Porque eu sou, sincero.

POSTADO POR: admin sex, 11 de janeiro de 2013

A
Arte de cometer sincericídio

Na semana
passada eu caí na asneira de perguntar ao amigo Montes se ele havia gostado do
meu livro.
– Detestei! É ‘sincericídio’ puro!
– Porra,
sincericídio?!
– Tudo que você
escreve ultimamente é sincericídio, principalmente aquela coluna.
– E qual o
problema?
– Os profissionais
não gostam de autores sem classe…
– Sem classe? Vá
tomar no seu rabo!
– Ééé… Eu ando sem classe mesmo.
– Está vendo?!
Entre amigos não tem problema, a questão é que você externa na literatura. Fica
feio demais.
– Montes, tu é
um boneco de porcelana. Não gostar da obra é uma coisa, mas esse papo de
sincericídio está ficando ruim de engolir.
– Não engula
nada, meu amigo. Os leões é que estão engolindo você com a língua afiada.
– Que leões? Que
língua afiada, cara?
– Você fica aqui
nesse pedaço de inferno escrevendo e bebendo, lendo esses livros amarelos, como
se fosse invisível. O problema é que 90% dos autores e editores te observam lá fora.
– Que falta do
que fazer, Montes… Vá cagar.
– É sério! Pare
de jogar suas verdades no ventilador, eles estão te enterrando nos bastidores.
– Bem, eu duvido
muito. Mas te agradeço pela informação. Vou cuidar melhor do meu sincericídio.
– E, por favor, não faça de
mim um personagem babaca.
– Jamais.

Montes é um tipo
de intelectual padrão, desses que a sociedade aceita para manter o equilíbrio
dos bons exemplos em dia. Quase um pedaço de picanha no açougue das letras,
pronto para o consumo imediato. E, além do mais, Montes esconde quem é de fato.
Para ele sinceridade é ‘sincericídio’. Verdades voando da boca são bombas caindo no
céu de Hanói. E seus livros, pobres mortais, são mais rasos e doloridos do que
um mergulho de cabeça em uma poça de lama… Talvez para escapar das profundezas
de seu reprimido ‘eu interior’.
– Tem que
explorar melhor seu potencial, Pitz… Vender melhor sua imagem para o público,
parar de escrever sobre vinhos, bobagens, pobreza… Eu posso te ajudar.
– É claro.
(Quando foi que sinceridade na hora de escrever virou sincericídio literário…? Preocupante.)