Quando um homem tenta dizer NÃO!
Eu devia ter desconfiado. Aquele gingado, aquele passo arrastado,
aquele olhar vidrado, todos os sinais indicavam que eu estava prestes a ser
abordado. Ela já me cercava há quase meia hora, enquanto dançava, corria a
língua pelos lábios e fingia girar um gelo imaginário no copo de plástico cheio
de cerveja. Foi como em um clássico do cinema de baixo orçamento, onde o
cenário era um desses clubes cafonas de cidade pequena que disfarçam o fato de
ser o mesmo lugar que seus pais frequentavam há décadas atrás com o que há de mais moderno em
questão de jogo de luz. Todo esse aparato incandescente aliado a um som estridente
em um local de péssima acústica torna o ambiente propenso à perda temporária de
alguns sentidos ou possíveis ataques epiléticos. Eu estava à beira do segundo.
aquele olhar vidrado, todos os sinais indicavam que eu estava prestes a ser
abordado. Ela já me cercava há quase meia hora, enquanto dançava, corria a
língua pelos lábios e fingia girar um gelo imaginário no copo de plástico cheio
de cerveja. Foi como em um clássico do cinema de baixo orçamento, onde o
cenário era um desses clubes cafonas de cidade pequena que disfarçam o fato de
ser o mesmo lugar que seus pais frequentavam há décadas atrás com o que há de mais moderno em
questão de jogo de luz. Todo esse aparato incandescente aliado a um som estridente
em um local de péssima acústica torna o ambiente propenso à perda temporária de
alguns sentidos ou possíveis ataques epiléticos. Eu estava à beira do segundo.
Ela colocou a mão no meu peito e com três fáceis passos me fez
caminhar para trás feito um caranguejo em uma dança ensaiada, o que acabou me encurralando entre a parede e o balcão do bar. Daquela distancia, nem todas as luzes
coloridas, strobos e nem mesmo a escuridão daquele canto onde fui acuado, me
impediriam de notar que aqueles olhos azuis eram grosseiras lentes de contato. O
olhar vidrado me foi explicado, e agora era eu que não conseguia parar de olhar
para aquele truque feminino. Situação incomoda.
caminhar para trás feito um caranguejo em uma dança ensaiada, o que acabou me encurralando entre a parede e o balcão do bar. Daquela distancia, nem todas as luzes
coloridas, strobos e nem mesmo a escuridão daquele canto onde fui acuado, me
impediriam de notar que aqueles olhos azuis eram grosseiras lentes de contato. O
olhar vidrado me foi explicado, e agora era eu que não conseguia parar de olhar
para aquele truque feminino. Situação incomoda.
Não tinha como escapar.
Iniciamos uma ‘guerra fria’ usando gestos e expressões como armas,
atacando e se defendendo como pudemos.
Iniciamos uma ‘guerra fria’ usando gestos e expressões como armas,
atacando e se defendendo como pudemos.
Ela exibiu um sorriso e eu achei prudente devolver a gentileza.
Balançou a cabeça para esquerda, para a direita, e eu acompanhei seus
movimentos na esperança de encontrar uma brecha para uma possível rota de fuga.
movimentos na esperança de encontrar uma brecha para uma possível rota de fuga.
Foi ela quem quebrou o acordo de paz e se lançou em minha direção.
Nitidamente cansada de se insinuar, resolveu partir para o tudo ou nada, certa
de que possuía todos os atributos necessários para me ter.
Nitidamente cansada de se insinuar, resolveu partir para o tudo ou nada, certa
de que possuía todos os atributos necessários para me ter.
Bloqueado pela parede e sem espaço para um recuo estratégico, ergui a
mão, como quem pede trégua, bloqueei seu beijo e suspendi seu fogo.
mão, como quem pede trégua, bloqueei seu beijo e suspendi seu fogo.
Novamente foi ela quem fez as palavras necessárias, para mim, o silencio bem poderia evitar mais uma situação incomoda.
-Você não quer ficar comigo?
-Bem,… não.
Achei que valia a pena tentar mais um sorriso, mas dessa vez não recebi a mesma
gentileza em troca.
gentileza em troca.
-Como assim você não vai ficar comigo?
-Escuta, deixa eu te explicar…
-Eu não to acreditando no que eu to ouvindo. Você tem coragem de dizer
na minha cara, que não vai ficar comigo,… É isso?
na minha cara, que não vai ficar comigo,… É isso?
-E de que outra forma seria?
-Você é gay?! Olha, por que se for,…Pode falar! Na boa, eu vou
entender.
entender.
-Gay!? Não! Jamais! De onde você tirou isso?
-É o único motivo que te impediria de ficar comigo.
-O único motivo? Já passou pela sua cabeça que eu posso ser
comprometido?
comprometido?
-Hum,.., nada de aliança nos dedos, então podemos descartar casado e
noivo. Então sobra namorada, o que também não é motivo para não ficarmos. Só
resta você ser gay.
noivo. Então sobra namorada, o que também não é motivo para não ficarmos. Só
resta você ser gay.
-Ok, eu não sou comprometido…
-Entendi,…
-Mas também não sou gay!
-Tudo bem, então prova gatinho. – mal terminou a frase e juntou os lábios se lançando em uma nova investida, novamente bloqueada pela palma da minha mão.
-Escuta garoto, eu já falei com a Pri, a Cá, a Lu e a Isa que nós íamos ficar, eu não posso te arrastar assim pra um canto e simplesmente voltar rejeitada. Com que cara eu vou ficar? Façamos o seguinte, a gente se beija, dançamos juntos umas três músicas, damos uma volta até o bar para sermos vistos, você me paga uma bebida e depois eu faço um showzinho qualquer dizendo que você é um cretino por ter olhado pra bunda de alguma das minhas amigas periguetes. Aí você fica livre pra sumir,… certo?
-E se eu não concordar com esse seu roteiro doentio?
-Eu faço um escândalo.
-E se eu não concordar com esse seu roteiro doentio?
-Eu faço um escândalo.
Nesse momento me questionei se não teria
sido mais fácil ter confirmado que eu era gay quando tive a chance.
sido mais fácil ter confirmado que eu era gay quando tive a chance.