Quando o som do Rock in Rio bateu nas portas do Paraíso

POSTADO POR: admin qui, 19 de setembro de 2013

Assim que os primeiros acordes deram início ao Rock in Rio, o som invadiu a cidade e alcançou o céu, toda a constelação de estrelas do Rock reuniu-se em uma nuvem carregada para apreciar o espetáculo. Estavam animados com a chance de dar uma pausa nas irritantes harpas celestiais que compunham o som ambiente do paraíso.

Todos se acomodavam para assistir o evento enquanto tentavam acomodar seus próprios egos. Freddie Mercury não parava de se gabar do quanto tinha sido incrível a sua apresentação na primeira edição, enquanto Renato Russo ranhetava que nunca tocou no evento porque não quis, por princípios, porque convites não faltaram. Janis Joplin se servia de uma bebida e não parava de falar que aquilo era nada perto do que foi o nostálgico Woodstock, comentário ignorado por Raul Seixas que tentava explicar para John Lennon as complicações da doença que não permitiu que o evento tivesse o prazer da sua presença na década de oitenta.

Durante a apresentação da Orquestra Sinfônica Brasileira, parecia que apenas Jimi Hendrix prestava atenção no palco, o resto se distraía com conversas aleatórias. Até ser anunciado o que seria um show em tributo ao poeta Cazuza, também presente no local. 
O grupo fez silencio e assistiu a tudo com entusiasmo. Mas após presenciarem uma exibição capenga da obra do artista homenageado, o constrangimento era indisfarçável entre os presentes. Ainda assim, todos deram um parabéns reconfortante a Cazuza enquanto começava o show da Ivete Sangalo, e o Jim Morrison mudava a nuvem de posição, mirando na direção do Palco Sunset onde Maria Rita se apresentava.
Somente Cássia Eller reparou quando o poeta, meio cabisbaixo, se afastou do grupo na surdina. Ela o acompanhou quase até a entrada do céu, onde encontrou Cazuza sentado em uma nimbus isolada cuspindo lá embaixo enquanto acompanhava a saliva secar antes de cair em nossas cabeças.
Sentindo o clima ‘down’ do amigo, ela chegou tentando animá-lo.
– O que houve Caju?! Não gostou da homenagem?
– Oi Cassinha. Gostei,…Eu acho. Bem, mais ou menos.
– Que isso meu amigo. Não está feliz deles lembrarem da sua obra?
– Será que lembram mesmo, Cássia? Eles abriram com ‘Vida Louca Vida’, e essa música nem é minha. Tem sentido isso?
– Isso é verdade…
– E convidaram o Miklos pra cantar. Assim, nada contra ele. Mas nunca fomos sequer parceiros de composição. Se faziam tanta questão de incluir essa música no repertório, porque não chamar o ‘Lobãothinho’, que é meu amigo, parceiro, e um dos autores da canção?
– Cazuza, você sabe como são essas coisas…
– A Bebel tava linda. O Ney, ótimo como sempre. O Barão é de praste, não pode faltar. Aqueles meninos de Minas não foram bons, mas também não estragaram as canções. Mas aquela ‘machinho’ que se complicava com o timbre da guitarra foi triste de ver. Aquela menina ainda tem que lamber muito carpete pra chegar no seu nível Cássia! Mas será que não dava pra eles terem chamado a Rita Lee? Ou a Pitty pelo menos? Porra! Pelo menos a minha comadre Sandra de Sá! 
– Poxa Cazuza, também não é tão ruim assim. Eu já tenho mais de dez anos de Rock in Rio e sequer fui citada nessa edição. O Chorão tá lá, putaço que morreu quase agora e nem assim conseguiu entrar no evento. Você ganhou um show inteiro em sua homenagem e tá aí reclamando.
– Isso acontece porque morri em consequência de uma doença. Isso parece que causa um certo sentimento de pena no brasileiro, o que faz com que eles revirem tanto na minha cova. E eu acho isso uma merda! Homenagem por pena, entende? Não presta! A prova disso é que não tiveram um mínimo de cuidado com a escolha das músicas e nem das pessoas.
– Bem,… Melhor deixar esses grilos pra lá, Caju. Vamos voltar pro pessoal que o show da Beyonce já deve estar começando, e eu sou louca nas pernas daquela mulata.
– Tudo bem,… talvez você esteja certa. Vamos voltar. Quem sabe esse último show salve o dia.
– Escuta. Já tá dando pra ouvir a música dela daqui!
Ahhhhhh Lelek Lek Lek Lek Lek Lek Lek!!!

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– Eu sou roqueiro e carioca, e o Rock in Rio não me representa.