O Último Mamífero do Martinelli (Marcos Rey)

POSTADO POR: admin ter, 10 de fevereiro de 2015

Já fazia um bom tempo desde a última vez em que tive a chance de degustar uma obra desse autor. No meu primeiro contato com o seu trabalho, acabei sendo curiosamente atraído por um título propício da sua vasta biografia, e o resultado dessa experiência você pode acompanhar em nossa resenha sobre o livro ‘Malditos Paulistas’. E até hoje considero essa leitura como o meu batismo de fogo na época em que vim morar na inconclusiva cidade de São Paulo, cenário favorito da literatura sincera do escritor Marcos Rey. Para minha sorte, novamente outra obra do autor acaba chegando até as minhas mãos quase que por osmose, e com prazer voltei a mergulhar em seu trânsito de ideias tão vivas, quanto as ruas da cidade que ele representa.
A leitura de ‘O Último Mamífero do Martinelli’ (Editora Global, 99 páginas) foi como descobrir mais uma peça desse quebra-cabeça emaranhado que é a Terra da Garoa, através da narrativa incandescente de Marcos Rey.

“Marcos Rey, pseudônimo de Edmundo Donato, nasceu e morreu em São Paulo (1925- 1999), cidade que sempre foi pano de fundo de suas crônicas, contos, novelas e romances. Sua carreira, repleta da glória, foi marcada por um drama pessoal dos mais violentos, que permaneceu oculto até a sua morte. Marcos Rey era portador de hanseníase, doença conhecida até meados do século XX como lepra e que desde os tempos bíblicos carrega o estigma de maldição. A partir dos anos 30, a hanseníase passou a ser combatida com ferocidade pelas autoridades sanitárias paulistas, que internavam os doentes à força em sinistros leprosários. Depois de uma segunda denúncia anônima, em 1941, o jovem Edmundo, que contraíra a doença aos dez ou doze anos, foi levado por uma ambulância enquanto jogava bilhar, em um bar na Praça Marechal Deodoro, no Centro de São Paulo. Começava um pesadelo que duraria seis longos anos, até a sua última fuga do sanatório, em 1945.”

Misturando ficção e realidade, Rey toma emprestado o histórico edifício Martinelli, localizado no coração da capital paulista, como palco de um enredo interessante que poderíamos classificar como um ‘monólogo de pensamentos’. 
Em pleno regime militar ditatorial, um perseguido político se refugia no imponente prédio abandonado (conhecido como o primeiro arranha-céu de São Paulo) e passa a viver uma espécie de simbiose com a construção, de onde passa a extrair seu sustento e algumas supostas memórias. Agindo como uma espécie de arqueólogo de lembranças, ele passa a garimpar os objetos esquecidos na evacuação do prédio, atrás da história dos moradores que ali viveram. Ao mesmo tempo em que o Martinelli fornece segurança e sustento para o seu corpo, o imóvel também alimenta sua mente com noveletas incríveis, construídas pela sua mente a partir dos vestígios que encontra em seus cômodos, enquanto ele sobrevive das poucas coisas de valor que consegue descobrir pelo lugar.
Com praticamente apenas um personagem, o autor consegue nos envolver em um roteiro instigante, em que o protagonista nos guia por histórias imaginativas de figuras curiosas, enquanto vagamos pela sua própria biografia cognitiva.

Essa obra é outra forma de contar um evento que todos julgam conhecer bem, mas que nunca conseguiram entrar em acordo sobre seus fatos. ‘O Último Mamífero do Martinelli’ é um depoimento honesto de uma parte da trajetória nacional, que poucos tiveram a sensibilidade necessária para abordar desta forma.
A narrativa de Marcos Rey possui um incrível dom de promover certa interação subliminar com o seu leitor, em que o mesmo chega a se sentir parte da história contada, quase passando a sensação de que podemos interferir de alguma forma em seu roteiro enquanto transcorre a leitura,… Mas tendo sempre em mente que é impossível prever um final como os concebidos por esse escritor inconfundível.

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