Os livros eróticos mais contestados da história

POSTADO POR: admin dom, 09 de abril de 2017

Os escritores costumam reclamam que a vida através da literatura é incerta e nada fácil, seja pelo mercado vacilante, pela falta de espaço ou outras probabilidades impossíveis. E, no entanto, podemos dizer que muitos poucos deles realmente enfrentaram qualquer tipo de adversidade do tipo que alguns autores do passado suportaram quando suas obras foram proibidas, queimadas, confiscadas, alteradas, recolhidas, e até usadas como acusação criminal em julgamentos contra os próprios.

Posso dizer que conto com alguns escritores subversivos e provocativos em meu círculo de amizades, mas nenhum deles escreveu um livro de uma cela na cadeia, só para ser preso novamente após o seu livro ser publicado. Tenho certeza que nenhum deles foi transferido para um manicômio por ter escrito alguma ficção erótica, como o caso de Marquês de Sade por exemplo. Nenhum autor recente teve a experiência de Anne Desclos, cujo o livro sofreu uma proibição de publicidade por muitos anos na França, seu país de origem, apesar de ter ganhado um prestigiado prêmio literário nacional por lá. E desde a virada desse século não se ouve falar de um livro censurado e retalhado a tal ponto que sua versão resumida acabou perdendo toda sua coerência e continuidade, assim como ocorreu com a obra de DH Lawrence.

Cada um destes autores possuíam uma visão singular sobre o mundo, e ainda assim, todos eles tiveram algo em comum: O imperativo de condução para dizer o que precisava ser dito, e a coragem necessária para suportar as consequências que o mundo trouxe sobre eles em resposta.

Diretamente de um tempo onde os livros não eram escritos para alimentar egos e não rendiam nada além do que muita dor-de-cabeça para seus autores, temos uma dívida profunda que nunca poderá ser paga com esses escritores. 
Sim, a vida na literatura tem suas dificuldades, é verdade. Mas hoje, pelo menos não temos que lidar com censura, confiscos e queima de livros. Pelo menos não, ainda. E de certa forma, temos que agradecer algumas dessas obras listadas abaixo por isso:

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Fanny Hill (John Cleland)
Também conhecida como ‘Memórias de uma Mulher de Prazer’, essa obra foi escrita por Cleland de dentro da Prisão do Devedor de Londres, em 1748. O autor foi preso novamente no ano seguinte acusado de corromper os ‘súditos do rei’ com esta estória de libertinagem e aventura sexual narrada pela ex-prostituta Frances Hill.
O livro foi retirado de circulação, mas edições piratas continuaram a circular e arrebanhar uma legião de leitores ávidos. Entretanto, demorou a ser reconhecido pela crítica, que somente nos últimos anos conferiu-lhe a devida importância. O texto, de luzes filosóficas revolucionárias, está atualmente ao lado de obras dos mais renomados autores ingleses.
Quando o livro foi publicado nos Estados Unidos, foi tema de um julgamento por obscenidade em Massachusetts, onde prevaleceu como proibido até 1966. (Editora Estação Liberdade)

✔ Os 120 dias de Sodoma (Marquês de Sade)
Escrito em 1785 por Donatien Alphonse François, mais conhecido como Marquês De Sade, ou o Divino Marquês.
Tendo dado por perdido o rolo em que o escrevera, ao ser retirado às pressas da Bastilha, às vésperas da Revolução, o autor morreu sem saber que o manuscrito seria mais tarde recuperado e publicado. Este é um livro incomum, de leitura perturbadora, cuja chave-mestra talvez seja o humor. Um humor negro, sombrio, genuinamente perverso e absurdo. 
O romance retrata um catálogo exaustivo de extremidade sexual e sadismo: orgias, prostituição, incesto, estupro de crianças, o sexo com freiras, beber urina, coprofagia, flagelação, mutilação genital, tortura brutal e assassinato em massa. Em 1801, em represália a seus livros, ele foi preso a mando de Napoleão Bonaparte, sobre a intervenção da sua família. Dois anos depois, ele foi declarado insano e se mudou para o asilo de Charenton, onde permaneceu até sua morte em 1814. A palavra “sadismo” é derivado de seu sobrenome. (Editora Iluminuras)

✔ Ulisses (James Joyce)
Esse divertido épico foi publicado pela primeira vez em forma de série, entre 1918-1920, por uma revista literária chamada The Little Review.
A publicação teve problemas com sua impressão do capítulo 13, intitulado “Nausicaa”, devido ao seu uso de palavrões e representação da masturbação. A Sociedade de Supressão do Vício de Nova York fez uma campanha bem-sucedida para mantê-lo fora dos Estados Unidos e a decisão não foi revertida até 1933. Funcionários dos correios de Nova York apreenderam e queimaram centenas de exemplares da revista. Durante a proibição de 11 anos, o livro foi contrabandeado para o país e vendidos a preços elevados por traficantes. 
Joyce quis escrever simplesmente sobre tudo o que se passa na vida de um homem, em apenas um único dia. Mas afinal, tudo acontece mesmo, como pode acontecer, em apenas um dia: nascimento, morte, alegria, traição, prazer, menstruação, masturbação. Para o protocolo do início do século XX, contar tais intimidades era despudor indesculpável. (Editora Penguin Books)

✔ O Amante de Lady Chatterley (DH Lawrence)
Foi publicado pela primeira vez de forma independente em Florença na Itália, em 1928. Ele conta a história de uma mulher da alta sociedade, esposa de um aristocrata, que tem um funcionário, uma espécie de caseiro da propriedade do casal, como seu amente. Este romance de Lawrence explora abertamente o amor e o sexo, rompendo as convenções sociais e as relações de classe.
Ele ganhou uma antipatia instantânea pelas suas descrições gráficas de sexo adúltero e a inclusão de palavras não publicáveis. Foi a inspiração de diversos ensaios obscenos na Grã-Bretanha, Japão e Índia, até que foi proibido nos Estados Unidos e Canadá. A Austrália teve a distinção única de proibir não só o romance, mas também o livro escrito sobre o julgamento da obra por obscenidade na Grã-Bretanha. (Editora Bestbolso)

✔ Lolita (Vladimir Nabokov) 
Lolita é um dos mais importantes romances do século XX. Polêmico, irônico, tocante, narra o amor obsessivo de Humbert Humbert, um cínico intelectual de meia-idade, por Dolores Haze, Lolita, 12 anos, uma ninfeta que inflama suas loucuras e seus desejos mais agudos. A obra-prima de Nabokov não é apenas uma assombrosa história de paixão e ruína. É também uma viagem de redescoberta pela América; é a exploração da linguagem e uma mostra da arte narrativa em seu auge. Através da voz de Humbert Humbert, o leitor nunca sabe ao certo quem é a caça e quem é o caçador.
Em 1955 o London Sunday Times incluiu o romance entre os três melhores livros do ano. Em resposta, o editor do concorrente London Sunday Express , respondeu que era “o livro mais sujo que já leu” e chamou de “pura pornografia desenfreada”
Após a sua publicação nos Estados Unidos, três anos depois – apesar de ser considerado “repugnante” pelo New York Times -. “Lolita” vendeu 100.000 cópias durante seu primeiro mês nas livrarias. (Editora Alfaguara)

✔ O Trópico de Câncer (Henry Miller)
A obra narra as aventuras sexuais de um jovem escritor americano em Paris na década de 1930, após abandonar um casamento arruinado e uma carreira estagnada durante o auge da cultura boêmia, onde o narrador acaba confabulando com prostitutas, cafetões e artistas.
Quando se publicou a edição americana em 1961, mais de 60 processos de âmbito nacional por obscenidade foram apresentados contra as livrarias que ousavam comercializar o livro. Polêmicas à parte, Trópico de Câncer foi celebrado pelos maiores intelectuais da época e se tornou um dos grandes clássicos da literatura americana.
O editor Barney Rossett fez tudo ao seu alcance para ajudar legalmente cada livreiro que enfrentou a acusação. Por sua vitória legal nos tribunais o romance tem sido descrito até hoje como responsável pela “liberdade de expressão” que agora gozamos na literatura. (Editora José Olympio)