Reencontrando velhos amigos .2
04 de janeiro de 2011
A chuva que caiu sem aviso prévio me obrigou a procurar abrigo embaixo da marquise de uma loja que usava uma dessas irritantes músicas sertanejas para atrair a clientela. Não sei como eles achavam que isso funcionaria.
Eu estava no centro daquela terrível cidade, seria questão de tempo até que topasse com algum velho conhecido e fosse forçado a entrar em mais um desses diálogos nostálgicos.
Coisas do tipo:
-Nossa! Faz tempo que não te vejo. Não está morando mais aqui?
-Graças aos deuses, não mais. Consegui a condicional desse lugar!
-Graças aos deuses, não mais. Consegui a condicional desse lugar!
-Hehehe. Sempre o mesmo! Tá trabalhando com o que?
-O mesmo de sempre, arrancando dinheiro de onde menos se espera.
O mal já estava feito. Alguém que ainda vivia em algum lugar do meu passado me encontrara e queria colocar todos aqueles anos de falta de contato em dia. Eu estava cercado, a chuva não me dava muitas opções de fuga, independente de onde eu forjasse precisar ir, provavelmente meu fardo me acompanharia. O jeito era ficar e encarar.
-Eu to casado, você tá sabendo né?
-Me falaram por alto, mas eu não prestei muita atenção,…já tem filhos?
-Tenho pô! Dois. Um casal.
-Tudo desse casamento?
-Não! De mães diferentes.
O sorriso que veio na seqüência dessa última frase queria demonstrar orgulho e satisfação, mas era visível o tom amarelado que ele trazia por trás dessa fachada.
Ele sacou o celular do bolso e mostrou uma foto com as crianças que estava sendo usada como papel de parede no aparelho. Essas horas sempre são um tanto quanto embaraçosas pra mim.
-Olha aqui meus filhos!
-Hum, o moleque é a sua cara, mas a menina não tem nada a ver com você,… sorte dela! Parece com a mãe pelo menos? – O que mais queriam que eu dissesse?
-Poxa, você sabe quem é a mãe. É a Jaqueline, aquela morena que todo mundo pegava na época, inclusive você também deu uns ‘pegas’ nela. Lembrou?
-Ah sim, a Jaqueline… lembro dela agora.
Sério, o que mais esperavam que eu dissesse?
