Porque nós adoramos os Lannister, e outros personagens de caráter duvidoso

POSTADO POR: admin qui, 09 de abril de 2015

O deslumbre de estréia da próxima temporada de Game of Thrones já está bem próxima, diferente da continuação dos livros que ainda está sem data de lançamento prevista, e os fãs estão ansiosos por este retorno ao mundo de Westeros. É um mundo onde você pode morrer envenenado por um parente, devorado por um demônio de sombra, de fome, queimado pelo sopro de um Dragão, mas ainda assim, um lugar que nos fascina.

Além da áspera intriga política dos sete reinos, a série ganhou grande notoriedade através do seu elenco de personagens dúbios e caráter duvidosos. E é evidente que nenhuma outra família demonstra tanta afinidade com essa moralidade quanto os Lannisters. Eles foram apresentados como ‘vilões’ no início da saga, mas de alguma forma, apesar de serem desprezíveis, vários personagens Lannister tornaram-se favoritos de grande parte do público.
E é por isso que resolvemos explorar essa premissa, e tentar descobrir o que tanto nos atrai nesses personagens de moral cinza.
Sua psicologia é complexa.
“Todo mundo que não é nós, é um inimigo.” 
– Cersei Lannister
Muitas vezes, os “mocinhos” usam a moralidade no lugar da psicologia. Eles fazem a coisa certa, simplesmente porque essa é a coisa certa a ser feita, e seus motivos basicamente param por aí. Da mesma forma, muitos “bandidos” fazem as coisas simplesmente porque eles são maus. Por outro lado, personagens ‘cinzas’ não podem fazer alusão à moralidade (ou uma completa falta dela) como justificativa para suas ações. Como personagens críveis, devem ser escritos com um grau de complexidade psicológica que muitas vezes falta nas pessoas que são limitadas apenas em bons ou maus.
Como resultado, nós podemos até não concordar com as suas decisões, mas sempre temos a oportunidade de compreender as suas motivações subjacentes. Cersei fornece um bom exemplo desse caso. Ela é facilmente um dos personagens mais odiosos da serie, mas muitas vezes o seu objetivo justifica suas escolhas. Ela está fadada a não herdar terras e títulos, foi obrigada a casar-se pelo benefício da família e ficou presa a um casamento em que era tratada com um completo descaso. Por fora ela leva vive o segredo de um amor verdadeiro (embora seja com seu irmão), e a sua maternidade irrevogável (mesmo que um de seus filhos seja pura maldade). Assim podemos entender a obsessão de Cersei com a proteção das suas crias, que representem os únicos elementos da sua vida que já foram verdadeiramente dela.

Se as suas escolhas passam a ser admiráveis por conta disso? É claro que não. Mas suas ações deixam de ser algo meramente ‘malvado’, e torna-se algo muito mais rico. Para evitar de ser meramente arbitrária, as motivações desse tipo de personagem encontra uma justificação em seu prazo de vida e na sua visão confusa de mundo, o que o torna mais verossímil e interessante.


Eles são menos previsíveis.
“Não há homens como eu. Somente eu.” 
– Jaime Lannister
Quando um personagem é impulsionado pela bondade moral (ou pura maldade), é fácil de ver sua possível gama de ações em qualquer situação. Mesmo escolhas ignóbeis estão sobre a mesa, e basicamente você sabe que o “bom rapaz” nunca lutará contra a tentação de fazer o bem. Já personagens cinzentos, por outro lado, são obrigados a surpreendê-lo.
Jaime Lannister é o grande exemplo desse caso. Ficou óbvio que deveríamos enxerga-lo como um vilão em sua primeira aparição quando jogou uma criança por uma janela. No entanto, ao longo da história, ele não cansa de nos surpreender. Cada parte do seu passado é problemática: Ele dormiu com a irmã, mas é um dos poucos homens na serie que tem sido fiel a uma única parceira romântica; ele quebrou o juramento e matou o rei que jurou proteger, mas ele o fez para salvar Porto Real e acabar com a tirania do rei louco; ele atirou Bran pela janela da torre, mas ele foi honesto sobre suas ações quando confrontado pela Senhora Stark. E então, nós temos esses períodos de oscilação.
Como resultado, o momento da decisão torna a cena mais atraente: Simplesmente não sabemos o que vai acontecer. Personagens que exibem este tipo de personalidade, naturalmente aumentam as apostas de qualquer situação, já que os leitores (ou espectadores) não podem prever o que vai acontecer.

Suas personalidades são mais desenvolvidas.
“Uma vez que você aceite suas falhas, ninguém poderá usá-las contra você.” 
– Tyrion Lannister
Personagens claramente identificados como ‘mocinhos’ ​​são mais fáceis de caírem na graça do público puramente baseado na bondade de suas ações. Mas o que dizer quando as ações de um personagens não são tão puras assim? Para tornar um personagem simpático nesta situação, é necessário que ele tenha uma personalidade atraente. 
Então, vamos recitar o óbvio: Tyrion é um dos personagens mais amados da serie, porque ele consegue ser engraçado. Sua sagacidade muitas vezes perfura o ego das pessoas, dizendo coisas que realmente sentimos de uma forma bem inteligente. Enquanto ele não pode ser carimbado como um tradicional “bom rapaz”, sua personalidade traz características que o torna mais carismático: inteligência, sagacidade, e empatia (especialmente para deficientes, bastardos e coisas quebradas).
Ao descrever um personagem com moral cinza, o autor precisa ser bem mais consciente sobre o desenvolvimento da sua personalidade. Mesmo deixando de lado todos os outros fatores que deixam ele mais convincente. Esta atenção extra rendida ao desenvolvimento dessas figuras, deixa tudo mais interessantes.
Eles desafiam nossa ética.
“Explique-me por que é mais nobre matar dez mil homens em uma batalha, 
do que uma dúzia durante o jantar.” 
– Tywin Lannister
Muitas vezes estes personagens fazem escolhas por razões que estão fora do nosso quadro ético. Nesse processo, eles baseiam as suas ações em seus próprios termos éticos ou racionais.
E aqui, vamos falar sobre Tywin Lannister. A psicologia de Tywin é fascinante: Ele viu seu pai (Lord Tytos) perder o poder. Maus investimentos, e uma tendência ao fracasso, fez dele motivo de chacota em todo o reino, até mesmo entre os seus vassalos. Para evitar que o mesmo ocorresse com ele, quando Tywin subiu ao poder tornou-se brutal. Mas não tem como negar que sua abordagem é no mínimo … eficaz.
Após o Casamento Vermelho, a discussão entre Tywin e Tyrion levanta algumas das questões morais mais complicadas da série. Assistimos a traição e brutalidade do Casamento Vermelho, e naturalmente reagimos com uma poderosa resposta emocional, mas será que podemos realmente dizer que matar “dez mil homens no campo de batalha” é melhor do que a “dúzia de mortes no jantar”? Ao desafiar nossa ética, personagens como Tywin nos forçam a pensar, concordando ou não com o resultado de suas ações.

Suas escolhas são mais significativas.
Loras: “Os heróis sempre serão lembrados. Os melhores.”. 
Jaime: “.. O melhor e o pior. E alguns que carregam um pouco de ambos”
Um dos momentos mais profundos dos livros ainda não foi explorado na serie da TV. Jaime Lannister retorna a Porto Real e toma o comando da Guarda do Rei. Quando ele consulta o livro que registra a vida daqueles que serviram na Guarda do Rei, ele vai até a página que descreve seus próprios atos, e descreve o seu passado: Ele matou o rei que jurou proteger… O resto da página está em branco.
Este momento “página em branco” mostra Jaime confrontando a realidade do seu futuro desconhecido. Quem ele escolherá ser? Será que vai buscar por redenção? Será que vai cumprir o seu juramento com Catelyn Stark? Será que vai continuar levando a vida imoral que os outros parecem esperar dele?
Estas perguntas sobre o futuro em branco são dilemas comuns dos seres humanos. Estar em um território moralmente cinza obriga os personagens a enfrentar ativamente estas realidades, ao invés de simplesmente ser colocado em uma posição de heroísmo ou vilania. Como resultado, suas escolhas são bem mais significativas.

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