Razão, a bela que todos desejam possuir
Você pode ver uma parte da vida nas redes sociais, na TV, no jornal… Você enxerga as opiniões impensadas de milhares, a necessidade de serem aplaudidos e observados, os mestres autoproclamados em seus sonetos sulfúricos.
Observa, claramente, a infinita necessidade dos homens que sabem pouco, ávidos por ensinar outros homens a viver do pouco que sabem. Pergunto a mim mesmo: o que vale mais, a morte real e anônima ou a eternidade da mentira? Deitado em uma poça de lama, bebendo meu vinho ordinário, abraçado a um pombo correio (pobre assustado) resolvo escrever a mensagem:
– Eu tentei. Não façam o mesmo.
– A internet é o ambiente perfeito.
– Máscara digital.
– Exatamente! Todo mundo é filósofo, agora! Todo mundo sabe tudo!
– Já me encheu o saco.
– O meu também!
Eu não fui só uma vida, diz a tela do outro, eu fui uma vida melhor do que a sua.
Eu fui um dia de verão daqueles que nem seus sonhos poderiam oferecer. Veja as fotos! Veja a brisa solar que acariciou meu rosto, e a delicada expressão de prazer da minha namorada gostosa quando tocada entre as penas por meus dedos elétricos, grossos e experientes.
Minha cabeça trabalhou melhor que a sua, bastardo, pois eu pensei coisas comuns e ensinei pessoas a pensarem sobre coisas comuns e venci você. Vejam as fotos!
Este é Billy, meu cavalo, este é Sillas, meu Honda! Este é meu templo e este é meu prostíbulo. Minhas histórias seguem os caminhos conhecidos por todos; minhas mãos não planejam com o abstrato; tudo é concreto, como as paredes protetoras de minha enorme casa, as paredes gloriosas que me fazem querer você, leitor, tal qual uma porcelana chinesa na sala de estar, uma menção honrosa emoldurada na parede do escritório, um sapato no armário. Meu passaporte para a eternidade.
Razão, bela que todos desejam. Sabedoria? Sonho antigo do maior dos tolos.
Felicidade? A verdadeira, infinita? Não procure em fotos ou frases de efeito. Procure no último lampejo de um pesadelo escrito por anjos, ou na incerteza do seu próprio futuro.