Perturbação Interna – Noves Fora

POSTADO POR: admin qua, 03 de abril de 2013

O que fazer quando, do nada, você começa a receber e-mails com relatos sinistros de um desconhecido? Bom, eu resolvi publicar aqui no blog! 
Para isso eu criei essa sub-coluna intitulada ‘Perturbação Interna’ onde venho postando, para dividir com vocês, essas conturbadas palavras que insistem em chegar a minha caixa de entrada.
Acho que a única esperança que me mantem vivo é a possibilidade de matar muitos em um atentado suicida.
Eu já disse isso antes, mas não é pela vontade de matar, é pela intenção de fazer algo útil com minha morte.
Perdi todas as minhas esperanças. A esperança de conseguir mudar alguma coisa com minhas ideias, a esperança de conseguir algum reconhecimento pelo que faço, a esperança de ser feliz simplesmente por ter alimento e abrigo.
Tenho pena das esperanças que as pessoas têm. Bolhas de sabão, somem assim que são tocadas.
Uma vez, eu estava voltando de carona com um colega professor. O cara era muito triste, tentava fazer a coisa certa num lugar errado, já chegava na escola acabado, e saia ainda mais arrasado.
Conversa fiada no carro, típica de pessoas que só se conhecem do local de trabalho, mas em determinado momento, a expressão dele mudou, acho que foi a única vez que o vi feliz, ele estava dizendo que tinha apostado na loteria (quina, mega-sena, não me lembro qual delas), e que pensava em comprar um rancho de pesca com o prêmio.
Eu fiquei tão angustiado naquele momento, percebendo que a única felicidade dele era sonhar com o prêmio da loteria. A única motivação do cara era uma coisa que nunca iria acontecer. A vida do cara era perseguir a luz de um vagalume.
Continuei a conversa, falei um “que legal” e só. Deixei o cara com o sonho dele. Não discuto com maluco.
Outra coisa que não faço é discutir a religião de uma pessoa.
Não que eu não discuta religião, falo do assunto com amigos, sobre seus aspectos sociais e econômicos, mas não fico desconstruindo a religião de uma pessoa na frente dela.
A religião de uma pessoa é a ilusão que a conforta nas imprevisibilidades e inevitabilidades da vida. São ilusões mal feitas, remendos de religiões antigas e desacreditadas, negócios lucrativos para aqueles que organizam o show, mas eu não consigo oferecer uma ilusão melhor do que essa para esconder das pessoas a crueldade da vida.
Seu filho pode morrer de câncer, um puxa-saco pode abocanhar sua promoção na empresa, seu GPS pode te encaminhar para um tiroteio no meio de uma favela, e nada disso será obra de deuses ou de demônios.
Eu juro que eu gostaria de ter uma ilusão dessas, mas depois que você descobre que o Papai Noel não existe, não dá para acreditar nele novamente.
É ridículo, mas eu acho que não acontece só comigo, muitas das esperanças que eu tinha vinham de ficções. Eu me sentia empolgado em viver a vida de personagens de livros, HQs e filmes…
Minha empolgação era acompanhar vidas fictícias, viver em realidades alternativas, até que eu percebi a alegria que isso trazia para a minha vida.
Continuo apreciando essas obras, mas aquela esperança que elas traziam não funciona mais.
Ficar animado por assistir uma cena bem feita, ficar na expectativa pelo próximo episódio, ficar satisfeito por completar a coleção da obra… Tudo isso deixou de me trazer esperança quando percebi que eram apenas ilusões.

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