Ontem gordinha bacana, Hoje magrela esnobe

POSTADO POR: admin qui, 01 de março de 2012

Sabe
aquela sua amiga gordinha? Do tipo presente em todo grupo saudável de amigos
que muitas vezes aceitam a condição da gorda até melhor do que ela mesma. Ela tem
seus grilos e todos sabem disso, claro que isso não impede a galera de soltar
uma brincadeira aqui e outra ali sobre seu peso, mas tudo dentro do limite que
a amizade permite, porque se algum mané de fora achar que tem a mesma liberdade, todo mundo cai de pau em cima do otário pra proteger a ‘amiga gordinha bacana’
de seu grupo. 
Munida do fato de não despertar ciúmes nas namoradas dos amigos, ela
transita livremente entre ambos mesmo quando estão brigados, podendo ajudar
consideravelmente na reconciliação do casal. Ela é aquela que escuta os
problemas de todos com a paciência de poucos, amiga pra qualquer situação,
pessoa obrigatória em qualquer festa, que resolve nossas imparcialidades e mantém
a galera unida. 
Mal dá pra acreditar que exista uma pessoa tão sensacional, se
ela não fosse assim gordinha você até casava com ela… não casava?

Acontece
que com a medicina moderna ela não precisa mais ser uma pessoa gorda. 
O que é
ótimo pra sua amiga.
Após
uma redução de estômago ela ficará esbelta e também não precisará mais ser uma
pessoa ‘bacana’.
Infelizmente
pra você, agora nesse novo ‘ela’ também não caberá mais ser uma pessoa ‘sua amiga’.
As vezes a cirurgia é um sucesso para o corpo, mas faz um tremendo estrago na mente da pessoa. A ponto dela ficar irreconhecível.


Durante
minha adolescência, Rafaela era a gordinha bacana do meu grupo de amigos. Alguém
com todas as qualidades citadas acima, um exemplo de pessoa e a maior
inspiração deste texto. O peso de Rafaela era algo que só incomodava a própria,
nunca impediu que ela tivesse uma intensa vida amorosa por exemplo. Já vi
Rafaela deixar muito homem de coração partido. Diziam que sua boa fama se estendia
até a cama, que extrapolava os limites da amizade sempre que um amigo precisava de um ‘apoio’ a mais. 
Tínhamos um baita orgulho da nossa amiga
gordinha bacana.
Quando
o SUS liberou a cirurgia de redução, Rafaela foi uma das primeiras da fila. Por
conta dos exames, consultas e internações, nossa amiga teve que se ausentar do grupo
por algumas semanas e só nos restou esperar ansiosos e felizes pelo seu retorno.
A
primeira vez que vimos a nova Rafaela foi quando ela passou em frente ao bar
que tantas vezes confraternizamos juntos. Quando nos viu, fez uma cara de quem comeu e
não gostou, desviou de nossa mesa e mudou de calçada sem pronunciar uma palavra sequer.

Já naquele momento percebemos que perdemos nossa amiga. 
Ficou claro que no hospital tiraram mais do que alguns quilos de Rafaela. Nos entregaram de volta uma amiga quebrada, sem alma. Era como se junto com o pacote de bolsa emagrecimento do governo viesse de brinde uma lobotomia e uma reconstrução de cabaço. Rafaela, depois de magrela, mudou seu circulo de amizade e passou a desfilar pela cidade como se alem de magra, também tivesse voltado a ser virgem.
Nunca mais a vi, mais há alguns anos atrás me contaram que a magrela vira e mexe está de volta a fila do SUS, só que agora para se tratar de depressão, tendencia suicida, baixo autoestima e outros problemas menos visíveis.