Os livros mais roubados nas livrarias

POSTADO POR: admin qua, 27 de julho de 2016

Ao adentrar uma livraria, qualquer leitor que se prese já deve ter sentido aquele impulso incontrolável de recolher o maior número de títulos das prateleiras no menor tempo possível, e sair correndo feito louco sentindo-se um mega criminoso da galeria de vilões do Batman.
Mas é claro que jamais faríamos algo do tipo. Primeiro, porque sabemos que roubar é errado. E segundo, porque seria estúpido quebrar um mercado do qual somos afetivamente dependentes. 
Segundo a Associação Nacional de Livrarias (ANL), o nosso setor literário leva em média um prejuízo de 5% ao ano devido aos furtos de exemplares nas livrarias. Afinal de contas, livro nunca foi uma prioridade na cesta básica do brasileiro. Recentemente o perfil do Twitter Vintage/Anchor Books tuitou uma imagem com uma estante de uma livraria anônima, ranqueando os livros mais roubados da loja. 

É curioso observar que os títulos mais afanados, são justamente aqueles cujo os autores possuem o seu próprio passado ligado a ilegalidade, seja por sexo, drogas, e todo tipo de contravenção, como é o caso de Jack Kerouac, Bukowski e Burroughs. Por isso os livreiros tendem a manter as obras desses autores perto do balcão, já que costumam desaparecer com certa frequência.

On The Road (Jack Kerouac)

Como o gemido lancinante e dolorido de “Uivo”, de Allen Ginsberg, o brado irreverente e drogado de “Almoço Nu”, de William Burroughs, ou a lírica emocionada e emocionante de Lawrence Ferlinghetti, “On the Road” escancarou ao mundo o lado sombrio do sonho americano. A partir da trip de dois jovens – Sal Paradise e Dean Moriarty –, de Paterson, New Jersey, até a costa oeste dos Estados Unidos, atravessando literalmente o país inteiro a partir da lendária Rota 66, Jack Kerouac inaugurou uma nova forma de narrar.

Em abril de 1951, entorpecido por benzedrina e café, inspirado pelo jazz, Kerouac escreveu em três semanas a primeira versão do que viria a ser “On the Road”. Uma prosa espontânea, como ele mesmo chamava: uma técnica parecida com a do fluxo de consciência. Mas o manuscrito foi rejeitado por diversos editores e o livro foi publicado somente em 1957, após alterações exigidas pelos editores.
A obra-prima de Kerouac foi escrita fundindo ação, emoção, sonho, reflexão e ambiente. Nesta nova literatura, o autor procurou captar a sonoridade das ruas, das planícies e das estradas americanas para criar um livro que transformaria milhares de cabeças, influenciando definitivamente todos os movimentos de vanguarda, do be bop ao rock, o pop, os hippies, o movimento punk e tudo o mais que sacudiu a arte e o comportamento da juventude na segunda metade do século XX. (Editora L&PM)
Mulheres (Charles Bukowski)

“Eu tinha cinquenta anos e há quatro não ia pra cama com nenhuma mulher.” 

Este é Henry Chinaski, Hank, escritor, alcoólatra, amante de música clássica, alter ego de Charles Bukowski e protagonista de Mulheres. Mas este não é um livro convencional – nem poderia ser, em se tratando de Bukowski – no qual um homem está à procura de seu verdadeiro amor. 
Após um período de jejum sexual, sem desejar mulher alguma, Hank conhece Lydia – e April, Lilly, Dee Dee, Mindy, Hilda, Cassie, Sara, Valerie, não importa o nome que ela tenha. Hank entra na vida dessas mulheres, bagunça suas almas, rompe corações, as enlouquece, faz todas sofrerem. E no fim elas ainda o consideram um bom sujeito. Publicado em 1978, Mulheres, o terceiro romance de Bukowski, é a essência de sua literatura: com o velho Chinaski, ele sintetiza a alma de todos aqueles que se sentem à margem. Escrevendo em prosa, Bukowski poetisa a dureza da vida e nos dá uma pista: “ficção é a vida melhorada”.(Editora L&PM)
Junky (William Burroughs)
Cotidiano modorrento, um atestado de dispensa do serviço militar e alguns trambiques. Assim o narrador de Junky descreve sua vida antes das drogas. Nem mesmo as catástrofes da Segunda Guerra Mundial haviam sido merecedoras de sua atenção. Alguns miligramas de morfina causariam mais impacto. Mescla de confissão – William Burroughs foi dependente de narcóticos por catorze anos – e uma objetividade radical, marcada por uma narração veloz e sem espaço para reflexões psicológicas, o livro marcou a estreia do autor na literatura. 
Escrito em 1949, durante uma temporada de Burroughs no México, Junky discorre sobre experiências com morfina, heroína, cocaína, remédios controlados, maconha e tráfico de substâncias ilegais. Não obstante alguns percalços iniciais, que atrasaram a publicação em quatro anos, o livro resultou num sucesso editorial. 
Nos Estados Unidos dos anos 1950, as drogas eram um demônio a ser combatido. Em Junky não há lugar para a vergonha, o arrependimento e muito menos a redenção, o que, na época, ia contra tudo o que se considerava útil no tocante à abordagem das drogas na literatura. Recheada de confissões de violência, homossexualismo e teorias extravagantes a respeito dos benefícios filosófico-espirituais da droga pesada, a narrativa causou choque. (Companhia das Letras)
No topo da lista ainda temos obras de Haruki Murakami, que surge como uma surpresa dentro da esfera de interesse dos meliantes. Além de Kurt Vonnegut, que também ocupa um lugar de destaque no alto da estante dos mais roubados.
Caçando Carneiros (Haruki Murakami)
Lançado originalmente no Japão em 1982, Caçando Carneiros é o romance que tornou Haruki Murakami conhecido mundialmente. Permeado de mitologia e mistério, a obra é um thriller literário extraordinário. O protagonista do livro é um personagem, do qual não sabemos o nome, que leva uma vida tranquila trabalhando numa agência de publicidade, convivendo com a ex-mulher e alguns amigos – todos muito comuns, ou assim parece.
Mas tudo muda depois que ele recebe uma carta misteriosa e conhece pessoas inesperadas: uma modelo de orelhas sedutoras, um grupo político de direita com um chefe enigmático e, por incrível que pareça, um homem-carneiro. Lançado em uma busca fantástica, ele terá que atravessar o Japão para encontrar o único carneiro que pode trazer novamente algum sentido ao seu cotidiano. Nessa jornada, nosso narrador se verá no lugar de um excêntrico detetive que, ao mesmo tempo em que esclarece pistas, descobre um pouco mais sobre si mesmo.
Murakami é um autor que sabe contar histórias extraordinárias como ninguém. Ao mesclar situações banais a fatos inexplicáveis, ele faz com que o leitor mergulhe em seu universo e se deixe levar por suas narrativas oníricas. (Editora Alfaguara)

Deus o Abençoe Dr. Kevorkian (Kurt Vonnegut)

O senso de humor do Michelangelo é tão grande quanto o seu coração, de modo que o romance de Vonnegut sobre um maluco filantropo milionário, certamente é um dos seus livros favoritos.
Perspicaz, sarcástico, engraçado e incisivo. O livro reúne 21 estranhas ‘entrevistas’ feitas pelo autor enquanto ele servia de ‘repórter do além’ para a WNYC, uma estação pública de rádio de Nova York. É um trabalho para o qual ele encenou uma série de experiências de proximidade com a morte – administradas pelo Dr. Jack Kevorkian, o patologista conhecida como Dr. Morte – para ficar mais familiarizado com o que ele chama de ‘os cento e poucos metros de terreno baldio entre o final do túnel e os Portões Dourados’ e entrevistar os mortos. O autor vai de personagens como o político Eugene V. Debs e o físico Isaac Newton ao assassino James Earl Ray e o ditador nazista Adolf Hitler, para não falar de seu próprio alter ego, Kilgore Trout. (Editora Record)

E como os sistemas de segurança das livrarias apontam que a maioria dos ladrões de livros são jovens de classe média do sexo masculino, e considerando o tipo de leitura que eles apreciam, a lista segue com autores que destacam a decadência social em suas obras, como  é o caso de Chuck Palahniuk, mais conhecido pelo seu aclamado Clube da Luta.

No sufoco (Chuck Palahniuk)
Um menino traumatizado por uma infância atribulada ao lado da mãe amalucada se transforma no adulto golpista Victor Mancini, o protagonista de ‘No sufoco’, de Chuck Palahniuk. Victor, um ex-estudante de Medicina que frequenta grupos sexólatras anônimos sem a menor intenção de curar qualquer compulsão, mas sim de conseguir mais parceiras sexuais, aplica diariamente o mesmo golpe – finge engasgar-se ao comer e estar prestes a sufocar. Comove quem o socorre, contando que passa por dificuldades financeiras, o que, invariavelmente, leva seus salvadores a lhe enviarem dinheiro. O dinheiro que obtém dos golpes nos bons samaritanos que o acodem serve para pagar o tratamento da mãe, internada em um sanatório com Mal de Alzheimer. 
Um anti-herói detestável, Victor demonstra, entretanto, um intenso sentimento de solidariedade aos companheiros de trabalho e não quer que a mãe morra, embora não sonhe com sua melhora. Mesmo assim, o autor adverte logo nas primeiras páginas que seu livro é a biografia de alguém que nutre um profundo desprezo pela humanidade. Enquanto transita pelo mesmo universo sombrio dos personagens de ‘Clube da luta’, como os grupos de ajuda anônimos, Victor tem um emprego tão insólito quanto seus hábitos sociais, trabalhando num museu a céu aberto em que todos os empregados usam trajes de época e fingem estar congelados no ano de 1734. Entre as punições dadas a quem se comportar como se vivesse em outro século, como, por exemplo, esquecer-se de tirar o relógio do pulso, há castigos físicos e humilhantes. Victor suporta tudo com suas observações cínicas e sarcásticas, que só não são suficientes para protegê-lo da verdade sobre sua origem. (Editora Leya)
Apesar de Markus Zusak ter popularizado a ideia em seu best seller “A Menina que Roubava Livros”, o furto literário parece um crime mais comum do que se imagina, mas de vez em quando ocorre de alguém passar os dedos escorregadios pelas prateleiras de uma livraria ou biblioteca. Conheça outras histórias a respeito em nossa matéria sobre alguns Ladrões de Livros da vida real.
Se você também teve o seu passado criminoso e agora está redimido, conte em nossos comentários qual foi o título que você não resistiu levar no desconto dos cinco dedos. A gente promete que não conta pra ninguém. 😉

Veja Também: