Pé de Barro – Os Tombos de Maromba

POSTADO POR: admin sex, 04 de julho de 2008

Sexta é dia de Pé de Barro no Ditos pelo Maldito,…uma série de contos que hoje chega ao final da sua primeira frase clique aqui se quiser acompanhar tudo desdo começo.

Hoje é o último capítulo da primeira parte do primeiro Tombo de Maromba, espero que tenham gostado e que me motivem a continuar à escrevê-los.
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Obrigado a todos que acompanharam o processo até aqui,…e até a próxima.

PÉ DE BARRO – “Os Tombos de Maromba”
TOMBO 1

Reféns do que Virá

Quando eu consegui abrir os olhos na manhã seguinte, o sol já lambia a minha cara, e a ressaca anunciava que as comemorações do dia anterior haviam sido exageradas. O radio relógio anunciava que já passava do meio-dia. Cristina ainda estava apagada na cama ao meu lado, ela nunca acordava antes de mim, e com certeza naquele dia não seria diferente.
-Acorda Cris! Já passou de meio-dia, temos que arrumar as coisas pra viagem.
-Viagem?…hummm, sei, espera um pouquinho.
-Nem pensar, ainda quero chegar em Maromba a tempo de curar a minha ressaca na cachoeira.
Foi combinado que, enquanto Cristina arrumava suas coisas, eu iria em casa preparar a minha mochila e completar uma fase difícil do nosso plano de viagem,…tirar dinheiro da minha mãe. Se ela soubesse que Cristina estava envolvida de alguma maneira com a viagem, nem por reza braba eu veria a cor desse dinheiro,…eu teria que improvisar. Depois eu e Cristina nos encontraríamos na rodoviária.

-Viajar? Pra Onde? – Minha mãe sempre era enfática em suas perguntas.
-É uma cidade pequena, perto de Penedo, no Pico das Agulhas Negras.
-Sei,…e volta quando?
-Só ano que vem,…
-Depois do Ano Novo, você quer dizer.
-Não,…quero dizer o que eu disse, só ano que vem.
-Você vai sozinho?
-Não, eu jamais faria uma viagem dessas sozinho,…
-Vai com quem, então?
-Vou com Deus.
-Se for assim,… tem melhorado suas companhias, heim! A Lambisgóia vai?
-Não mãe, a Cris não vai,…satisfeita?
-Por hora,…
Enquanto eu socava as poucas roupas na mochila, me lembrei de uma barraca que meu irmão mais novo usava em alguns acampamentos da Colônia de Férias. Embora na etiqueta lia-se “Barraca para 2 pessoas”, eu lia “Toca do Gugu para meio idiota”. Acho que deveria medir 1,70 X 1 metro, de um azul fosco com detalhes em amarelo vibrante. È o que se tinha a mão, e em tem pode guerra, urubu é frango. De qualquer forma, eu não estava indo para aquele lugar para ficar enfurnado dentro de uma barraca. A barraca seria apenas um abrigo para nossas bagagens.
-Você vai levar a barraca do seu irmão?
-É o que ta parecendo.
-Você não cabe aí dentro.
-Não tem problema, com jeitinho dá.
-Não fume dentro da barraca, essa lona é vagabunda, pega fogo fácil.
-Não esquenta mãe,…vai ficar tudo bem.
Dei um beijo na testa da minha mãe, passei a mão no dinheiro que ela segurava o tempo todo enquanto repetia suas perguntas e suas recomendações, e parti em direção a rodoviária.

Encontrei Cristina em uma gigantesca fila de um caixa eletrônico da rodoviária, ainda baleada da ressaca, tentando sacar o dinheiro prometido pelo velho avarento do pai dela. Ela trazia consigo uma pequena mala de um material parecido com camurça, que claramente não comportava o volume que lhe fora confiado. A alça era frágil e desconfortável, com certeza Cristina não agüentaria carregá-la por muito tempo, sobraria pra mim.
-Ei Cris! Vai sair um ônibus para Resende agora, se não pegarmos esse, só daqui quarenta e cinco minutos.
-Mas tenho que pegar o dinheiro que meu pai depositou.
-Esquece isso,…eu pago as passagens, a gente tira o dinheiro na rodoviária de Resende, não to afim de ficar esperando o próximo ônibus, já esta ficando muito tarde. E se escurecer, vai ferrar com tudo. A gente nem sabe direito onde é o lugar.
Sentar na poltrona daquele ônibus me relaxou, era o primeiro momento de paz que eu tive desde que havia acordado. Beijei Cristina, relaxei e adormeci.
A viagem até Resende durou pouco mais de 2 horas. Ao chegar na rodoviária de Resende ,Cristina correu para o caixa eletrônico para sacar o esperançoso dinheiro do seu pai, e eu fui até os guichês para me informar sobre os horários dos ônibus até Maromba. Eu disse dos ônibus? No plural? Eu queria dizer do ônibus, pois descobri que somente um ônibus fazia o trajeto Resende x Maromba, e somente uma vez por dia, em apenas um horário, e esse horário era nove da manhã. Larguei a barraca e a mochila no chão e acendi um cigarro, perante tamanha impotência é o que podia ser feito. Pensei “Deus todo poderoso, o que mais agora?”.
Todos na rodoviária olhavam espantados para uma morena tijucana que esbravejava em voz alta, em frente ao caixa eletrônico da rodoviária. Quando olhei, Cristina vinha em minha direção com passos firmes e uma cara fechada como as nuvens escuras que começavam a se formar no céu.
-O que ta pegando?!
-Você acredita que aquele velho avarento só depositou metade do que prometeu.
-Claro que acredito,…e quero informar que acabo de promover seu pai de Velho Avarento à Múmia Filha da Puta.
-O que a gente faz agora?
-Nada.
-Como?
-Não tem mais ônibus pra Maromba, só tem um por dia, e na parte da manhã. Seu pai passou a perna na gente,…-Nesse instante trovejou-…e pra completar, vai chover.
-Maldita hora que eu concordei em viajar.
-Quê? Você que insistiu nisso, fiz de tudo para você desistir dessa idéia.
-Então tu confessa que estava colocando defeito em tudo que eu sugeria para minar de vez a idéia de viajarmos?
-Claro,…a idéia foi minha,… esqueceu? Se eu dei vida a ela, eu também posso matá-la.
Um careca já com seus 30 anos se aproximou da gente e perguntou:
-Ei?! Vocês estão indo pra Maromba? – será que não se pode mais ter uma discussãozinha entre casal em paz neste país?
-Sim, estamos,…quer dizer, acho que íamos,…porque?
-Eu to fazendo lotação na Van para ir pra lá, nessa época tem muita demanda,…faço por metade do preço do ônibus,…tão afim?
Eu e Cristina nos entreolhamos,… com tanta mensagem do destino, o certo seria mandar o careca se ferrar e voltar pro Rio com a merreca que tínhamos ainda, a tempo de tomar uma cerveja na Lapa. Tínhamos dinheiro suficiente pra isso. Mas pela metade do preço do ônibus,…também tínhamos dinheiro suficiente para ir pra Maromba.

FIM da parte 1

Continua aqui…