PÉ de BARRO – Os Tombos de Maromba

POSTADO POR: admin sex, 12 de setembro de 2008

Finalmente chegamos ao final do primeiro Tombo de Maromba. Espero que tenham gostado,…porque eu gostei de escrever essa desventura!
Sim,…Marques voltou a Maromba, muitas e muitas vezes,…mas essas são outras histórias!
PÉ de BARRO – Os Tombos de Maromba
Reféns do que virá (parte 2)
5.

Por conta da noitada, acordamos tarde. Era o último dia do ano, e ele estava se esvaindo por entre nossos dedos.
O último café da manhã do ano começou no horário do almoço e bem mais humilde que o anterior, gastamos mais do que deveriamos na noite, talvez usando a morte da Cássia Eller como desculpa. Teríamos que nos segurar e manerar se quiséssemos chegar ao novo ano com algo no estômago além de cerveja,…e claro, pinga com mel no bambu.
Fabricio e Nivarna impacientes com a nossa demora, vieram ao nosso encontro no camping. Parecia que Fabricio tinha ficado mais uma noite sem dormir, fato depois confirmado por eles. Ao invés de se recolherem a barraca como eu e Cristina na noite anterior, os dois continuaram na bagunça. Fabrício estava péssimo, tentamos faze-lo comer, mas ele se negava e repetia que estava bem, foi decidido então que iriamos para o bar Jamaica,…bebida para a gente, e para o Fabrício, apenas refrigerante.
No Jamaica, foi sugerido um joguinho de sinuca, prática que eu abomino. Jogo estúpido. Um conjunto de mensagens subliminares fálicas inversas, onde o taco fica de fora, e as bolas que vão para dentro. As duplas eram eu e Cristina, contra Nirvana e Fabrício que segurava o taco de cinuca com aquele sorriso bobo. Mesmo não conhecendo o jogo, fingi escolher o taco “ideal”, rolando na mesa de bilhar para conferiri se estavão empenados. Para mim, todos pareciam empenados, só faltava testar um dos tacos, o taco que Fabricio se escorava, puxei o taco, sem pensar.
-Deixa eu testar esse aqui.
Fabricio desabou no chão, e por centimetros não rachou a cabeça na quina da mesa de bilhar. Como eu poderia imaginar que ele estava totalmente apoiado no taco? Com a ajuda de Nirvana, carregamos Fabricio até sua barraca enquanto Cristina comprava algo para força-lo a comer.

Junto com a noite veio a chuva, mas não foi o suficiente para amenizar a euforia coletiva de Maromba, todos se divertiam enquanto uma banda tocava na carroceria de um caminhão no meio da praça. O ano novo chegou, eu e Cristina nos abraçamos e nos beijamos. Nirvana veio animado nos dar “Feliz Ano Novo!”, e lembrar que Fabrício continuava desmaiado na barraca.
Usando o copo de bambu da noite anterior, degustei muitas pinga com mel de Maromba, como o dinheiro já era praticamente inexistente, Critina acabou aderindo a prática.
Quando o primeiro sol do ano veio a tona, fomos vencidos pelo cansaço, enquanto muitas pessoas ainda tocavam, bebiam, ou fumavam baseados na praça, eu e Cristina nos arrastávamos de volta a barraca. Enquanto caminhávamos, descobrimos mais uma regra de Maromba, essa era etoada por todos assim que o sol raiava: “ Em Maromba ninguem dorme!”, mas essa regra nós não tinhamos condições de cumprir.
Cristina apagou assim que entrou na barraca, eu resolvi acabar antes com a pinga com mel e matar o último cigarro, péssima idéia, um descuido e a brasa tocou na lona da barraca, fazendo um baita furo, olhei para Cristina, dormindo como uma anja morena, e agradeci aos céus por ela não ter visto a cena,… mas minha mãe iria me matar.

Novamente acordamos tarde, e lá se esvaía o primeiro dia do ano, enquanto Cristina recolhia nossas coisas, fui acertar as contas do camping com Seu Celso e me informar sobre os horários do ônibus. A conta de Seu Celso bateu com a minha, entreguei a ele meu dinheiro contadinho. Teria um ônibus às quatro da tarde, tinhamos cerca de 1 hora até lá.
Nos despediamos e trocamos telefones com Forte, Sarah e os outros, passamos na barraca de Fabricio e Nirvana, mais eles não estavam lá
Já na parada do ônibus, soubemos que iriamos socados como sardinha em lata, era provável que o ônibus não aguentasse o contigente que o aguardava no ponto. Na correria do embarque, Cristina não achava o dinheiro reservado para a passagem de volta, que estava sobre sua guarda. Respirei fundo e para não engarrafar a entrada do ônibus e ser obrigado a me estressar com alguem, puxei os trocados que havia guardado para os cigarros e paguei a passagem. Por sorte conseguimos ir sentados.
Logo que o ônibus passou de Mauá alguem nos últimos bancos acendeu um baseado, agora eu já estava acostumado e pouco me importei, continuei conversando com Cristina e apreciando a paisagem, me despedindo de Maromba. Quando o cheiro da erva chegou a frente do ônibus o motorista deu uma freiada brusca. Se virou para o fundo do ônibus e berrou.
-Ou apaga essa merda! Ou vou fazer todo mundo descer do ônibus, seus bando de maconheiros!
Ouviu-se um silêncio, o cheiro cessou, parecia que o grito do motorista surgira efeito, ele sentou novamente em seu lugar e religou o ônibus, assim que ganhou os primeiros metros da estrada ouviu-se uma ameaça do fundo do ônibus errompendo o silêncio forçado.
-Se parar essa porra outra vez, vamos quebrar tudo!
O baseado foi reaceso, e uma regra aprendida em Maromba se fez presente, “Os caminhos de volta, são sempre mais curtos!”. Acho que chegamos em Resende na metade do tempo previsto, o motorista realmente ficou motivado.

Em Resende descobrimos que Cristina foi incapaz de cumprir a tarefa que lhe foi confiada, e confessou que havia perdido o dinheiro reservado para a volta de casa. Sua expressão dizia “Por favor amor, me desculpe!” e a minha gritava “Vou te dar uma vantagem de 5 segundos,…corre para viver!”.
Novamente estávamos na rodoviária de Resende e sem dinheiro, um deja vú, a vida realmente faz círculos.
-E então?! Tem alguma solução em mente? Estamos sem cigarros, sem dinheiro e com fome. O que vamos fazer?
-Na verdade eu tenho uma idéia sim. E não é apagar a lanterna.
-Ótimo, porque eu acho que esqueci a lanterna lá no camping.
Voltamos para o Rio de Janeiro de taxi, pago pelo velho avarento do pai de Cristina, coisa que ela exigiu aos berros no interfone do prédio dele, onde o taxista nos deixou com um sorriso largo na face, com a certeza de que tinha ganhado o dia com aquela corrida. Naquele dia realmente Cristina testou a paciência de seu pai, e no dia seguinte eu fiz o mesmo com a da minha mãe, quando comecei a namorar Cristina.

FIM
mas ainda assim continua,…
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