Os melhores livros sobre vícios

POSTADO POR: admin qui, 19 de fevereiro de 2015

‘A carne é fraca’, é verdade, e com essa premissa parece que encontramos a desculpa perfeita para sucumbir as mais diversas tentações humanas sem qualquer sensação de culpa ou peso na consciência. Desde os perigosos Sete Pecados Capitais, até os vícios mundanos mais medíocres, nos entregamos aos seus clamores sem qualquer tipo de pudor. Afinal, o que podemos fazer?! Somos apenas meros humanos.

Sexo, comida, inveja, drogas, sonhos, bebidas, seja qual for o seu vício, eles nunca são tão simples quanto avaliam os ‘caretas’ que observam toda a situação de fora. Mas nunca desafie o seu vício, ou é provável que pereça em todas as batalhas.

Mas se o seu vício for em livros, já é um caso mais tratável. Afinal, quem gasta todo seu salário em uma livraria, nunca terá dinheiro para comprar drogas. E para abordar o assunto de forma literária, separamos aqui alguns dos melhores títulos sobre vícios:


✔ Gordon, de Edith Templeton
Louise é uma mulher bonita e culta que acaba de chegar a Londres, após o fim da Segunda Guerra Mundial. Em processo de divórcio, aos 28 anos, ela deixou o exército e mora em um quarto alugado na capital inglesa. Sorvendo um drinque em Shepherds, um de seus pubs favoritos, ela tenta reencontrar velhos amigos quando é abordada por um homem pouco atraente. Magro e ossudo, com voz baixa, mas firme, ele segura o pulso de Louise e a conduz para fora do bar. Minutos depois, sobre um banco de um jardim, ‘sem consentimento, mas sem resistência’, Louise tem a primeira experiência sexual com o homem de quem sequer sabe o nome. 
É o início do turbulento relacionamento amoroso que é o centro da narrativa de ‘Gordon’, de Edith Templeton. Ambientado em um período no qual a psicanálise ainda não era popular, o livro mostra o restrito círculo dos seguidores de Freud em conflito com as primeiras descobertas de Louise, que começa a se familiarizar com conceitos como Complexo de Édipo e mito da Vagina Dentada. Em contrapartida, a culta protagonista apresenta clássicos literários de Thomas Mann e Goethe ao médico – que ora desdenha das narrativas, ora desenvolve interpretações que lhe parecem originais. Juntos, vivem em um universo paralelo, de dominação e loucura. Sob o verniz cultural da história, está uma Louise que se submete a qualquer humilhação em nome da segurança que a companhia do médico representa. Narrada em primeira pessoa, a história conta com belas metáforas e uma franqueza atordoante. O livro é repleto ainda de elementos autobiográficos – como Edith Templeton, Louise trabalhou na guerra, morou em Londres e passou a infância em um luxuoso castelo. Mas o final da trama deixa poucas pistas sobre os limites entre ficção e realidade (Editora Rocco).

✔ Skagboys, de Irvine Welsh

No fundo, este é um livro sobre a amizade, mas os amigos retratados são interligados através do vício. A heroína aparece bastante na história, mas Welsh nos mostra os espectros de comportamentos da dependência. Temos sexo, roubo, e o memorável Begbie, que se considera moralmente superior aos seus amigos “junkies”, mesmo que ele também seja um viciado em anfetaminas, álcool e violência.
Após dez anos da publicação de Trainspotting, um best-seller mundial com mais de um milhão de exemplares vendidos só no Reino Unido, chega Skagboys, novo livro de Irvine Welsh. Skagboys é a história pré-Trainspotting, e fala sobre o primeiro contato dos personagens com a heroína, realidade que inundou sua decadente comunidade.
Esses são os anos 80: drogas, pobreza, AIDS, violência, conflitos políticos e ódio – mas também alguns risos, e talvez apenas um pouco de amor. Uma década que mudou para sempre a Grã-Bretanha. Trainspotting, assim como Clube da Luta, transformou fãs em fiéis e movimenta o estilo cult desde então (Editora Rocco).

✔ Dissipada: Memórias de uma anoréxica e bulímica, de Marya Hornbacher

O ideal de beleza mudou muito ao longo dos séculos. Mas, talvez em nenhuma outra época, ele tenha sido tão cruel com o corpo feminino. Mulheres esqueléticas, exibindo cinturas impossíveis para a fêmea da espécie humana estampam revistas, olham de volta em grandes campanhas publicitárias. E é o olhar de crianças, meninos e meninas, que as encaram de volta. Que tipo de influência isso pode ter na formação dessas pessoas? 
Em DISSIPADA, o doloroso relato de Marya Hornbacher, bulímica aos 9, anorética aos 15, revela um pouco desse distorcido relacionamento com o espelho. A deturpada ligação dessas pessoas com a comida. Ao longo de uma década, a autora atravessou seu próprio reflexo para entrar em um inferno onde sentir-se bem é péssimo, o alimento é pecado, e a quase-morte é moeda de valor, a ser honrada e reverenciada. Ao longo de seis prolongadas hospitalizações e intermináveis horas de terapia, experimentou o afastamento da família e dos amigos, além de abstrair-se de qualquer noção do significado de ser ‘normal’. 
Marya chegou a pesar apenas 27 kg, o peso aproximado de uma criança de 6 anos. Perdeu completamente a ideia de si mesma e viveu um turbilhão incontrolável de transformações metabólicas. Nesta autobiografia realista e emocionalmente arrebatadora, Marya Hornbacher recria a experiência e expõe o nó das causas pessoais, familiares e culturais que servem de base para os transtornos alimentares. E alerta para os perigos e armadilhas de uma doença cada vez mais comum e de alto índice de reincidência. DISSIPADA é o relato das viagens de uma mulher ao lado mais sombrio da realidade e de sua decisão de encontrar o caminho da volta, com as próprias condições (Editora Record).

✔ Noites Italianas, de Kate Holden

Quando Kate decidiu abandonar seu passado, em Melbourne (Austrália) , e começar uma jornada para dentro de si mesma, foi para um país reconhecidamente romântico. Enquanto se encantava com as ruínas de Roma e as praças de Nápoles, esperava encontrar – em ruas estrangeiras – sua verdade pessoal. Mas a peregrinação de Kate exigiu coragem. Encontrar o verdadeiro amor ou, quem sabe, perder-se para sempre de maneira a não ter mais qualquer chance de resgate foram possibilidades reais na Itália… Especialmente para alguém que estava acostumada a viver entre as vielas da escuridão, através do vício em heroína e uma vida de prostituição.
Em um romântico, mas estranho país, com muitos – alguns bem significativos – casos de amor, e mais algumas noites de sexo sem compromisso, ela vai se perguntar se é, verdadeiramente, um espírito livre, ou uma atriz que decorou tão bem o seu papel de mulher sedutora que já não consegue desvencilhar-se dele (Editora Novo Conceito).

✔ Retrato de Um Viciado Quando Jovem, de Bill Clegg

Bill Clegg fuma crack pela primeira vez no apartamento de um advogado no Upper East Side. A fumaça com “gosto de remédio, ou desinfetante” gera “um raio de energia renovada” que “eletriza cada centímetro do seu corpo”. Rapidamente a experiência o atira no circuito costumeiro dos viciados: em vez de pensões imundas e noites na sarjeta, porém, sua via crucis inclui hotéis e bares de luxo, aeroportos e táxis que o conduzem de um lado a outro em Manhattan enquanto duram as dezenas de milhares de dólares em sua conta.
Nessa jornada sombria, Clegg não se propõe a fazer um estudo psicologizante de sua condição. Não tenta arrumar pretextos de traumas passados que justifiquem atitudes muitas vezes sórdidas com todos os que tentam ajudá-lo. Ao mesmo tempo, flashes da infância e adolescência ajudam a identificar um padrão compulsivo e transgressivo em seus hábitos desde sempre, característica inseparável do cotidiano de um viciado.
Escrito com uma sinceridade atordoante, que muitas vezes toma o ponto de vista externo do narrador, como se o distanciamento permitisse uma liberdade maior em descrições espantosas e comoventes, o livro acompanha a queda e a redenção final, quase por milagre, de alguém que se propôs a destruir tudo o que tem e ama (Editora Companhia das Letras).

✔ Junky, de William Burroughs

Cotidiano modorrento, um atestado de dispensa do serviço militar e alguns trambiques. Assim o narrador de Junky descreve sua vida antes das drogas. Nem mesmo as catástrofes da Segunda Guerra Mundial haviam sido merecedoras de sua atenção. Alguns miligramas de morfina causariam mais impacto. 
Mescla de confissão – William Burroughs foi dependente de narcóticos por catorze anos – e uma objetividade radical, marcada por uma narração veloz e sem espaço para reflexões psicológicas, o livro marcou a estreia do autor na literatura. 
Escrito em 1949, durante uma temporada de Burroughs no México, Junky discorre sobre experiências com morfina, heroína, cocaína, remédios controlados, maconha e tráfico de substâncias ilegais. Não obstante alguns percalços iniciais, que atrasaram a publicação em quatro anos, o livro resultou num sucesso editorial. Nos Estados Unidos dos anos 1950, as drogas eram um demônio a ser combatido. Em Junky não há lugar para a vergonha, o arrependimento e muito menos a redenção, o que, na época, ia contra tudo o que se considerava útil no tocante à abordagem das drogas na literatura. Recheada de confissões de violência, homossexualismo e teorias extravagantes a respeito dos benefícios filosófico-espirituais da droga pesada, a narrativa causou choque. “Estou melhor de saúde agora, depois de ter tomado drogas pesadas em vários períodos da vida, do que estaria se nunca tivesse me viciado”, afirma o narrador ao se declarar dependente.
O amigo Allen Ginsberg, que se autointitulava “agente” de Burroughs por ter convencido um editor de Nova York a publicar o material que uma fila de profissionais havia rejeitado, festeja na introdução do livro sua “atitude cultural revolucionária”. 
Décadas mais tarde, Junky permanece atual. Para além do fato de ter chocado uma época, sua força está na habilidade de Burroughs dar tratamento literário ao que chamou de um “estilo de vida” (Editora Companhia das Letras).

✔ A Noite da Arma, de David Carr

Eu tive o privilégio de conhecer Carr e trocar algumas palavras com ele quando foi destaque da FLIP 2014 aqui no Brasil, e ao fazer a pesquisa para compor esta lista, fiquei sabendo que ele faleceu recentemente de um mal súbito em sua mesa, na redação do New York Times.
Carr era famoso por sua coluna ‘Media Equation’, na qual escrevia sobre os “meios de comunicação e sua intersecção com os negócios, a cultura e o governo”, descreveu a publicação em um obituário. O colunista lutou durante boa parte de sua vida contra a dependência de cocaína e álcool, vícios que superou e serviram de inspiração para o livro autobiográfico ‘A Noite da Arma’.
Baseado em 60 entrevistas gravadas, registros médicos e jurídicos e 3 anos de reportagem investigativa, este livro é um relato lancinante de um repórter que usa as ferramentas do jornalismo para checar os fatos de seu próprio passado. 
A pesquisa de David Carr sobre seus anos como viciado em drogas revela que a odisseia que percorreu até a recuperação, passando pelo câncer e pelos desafios de ser um pai solteiro, foi muito mais pesada – e, no fim, mais miraculosa – do que ele se permitia lembrar (Editora Record).

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