Pé de Barro – Os Tombos de Maromba

POSTADO POR: admin sex, 20 de junho de 2008

Para quem não está acompanhando,. sexta-feira é dia de “Pé de Barro – Os Tombos de Maromba” no Ditos pelo MAldito, uma série de contos narrando as desventuras de um jovem atravéz de uma viagem a uma cidadezinha no interior do Rio de Janeiro,….

Essa aventura começou na sexta passada, clique aqui, para poder pegar o fio da meada e não precisar pegar o bonde andando.

PÉ DE BARRO – Os Tombos de Maromba

TOMBO 1
Refém do que virá (parte I)

Cristina telefonou para o pai e pediu um adiantamento da pensão, talvez o velho ainda estivesse incorporado com “Os Espíritos dos Natais Passados” , porque disse que a grana estaria na conta da Cristina no dia seguinte.
-Viu?! Meu pai não é o “Velho Avarento” que você fala.
-É! Talvez não seja avarento,…mas eu mantenho o “velho”.
Teríamos uma boa grana, eu tinha um dinheirinho guardado da minha última rescisão de contrato empregatício, não era muito, mas pagava os cigarros. Com um pouco de sorte e algumas mentiras poderia conseguir mais algum com a minha mãe, somando tudo teríamos um ótimo feriado, seja lá onde fosse.
Estávamos sentados no banco de uma praça, já a umas boas 2 horas resolvendo todos os detalhes do plano de viagem para o desconhecido. Cristina não cansava de repetir como seria bom viajarmos juntos, e ficava imaginando um lugar que só parecia existir na sua cabecinha oca. Eu interpretava um bom ouvinte com maestria, era bom nisso, conseguia fazer uma cara de interesse vigoroso por mais boçal que o assunto fosse, anos de treino iniciados nas salas de aulas das escolas.
Enquanto eu fingia ouvir Cristina, um hippie se aproximou interrompendo seus devaneios, exibiu um sorriso amarelo, onde se podia notar a ausência de 2 ou 3 dentes e pediu um cigarro. Eu nunca gostei de hippies, to pouco me lixando pros seus ideais, se é que realmente existe algum ideal em ficar sem tomar banho. Seria para economizar a água mundial? Ele tinha um cabelo amarelo com dreadslock, roupas batidas e coloridas, e chinelos, na sua cabeça uma enorme toca de lã com as cores da Jamaica. Com o calor que fazia, imaginei que fosse alguma técnica de extermínio de lêndeas e piolhos.
-E aí irmão! Desculpa interromper a sua conversa com a sua gatinha, mas você poderia me ceder um dos seus cigarros.
-Não vai dar camarada, os que eu tenho aqui são somente para o meu consumo.
-Como você é grosso, dá um cigarro pro cara. –Cristina entreviu a favor do hippie que olhava estático a cena.
-Então dá do seu, porra!
-Ele pediu foi pra você,…além do mais o meu está acabando, você acabou de abrir um maço agora.
-Calma gente. – se pronunciou o hippie- Não quero causar nenhum desconforto entre vocês. –era estranho ver uma palavra como “desconforto” saindo de um hippie.
-Que ótimo amigo, então dá o fora e nos deixe em paz.
-Escuta, eu não pude evitar de ouvir a conversa de vocês,…
-A culpa é dela. – eu disse relaxando no banco e apontando pra Cristina.
-Como?- os dois disseram em uníssono.
-A culpa é sua, porque estava falando alto demais e incomodou o cara, agora vai ter que dar um dos seus cigarros pra ele.-antes de Cristina preparar a réplica, o hippie exibiu seu time desfalcado de dentes em um tímido sorriso e foi dizendo:
-Não é isso amigo. Eu notei que vocês estão meio indecisos sobre para onde viajar. E eu tenho uma ótima sugestão para uma viagem.
-Não camarada,…obrigado, mas não estamos afim de comprar drogas.
-Deixa de ser estúpido, deixa o cara falar.
O hippie continuou.
-O que achariam de um paraíso na terra? Cheio de cachoeiras, contato total com a natureza, sonzinho a noite, maior paz, gente bacana. E o melhor de tudo, dá pra curtir tudo isso com pouca grana.- ao citar as palavras “pouca grana”, o hippie conseguiu minha atenção.
-Ah, é?! E onde fica esse paraíso? Desembucha.
-Me dá um cigarro?-peguei um cigarro do maço de Cristina e ofereci ao hippie.
-Eu to ouvindo,…continua falando.

Continua aqui..