PÉ de BARRO – Os Tombos de Maromba

POSTADO POR: admin ter, 09 de setembro de 2008

Demorou mais chegou, o post não saiu na surdina da madruga como de praste, mas chegou no prazo.
Damos sequencia então a série de contos com seu penúltimo capítulo. Se tu tá viajando na maionese e não sabe do que estou falando, clique na imagem na barra aqui ao lado, e acompanhe desde o inicio essa aventura,…
PÉ de BARRO – Os Tombos de Maromba
TOMBO I
Reféns do que Virá (parte 2)
4.
A chuva se foi e a noite chegou, parecia que finalmente o tempo nos permitiria conhecer a praça e o centro de Maromba. Tomamos algumas cervejas na cantina do camping e fomos para o centro, no caminho cruzamos com algumas pessoas que falavam algo sobre a Cássia Eller, mas não demos importância, afinal, em um lugar como aquele, Cássia Eller deveria ser muito tocada nos bares e violões locais.
A cidade estava agitada, os bares todos lotados, o mesmo hippie que trocou o seu “trampo” por uma cerveja tentou me filar mais um cigarro, mas não teve sucesso dessa vez.
Fui comprar cervejas em um dos bares, e enquanto o atendente ia até o freezer buscá-las, voltei a minha atenção para a televisão presa em um suporte no parede. A TV exibia o Caetano Veloso se pronunciando sobre a morte da Cássia Eller. Porra! Então era sobre isso que aquelas pessoas falavam, como faz falta ficar 24 horas sem contato com o mundo exterior. Peguei as cervejas e fui ao encontro de Cristina que me esperava na praça.
-Cris! Tu não vai acreditar. A Cássia Eller morreu.
-Tá de sacanagem?!
-Não porra, eu vi agora na TV do bar. Tava o Caetano comentando a morte dela, morreu ontem a noite.
Com muito custo Cristina conseguiu sinal no celular. Ligou para um ex-namorado que trabalhava como “roadie” da Cássia Eller. Enquanto ela tentava escutá-lo com toda barulheira vinda dos bares, me encaminhai para uma pequena barraquinha armada ao lado da igrejinha que me chamou a atenção, na placa lia-se “Pinga com Mel no Bambú”.
-Quanto custa?
-Depende do tamanho do copo amigo.
Havia vários pedaços de bambu artesanalmente transformados em copos de tamanhos diferentes. Você escolhia o tamanho do copo e depois pagava metade do valor para “recarregá-lo”. Escolhi um copo de três reais, eu tinha um e cinquenta suficiente para manter aquele copo de bambu cheio, a noite toda.
-É verdade, baby. A Cássia morreu, acabei de falar com o Edu.
-Isso eu já sabia, vai dizer que o tal Edu tem mais credibilidade que o Caetano Veloso.
-Tá com ciúmes?
-Não. Só defendendo o Caetano .

Sentamos no bar “Jamaica”, e Cristina pediu uma cerveja para ela, eu já tinha definitivamente renegado a cerveja naquela noite e me entregado a pinga com mel no bambu.
-O que aconteceu? Tu nunca foi de beber pinga.
-E tu nunca foi de ligar pra ex-namorados.
-Ainda com ciúmes?
-Não, só defendendo a pinga.
Encontramos dois amigos nossos do Rio, eu sabia que eles eram frequentadores de Maromba, mas não esperava encontrá-los por lá. Eles sentaram em nossa mesa e pediram uma cerveja, já estavam bem loucos de sei lá o que. Fabrício tinha uma enorme olheira que denunciava suas noites não dormidas,e mau conseguia falar, apenas exibia um sorriso bobo na cara. O outro era o “Nirvana”, ele ganhou esse apelido porque nunca foi visto com outra blusa que não a da banda Nirvana. Eu nunca soube o nome dele de verdade.
-Quando vocês chegaram?
-Já estamos aqui a uns 4 dias.
-Putz! Que disposição.
Ver rostos conhecidos é sempre bom, bebemos, conversamos animadamente durante toda a noite. Antes que o sol desse o ar da sua graça, nos recolhemos a nossos aposentos, que no caso era a mimúscula barraca do meu irmão mais novo. Levamos ainda algumas cervejas para serem degustadas no camping. Marcamos com Fabrício e Nirvana de nos encontrarmos no mesmo bar no dia seguinte.

Enquanto Cristina preparava a barraca para repousarmos eu fui até a cozinha coletiva pegar alguns copos para a cerveja. Encontrei um cara loiro de óculos sentado em um banco, olhando para o próprio vômito. Parece que chegou bêbado e tentou empurrar algo não identificado para dentro do estômago, que não lhe caiu muito bem, e resolveu voltar.
-Tu tá ruim heim camarada.
-O Truta, nem me fala, meu.
-Tu é paulista?
-Sou mano, e você?
-Eu não. – Me desviei do vômito e peguei os copos.- Boa sorte na limpeza disso aí camarada.
-O meu, sem condição deu limpar isso mano, tava aqui reunindo forças, mas não tem como, eu tenho que deitar. Quer ganhar uma grana?
-Depende,…
-Te dou 5 conto pra você limpar a cozinha.
-Cinco reais pra limpar a lambança que tu fez? Tá de sacanagem paulista?
-Porra meu, tu acha pouco?
-E você acha muito?
-Claro, truta.
Puxei forte o último trago do meu cigarro e joguei a guimba em cima do vômito dele. Peguei cinco reais na carteira e joguei em cima da guimba já apagada pelo vômito
-Então toma aí, amanhã quero ver essa porra toda limpinha,viu. Boa noite.
Aqueles cinco mangos fariam falta mais tarde, mas eu não podia perder essa.

Assim que eu voltei para a barraca, Cristina apagou a lanterna.

Continua aqui…