Ritual de passagem para o macho moderno

POSTADO POR: admin ter, 18 de outubro de 2011

Nasci pra ser excluído, fazer parte da minoria em
tudo. Pra começo de conversa já nasci preto, pobre e nordestino. O que me
coloca em quase todas as piadas de mau gosto feitas no território nacional.
Ainda na minha infância ficou bem claro que eu não era muito convencional. Acho
que eu era a única criança roqueira da sala e logo na primeira aula de educação
física eu decidi que seria goleiro por pura vontade e não inaptidão
futebolística como geralmente acontece. 
Enquanto os rapazes da minha idade experimentavam a
cerveja, eu me dava bem com o vinho. E quando eles foram pra o uísque, me casei
com a cerveja. Sempre contra a corrente, sempre o diferente.
Apesar de ser um cara tão do contra, sempre houve
algo em mim que eu acreditava estar de acordo com o que a sociedade julgava
como normal: minha orientação sexual. Mas a verdade é que não tenho mais
certeza se hoje em dia é mais comum ser hétero, gay ou algo no meio do caminho. 
Na maioria das vezes é muito complicado distinguir
quem é gay ou não apenas olhando. Vez ou outra, algum indivíduo assume sua
orientação verbalmente ou a demonstra ouvindo Lady Gaga, depilando
o corpo, tatuando estrelinhas, se pintando ou usando franjinhas. Mas também
existem aqueles caras que são casado, tem filhos, falam grosso e de uma hora
pra outra aparecem com um namorado de longa data chamado “Jorge”. Provavelmente
não seria uma tarefa fácil para o pessoal do Censo catalogar a orientação
sexual do povo brasileiro. Acho que só existe uma forma de saber se a minha
orientação sexual ainda é prevalecente ou é minoria, submeter todo mundo a um
teste de orientação sexual!
Algumas culturas têm uns rituais escrotos que
servem para marcar a transição entre a juventude e a vida adulta. Um bom exemplo
é a tribo dos Maués que lá no meio da Amazônia submetem os
adolescentes à prova das formigas tucandeiras, que consiste em o cabra meter
as mãos numa luva cheia de formigas infernais por 15 minutos. Acham que se o
cara conseguir passar por isso sem chorar, ele já é um adulto.
Proponho um tipo diferente de ritual. Um capaz de
identificar se o cara é hétero ou não. Seria fortemente baseado em um princípio
do Manual do Guerreiro que diz que “macho que é
macho come até mulher feia, porque as bonitas é tão bom de pegar que as
próprias mulheres pegam”
. O ritual se daria no auge da fase da bronha,
logo depois do surgimento das primeiras espinhas e o tempo de banho alcançar
meia hora. Seria coordenado pelo pai (ou figura paterna) e teria o
consentimento da mãe. 
Todos deveriam estar de acordo que o resultado do
ritual não influenciaria no amor deles pelo punheteiro em questão. O rapaz
seria encaminhado pelos homens para o local do ritual, o puteiro recheado das
putas mais derrubadas da cidade, onde tudo estaria preparado para a grande
noite. Chegando lá, a puta mais feia e deplorável do lugar subiria no altar
-cama- e o rapaz a acompanharia, fechando a cortina em sua passagem. Neste
momento todos os homens do recinto entoariam canções de apoio como “na boquinha
da garrafa” e a “a posição da rã” até o rapaz abrisse a cortina. Se o rapaz
saísse de lá de dentro com uma camisinha usada, todo mundo gritaria em euforia
e daquele momento em diante, o rapaz deveria ser considerado Macho. Caso
contrário, todos diriam OK, entenderiam na maior naturalidade e o rapaz não
precisaria mais disfarçar nada.
Claro que existiriam heróis, aqueles que encarariam
a ‘moça’ repetidas vezes. E também os brochas, nesses casos especiais seria
formada uma comissão com os machos mais experientes para bolar o teste
personalizado. Quero nem pensar como seriam estes teste.
twitter @negodobroz