PÉ DE BARRO – “Os Tombos de Maromba”

POSTADO POR: admin qui, 12 de junho de 2008

Rufem os tambores,…
A partir de agora vocês acompanharam durante 4 sextas-feiras consecutivas o conto “Refém do que Virá (parte 1) ” que narra o início da saga PÉ DE BARRO – Os Tombos de Maromba.

Espero que gostem,…boa leitura, e não esqueçam de comentar para eu saber logo se vale a pena prosseguir com essa loucura, que ta tomando boa parte do meu tempo.

ATUALIZAÇÃO
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PÉ DE BARRO – Os Tombos de Maromba
TOMBO 1
Refém do que virá (parte I)
A aproximação dos feriados longos causava um reboliço entre a gente, jovens com média de vinte anos, cheios de esperanças e espírito aventureiro, mas sem nada na cabeça ou na carteira. As opções eram claras, ou viajar com uma turma durante 4 ou 3 dias a algum ponto do estado, que estivesse dentro de um orçamento mínimo para os chamados “estudantes”, ou então, desperdiçar esses mesmos dias em casa agüentando os pais que dispensados do trabalho por causa do feriado, tinham os dias livres para nos aporrinhar com toda a classe que os cargos de pais exigem, em tempo integral. E quando se tem essa idade, qualquer lugar do mundo é bom, se é longe dos seus progenitores, nada contra os velhos,…coisas da idade. A segunda opção costumava ser mais freqüente na minha vida.
Dificilmente alguém conseguiria me tirar do conforto do lar para embarcar em algum “Programa de Índio” por aí. Só de pensar na viagem, no desconforto, nos mosquitos, e nos famosos perrengues o meu bom senso já gemia. Eu gosto de viajar, mas odeio viagem,…eu explico, nada contra conhecer outros lugares e pessoas, respirar outros ares, e toda aquela bobagem que parece papo de naturalista enrustido, mas sempre odiei ficar horas sentado e entediado em um ônibus ou avião esperando chegar ao destino. Fico imaginando quando evoluiremos até as maquinas de tele transporte. Além disso, eu sempre fui um urbanóide, acostumado com os confortos da vida moderna e por mais que eu tenha sido escoteiro em algum momento da minha adolescência, a única coisa que aprendi com escotismo é que aquele uniforme não ajudava muito com as mulheres.
O feriado em questão era o de “Ano Novo”, como de costume o Natal havia sido em família, com toda aquela carga emotiva que exige, reencontro de primos, de irmãos, amigo oculto, essas coisas, uma clássica confraternização familiar. Achei mas do que justo reservar o feriado de ano novo para mim, algo além do peru de natal, das rabanadas, dos presentes e dos sorrisos forçados das piadas do meu padastro.
Estava decidido, eu iria viajar, me emburacar em algum canto desconhecido do Rio de Janeiro, cheio de vontade de vivenciar algo diferente, mas sem nenhuma condição financeira para o ato,…mas que diabos,… para onde?

Na ocasião eu estava envolvido de alguma maneira com Cristina, uma morena tijucana, de olhos arredondados que compensava o fato de não ser muito bonita, sendo uma excelente companhia . Não era mulher de se exibir por aí, se você é do tipo que se preocupa com sua aparência em público, mas era uma boa mulher de se ter ao lado nas manhãs que se acorda de ressaca,…quando ela não amanhecia assim também.
Eu e Cristina nos conhecíamos a pouco tempo, pouco mais de um mês, mas rapidamente construímos uma cumplicidade, talvez por sermos tão parecidos, éramos jovens, loucos boêmios, desocupados, e sem nada na cabeça, uma combinação explosiva nos tempos atuais.
A minha parceria com Cristina rendia boas loucuras noturnas, ela vivia as custas de uma magra pensão do pai que pagaria qualquer coisa para não ter que aturar a própria filha, e eu arrumava as melhores maneiras de gastar esse dinheiro “suado”.
Essa parceria também causava sensações em outra pessoa,…minha mãe, que odiava ver seu filho enrabichado pra cima e pra baixo com aquela moreninha com jeito de malandra, e ainda por cima mãe solteira. Costumava dizer: “A mulher de um homem reflete sua vida, se sua vida é uma merda, você terá uma merda de mulher!”, por conta disso adotou um apelido para Cristina. Sempre que se referia a ela dentro de casa ou entre familiares chamava-a de “A Lambisgóia”, chegou a anotar o telefone de Cristina no caderninho de telefones na letra “L”, onde se lia no campo nome : Lambisgóia (Cristina). Eu pouco me importava, achava até graça, era óbvio que Cristina estava longe de ser a nora preferida de qualquer sogra, mas, e daí? Eu também estava a quilômetros de distância de ser o genro dos sonhos de algum pai.
A verdade, é que a teoria sobre mulher, vida e merda, da minha mãe,…realmente fazia sentido.
-Eu estive pensando, acho que vou viajar no ano novo. – Cristina me olhou espantada, esse tipo de coisa costuma ser programada com antecedência, e eu estava ali, diante dela, disposto a viajar no feriado de ano novo, logo depois do natal.
-Ah é? Viajar? E com que dinheiro?
-É aí que você entra.
Cristina não se incomodava em como eu gastava o dinheiro dela, dês de que o dia terminasse com nós dois, alguma bebida e uma trepada.
-Mesmo? Então nós dois iremos viajar gatinho. Qual a sua proposta?
-Ainda não sei, vou pensar em algo?
-Pensar? Hoje já é dia 28, o feriado de ano novo já está praticamente aí, e você ainda não tem nenhuma idéia para onde iremos?
-Não enche,…demorei o ano inteiro pra decidir que ia viajar nesse feriado,…preciso de tempo.
-Tempo pra que?
-Pro meu cérebro se acostumar com a idéia,…ou desistir dela de vez.
A verdade é que existe um grande abismo entre se ter uma grande idéia e executá-la, tanto eu, quanto Cristina não éramos exímios mochileiros, não tínhamos experiências em viagens, e nenhuma idéia para onde ir naquele feriado. Mas Cristina se empolgou tanto com a idéia que passou um bom tempo dizendo nomes de cidades como sugestões para a viagem, e eu seguia colocando defeitos em todas elas: “Muito caro!”, “Muito longe!” “Muita gente!”.
-Que saco, nada te agrada. Tudo você acha uma merda.
-É,…uma merda! – Por alguns segundos me lembrei do “provérbio” que minha mãe recitava como um mantra dês da primeira vez que me viu com Cristina,…mulher, vida e merda. Realmente fazia sentido.
-Escuta baby,…quem pretendia viajar no ano novo, já foi. As pousadas e chalés já devem estar todos abarrotados de gente. Se a gente não se decidir logo, vamos acabar passando o feriado por aqui mesmo.
-Que se foda! A gente acampa.
Me arrependi assim que completei a frase. A única vez que eu tinha acampado foi na época de escoteiro, e eu não guardava boas lembranças na memória, já meu corpo guardava boas marcas de picadas e ferroadas de insetos que eu nem sabia que existiam na nossa fauna. Odeio insetos, e creio que eles me odeiem também. Sem contar com o perrengue, que aumentaria consideravelmente se optássemos pelo acampamento.
-Boa! Vai ser ótimo, eu nunca acampei antes. Já estamos chegando em algum lugar. Decidimos que vamos viajar, que vai ser nesse feriado e que iremos acampar,…
-E decidimos que você vai bancar… – Cristina me enfezou com seus olhos arredondados -…pelo menos a maior parte.
Cristina sabia que isso é o máximo de consideração que arrancaria de uma pessoa como eu, e deu-se por satisfeita. Retomou o seu pensamento e repetiu o progresso do nosso planejamento de viagem, dessa vez enumerando-os nos dedos. De alguma maneira toda aquela empolgação estava me contaminando e a idéia de cair na estrada estava tomando forma. Mas que Diabos,… para onde iríamos?

Continua aqui…