesitava em acusar Sophia quando ela não fazia algo que determinava. Sendo assim, ele a obrigava a amamentar o filho, mesmo ela sofrendo de mastite: “Que tipo de monstro não amamentaria seu próprio filho!- me disse ele. E quem pensaria de outra forma? Mas o que posso fazer contra uma impossibilidade física? Eu sinto que ele está sendo injusto. Porque volta a me torturar de novo, e de novo, e de novo?”.
3. Estar sempre atenta as suas mudanças de humor.
Não podemos ser injusto com Tolstói, ele também gostava de Sofia e até demonstrava o seu amor, mas ela nunca sabia quando ele poderia (novamente) estar de mau humor. Liev e Sofia liam mutuamente os seus diários (ele o dela, ela o dele, pelo menos nos primeiros anos de casados), e diversas vezes podia se ler trechos onde o escritor sentia-se culpado. Após uma briga entre eles, ele escreveu em seu diário: “Eu fui rude e cruel, e logo com quem? A pessoa que me deu a maior felicidade da minha vida, e a única que eu amo. Sofia, eu sei que isso não é coisa que se esqueça, não se perdoa, mas eu me conheço bem e admito toda a minha maldade. Minha querida, eu sou culpado porque sou ruim, mas dentro de mim há um homem bom, por enquanto, ainda a espretia para amá-la sem censura”. Logo abaixo ela acrescenta: “Foi L. quem me escreveu isto pedindo desculpas. Mas logo depois ele ficou com raiva novamente, não sei porque eu acredito nisso tudo”.
4. Viver a sua vida por ele.
Isso não é realmente culpa do Tolstói, mas do conceito da época. Sofia pensava em Liev noite e dia , dia e noite, e ela mesmo acaba sendo apenas uma coadjuvante nas histórias do seu próprio diário. Além disso, ela era responsável por gerenciar todo o trabalho do marido, sem ganhar qualquer reconhecimento por parte dele, nem mesmo quando ela conseguiu permissão junto ao Czar para publicar ‘A Sonata a Kreutzer’ dentro de um volume de obras completas: “Eu estava feliz por estar novamente em casa, mas L. ficou muito chateado com a minha viagem, e a conversa com o Czar. Segundo ele, podemos ter firmado algo que não podermos sustentar com o Czar, no entanto, no passado ele e o soberano ignoravam um ao outro.”
Da mesma forma, a primeira transcrição de uma obra-prima pode ser considerada um sonho, mas uma décima transcrição dessa mesma obra pode começar a ficar cansativo: “Eu me lembro em como ele esperava ansiosamente pelo término do meu trabalho, e como eu corria para transcrevê-lo. E ele sempre encontrava novas alterações a serem feitas. Mas na décima transcrição, não havia mais nada o que escrever. Isso está me matando. Eu preciso começar a fazer alguma coisa por mim se eu não quiser machucar a minha alma gravemente.”

5. Vai te deixar sem nada e ainda permitirá que falem mal de você.
Nos últimos anos de vida de Tolstói, sua casa estava lotada de objetos especiais que distanciavam a esposa do escritor, então ele a acusava de burguesa, egoísta, manipuladora e de cortar as asas de um gênio (imagem que ele perpetua até hoje). A péssima relação com o marido tornava Sofia ciumenta e paranóica.
O casamento dos Tolstói foi uma luta contínua pelo dinheiro até o fim dos seus dias, devido aos delírios messiânicos de Liev em compartilhar tudo com os pobres, deixando um grande legado para a humanidade e nada para a sua família.

Liev e Sofia Tolstói
Obviamente todo relacionamento tem seus dois lados, e, no final da sua vida, Sofia não deve ter sido uma companhia muito agradável com seus ciúmes mórbidos e constantes ameaças de suicídio. Mas parece que após a morte do escritor, ela acabou recuperando sua lucidez e parou de sofrer com crises histéricas.

Esta é uma visão extraída da biografia de Sofia Tolstói construída por Alexandra Popoff. Para maiores detalhes desta e de muitas outras histórias com a participação fundamental de grandes mulheres na formação da literatura russa, sugiro a leitura do livro As Esposas: As Mulheres Nos Bastidores da Vida e da obra de Prodígios da Literatura Russa”, da mesma autora (Editora Amarilys
Do tempo dos czares, em que surgiram os grandes romances de Dostoiévski e Tolstói, à era soviética que motivou o exílio de Nabokov e a ruína de Mandelstam, Bulgakóv e Soljenítsin, esposas de grandes escritores russos – imensamente talentosas, incrivelmente dedicadas – tiveram um papel central na criação, divulgação e preservação de clássicos da literatura. Sem o apoio delas, algumas obras-primas sequer chegariam a ser escritas; outras, tolhidas pela censura política, jamais teriam chegado até nós. 
Essas histórias de heroísmo e sacrifício, muitas vezes esquecidas, são trazidas à tona por Alexandra Popoff nesta obra, uma verdadeira história particular da literatura russa moderna.