Perturbação Interna – O oitavo da fila

POSTADO POR: admin seg, 11 de março de 2013

O que fazer quando, do nada, você começa a receber e-mails com relatos sinistros de um desconhecido? Bom, eu resolvi publicar aqui no blog! 
Para isso eu criei essa sub-coluna intitulada ‘Perturbação Interna’ onde venho postando, para dividir com vocês, essas conturbadas palavras que insistem em chegar a minha caixa de entrada.
Eu faço algumas coisas que eu deveria me envergonhar, mas não sei porque, eu continuo fazendo. Eu me irrito muito com idosos.
Um conhecido meu tinha umas tias que eram até famosas na cidade, eram sete senhoras, idosas, solteironas, que viviam em uma casa grande e decadente, próxima da igreja. Na verdade, eram tias-avós dele.
Nos últimos 20 anos, a cada 3 ou 4 anos uma delas morria, até que, recentemente, fiquei sabendo que a penúltima delas tinha morrido, sobrando só uma na casa. Pelo mesmo facebook que recebi esta irrelevante informação, chegou também uma foto da sobrevivente, toda enfeitada para a missa, esse meu conhecido tinha batido a foto da velha no batizado da filha dele, e decidiu publicar a foto na internet.
Não sei que merda deu na minha cabeça, na hora eu achei engraçado, e publiquei um comentário sobre a foto: “Parabéns para a Dona Nanda! A ganhadora do Big Brother da Casa das Tias!”
Acho que o cara me bloqueou no facebook depois dessa, não estou vendo mais suas atualizações.
E teve também um dia que eu fui pagar um carnê do plano de saúde, e na minha frente, sendo atendido, estava um senhor bem idoso, tentando entender porque a moça tinha voltado troco para ele se ele tinha dado o valor correto.
A moça confirmou que o valor estava correto, mas ele insistiu que antes ele pagava mais de mensalidade. Então, ela perguntou:
– O senhor excluiu alguém do plano?
– Não, eu não. Eu não excluí ninguém…
A moça já se afastava para pegar o telefone quando o velhinho resmungou: – … é que ela morreu.
O velhinho não estava associando a morte ‘dela’, provavelmente sua esposa, com a exclusão de um membro do plano. Ou talvez, não quisesse assumir a exclusão dela do plano como sendo uma ordem dele. Percebi que levaria um bom tempo até a atendente identificar e explicar a situação. Aproveitei um silêncio dela no telefone e falei:
– Oi, enquanto você espera a resposta do pessoal aí, você pode receber a minha parcela?

Um pouco contrariada, ela recebeu o pagamento enquanto esperava o retorno da consulta telefônica. Nem olhei para ver se o velhinho gostou ou não. Mesmo se eu tentasse ajudar, dizendo que uma das pessoas do plano de saúde dele tinha morrido, o tempo que levaria para explicar a situação para ele seria o mesmo.
E enquanto eu saía do local, o canto da minha boca dava uma torcida involuntária, formando um sorriso, por mais que eu não me sentisse confortável com a situação e não quisesse aquela expressão em meu rosto.

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