Perigosa volta pra casa.

POSTADO POR: admin dom, 05 de fevereiro de 2012

A
gente sabe que extrapolou todos os limites etílicos de uma noite quando enfiamos a
mão no bolso e só o que se sente são os dedos apalpando o vazio. Quando todo
seu dinheiro foi dedicado a causa nobre do álcool e se bebeu até o da passagem.
Sei que devem existir dezenas de formas para se resolver esse problema, até
acredito que você deve estar pensando em uma  nesse exato momento, mas apenas uma delas pode
ser executada sem nenhum tipo de ajuda de terceiros, e isso pode fazer muita
diferença quando se tem o orgulho abrilhantado pelo porre.
E
foi baseado em todos esses argumentos e por esses exatos motivos que eu saí de
um show, que por não me lembrar quem era o cantor concluo que não devia ter sido
muito bom, e encarei uma ousada jornada até a minha casa, a pé. Para se ter uma
idéia do tamanho da minha coragem, acabei de consultar o Google Maps para
precisar a distancia entre o local do evento e onde eu morava na época, são
exatos 8 km com a estimativa de uma hora e quarenta minutos de caminhada. Em um
cálculo particular eu acrescentaria mais meia hora ao percurso por estar sendo
feito com passos de bêbado.
Lancei-me
em caminhada. Teria que peregrinar por cerca de oito bairros cortando pelo
centro e passando por algumas ruas bem pouco acolhedoras. A madrugada já estava
tão alta quanto eu, também não me lembro a hora exata, nunca fui do tipo que
usa relógio. Talvez por isso mesmo que eu abusava tanto da sorte nesse tipo de
empreitada.
O
primeiro grande obstáculo a ser enfrentado seria uma ponte que unia os dois
primeiros bairros da minha saga. Pontes são cenários perfeitos para emboscadas.
Você pode ser facilmente cercado pelas pontas tendo como únicas opções um
confronto direto ou um salto olímpico no rio.
Bêbados
sabem que não são bons com saltos, mas sempre acham que se garantem em um
confronto direto.
Antes
mesmo que eu pudesse chegar até a ponte, me alertei sobre três figuras
sinistras que caminhavam alguns metros a minha frente. 
Eles fizeram o mesmo.
Ora
eles cochichavam, ora viravam suas cabeças para me encarar. O assunto do trio me
pareceu bem claro, certamente  decidiam
em qual parte da ponte seria mais divertido me ver pular. 
Por falar na bendita ponte, estávamos chegando bem próximos dela.
Retroceder
seria uma estupidez. Se por acaso eles não estivessem mal intencionados, o que eu
duvido muito, com certeza passariam a ter as piores das intenções quando me
vissem de repente voltar pela rua feito um covarde.
Eles
começaram a diminuir o ritmo dos passos. Naquela velocidade emparelhariam
comigo em poucos metros, coincidentemente bem na entrada da ponte.
Diante
da situação, fiz a única coisa que me pareceu realmente sensata.
-Ei
camaradas! Alguém aí tem fogo?! Dá pra acreditar que perdi meu isqueiro?! Vocês
fumam?
–Menti. Agindo por impulso abordei o trio antes que eles o fizessem.
Os
três pararam, viraram-se e me olharam espantados. Foram surpreendidos e não
estavam preparados para aquela situação.
Saquei
do maço de cigarros e continuei.
-Se
vocês tiverem como acender, eu tenho cigarro pra gente fumar. Alguém aceita?
–Um a um eles pegaram os cigarros em silencio. O do meio sacou de uma caixa de
fósforos e com a chama de apenas um palito me impressionou acendendo os quatro
cigarros. Após a primeira tragada um deles perguntou.
-E então? Pra onde tu tá indo Branco? – Eu não esperava ganhar um apelido logo
de cara.
-Na
verdade eu não sei. Mas estou aberto a sugestões. Querem encontrar um bar
aberto? Eu pago uma cerveja.
– Menti novamente. Se era justamente pela falta de
grana que eu estava passando o sufoco de voltar pra casa na pernada, como eu
poderia fazer uma proposta daquelas?
É
claro que eles aceitaram.
Atravessamos
a ponte. 
Enquanto eu me mantinha longe da beirada, tentava imaginar algum
assunto que pudesse ser introduzido para passar o tempo, ou que ao menos distraísse
aqueles três enquanto eu pensava em como pagar a cerveja que imprudentemente ofereci. Por
alguns segundos me ocorreu a idéia absurda de empenhar o meu valioso isqueiro
Zippo no bar, é claro que renderia no mínimo uma dúzia de cervejas, mas também
revelaria a fraude da perda do isqueiro e se alguém dentre os três ligasse um ponto
ao outro eu poderia me enfiar em uma situação ainda pior.