O velho elevador feromônico de putas concordantes

POSTADO POR: admin sex, 24 de agosto de 2012

Henderson Linn e seu velho elevador feromônico de putas concordantes
Pedi à empregada de Henderson, pelo interfone, que abrisse a porta do prédio. Ela abriu. Esperei
dois minutos até a chegada do minúsculo elevador centenário. Apertei o botão do
oitavo, subi, com aquele meu cagaço de sempre, sentindo uma espécie de tranco
nos pés a cada andar que passava, e lembrando, quase sem querer, que inúmeras
putas já usaram este mesmo elevador centenário para atender a clientela em seus
apartamentos. Dava pra sentir o cheiro delas, o cheiro misturado dos perfumes
doces nas roupas, odor próprio, feromônico,
gostoso de sentir.
O elevador parou.
No andar inteiro do camarada se ouvia a porra da música Big in Japan (Alphaville
só leva meu respeito com Forever Young).
A porta estava aberta.
– Pitz, seu
canalha cavernoso!! Pode deixar que eu troco o CD, abra um sorriso desde já

Abraçou-me, o maldito Henderson Linn (Anderson Lima, na verdade). Um rico poeta
abandonado em um novo mundo que, praticamente, ignora a velha poesia dos ricos.
Na falta do que fazer, entre um rabisco e outro, Linn arruma reuniões com
escritores parados no tempo, poetas impublicáveis, músicos duvidosos, qualquer artista
‘pseudointeressante’ do submundo cultural carioca. Às vezes, até aparece alguma
mulher bacana, mas geralmente os convidados são homens chorosos que gostariam
de ter algo que não têm.

Na apoteose de
seu belo apartamento (herança de uma avó falecida), Linn desfila discursos eloquentes
de infinita engenhosidade intelectual… Às vezes, quando a bebida não é lá
muito boa, isso me chateia até a laringe coçar. Acabei falando demais…
– Porra nenhuma,
Linn! Vá escrever um livro inteiro e publique logo o teu ‘papagaio’. Está
falando bobagens aí, sem parar!
– Não estou não,
Invisible Man. Pense na merda
cultural que nos rodeia, neste exato momento! Pense, com a mente serena, se
você conseguir esse milagre… E reflita sobre o meio.
– Ah, meu amigo,
não entre nessa de Messias Cultural. E se a merda chegar a algum lugar que o
ouro não consegue chegar, pelo peso que tem?
– COMO ASSIM?
– Numa questão
mais lógica e aquática: o ouro afunda e a merda boia. A merda consegue boiar e
o ouro afunda. Sacou?
– Não.
-É isso aí…
Agora estamos todos boiando juntos. O que seria um belo começo para qualquer
escritor com peso de ouro. Deixa pra lá, cara… Vou à cozinha encher a taça
com este vinho aguado que você está servindo… Continue aí falando sobre o seu
ego enorme. Nisso eu te entendo bem.


Obs: Anderson Lima (Henderson Linn) não me
convida mais para os seus sarais atômicos desde 2011. Achei justo da parte dele…
Bem justo. Tanto, que prefiro não entrar mais em debates literários, políticos,
religiosos ou futebolísticos.