‘O Senhor das Moscas’, o clássico que o Brasil não conheceu

POSTADO POR: admin dom, 15 de dezembro de 2013

Não se pode prever quando uma obra acaba intitulada com o brevê de
‘clássico’. Tal honraria pode surgir só décadas após o reconhecimento e concebido, e ainda assim, não se pode garantir que isso represente uma
unanimidade a respeito. 
Outra barreira a ser transpassada é a da geografia. Raros são os
clássicos que alcançam uma notoriedade além das fronteiras de sua própria
nação. Os motivos para que isso ocorra podem ser tão diversos
quanto imprecisos. Podemos supor que seja por falta de identificação
popular, apenas falta de conhecimento e divulgação, ou até
por interesses governamentais escusos. Mas, considerando que uma
obra artística vira patrimônio da humanidade após brotar das mãos de seu autor
e florescer ao público, acredito que devemos fazer o possível para
que ela ultrapasse essas fronteiras e empecilhos linguísticos que
a impedem de chegar ao conhecimento de todos. Eu disse todos.
E acho que esse é o caso do clássico literário ‘O Senhor das Moscas’,
escrito por Willian Golding e vencedor do Prêmio Nobel de 1983. Originalmente
lançado em 1954, vendeu míseras 3.000 cópias antes de sair de catálogo no ano
seguinte. Demorou quase uma década inteira para o livro ter seu merecido valor
reconhecido e virar leitura obrigatória em muitas escolas do Estados Unidos. É
geralmente postado ao lado de outros clássicos pós guerra como A Revolução dos Bichos e O
Apanhador no Campo de Centeio
.

Basicamente a obra retrata a regressão social de um grupo
de garotos de um colégio interno que acabam isolados em uma ilha
deserta após a queda do avião que os conduzia para longe da zona de conflito da
guerra. Longe da supervisão de adultos, os garotos precisam estabelecer suas
próprias regras de convívio, tendendo para uma selvageria sem limites.
Um dos principais temas do livro é a natureza do mal. Isso fica
claro já com o título que é uma referência a Belzebu (do nome hebraico
Ba’al Zebub), uma espécie de sinônimo para o Diabo. O Senhor das Moscas
representa o mal escondido no coração de todos.
Se você nunca teve a oportunidade de conhecer essa obra, não se culpe. Eu mesmo
não a conhecia até pouco tempo atrás. Mas pesquisando sobre o livro para esse
texto, descobri que, de certa forma, essa estória sempre esteve presente em
nossas vidas através da cultura pop; e talvez você conheça algumas das
referências abaixo:
-A banda inglesa de heavy metal Iron
Maiden
 compôs uma música
sobre o livro. A música “Lord
of the Flies”
 pode ser
encontrada no disco The X Factor. (Clique Aqui e conheça todos os livros que
inspiraram músicas da banda)

-A banda de punk rock Gatsby’s
American Dream
 tem uma música
completamente inspirada por O Senhor das Moscas, entitualda “Fable”.

-Existe inúmeras ‘semelhanças’ entre O Senhor das Moscas e a série de televisão Lost − além da ilha, dos porcos, dos grupos
divididos e da presença de um monstro, os personagens Sawyer e Charlie fazem referências claras a obra.

-O “reality show’’ Survivor (a versão americana do extinto No Limite) foi inspirado pelo
livro.

-A banda norte-americana The
Offspring
 faz recorrentes
referências à estória na sua música ‘You’re
gonna go far, kid’
.

-A banda Cascadura tem uma música, mais conhecida na versão da
cantora Pitty, intitulada Senhor das Moscas.
Outro fato que constatei em minhas pesquisas, é que essa obra teve poucas
edições aqui no Brasil, sendo editado pela última vez em 2006 pela editora Nova Fronteira. Nem
precisa dizer que ele está esgotado em todas as boas livrarias do ramo, e você
precisa ser uma pessoa de muita sorte para encontrar algum exemplar perdido no
sebo da sua cidade. Claro, isso se tiver algum onde você reside.
O Senhor das Moscas possui duas adaptações
para o cinema. A primeira é em preto e branco e foi lançada em 1963, sendo
considerada mais fiel a estória do livro. Já a segunda versão lançada em 1990,
embora tenha seu contexto atualizado, contém algumas pequenas mudanças no drama
original. Ambos com péssima, ou nenhuma, divulgação aqui no Brasil.
Felizmente os dois filmes estão disponíveis no youtube, legendados
e completos. Você pode assistir as duas versões nos vídeos abaixo:
O Senhor das Moscas (1963)
O Senhor das Moscas (1990)
Ao ler o livro ou assistir ao menos um dos filmes, sua cabeça pode
(e deve) começar a fomentar de ideias e raciocínios a respeito da carga de
simbolismos imputados nessa estória fascinante, e para facilitar o seu lado e
encurtar uma série de ligações complexas, adianto aqui alguns desses temas
e personagens que podem representar diferentes papéis dentro da nossa sociedade.
-Ralph pode representar a democracia, uma vez que ele é o líder
por escolha da maioria e tenta tomar as decisões que sejam melhores para todos.
-Jack pode representar o fascismo, uma vez que é cruel e tenciona a controlar todos na ilha.
-Piggy pode representar a ciência e razão, uma vez que ele age de
modo lógico e é impopular, mas necessário a longo prazo.
-O coral de meninos que se transforma no grupo de caçadores
representaria o exército: eles fazem o que Jack determina porque é melhor para
eles estarem inseridos no grupo do que contra ele.
-Sam e Eric representariam as pessoas que são impressionáveis, e
que tendem a não pensar por si próprias. Em diversas partes do livro, seu
comportamento imita o dos cães.
-O ‘Monstro’ representa a propaganda, causando medo por um inimigo
nunca visto e usada para unir os meninos ao redor de Jack.
-Os óculos representariam a razão e a habilidade de se ver com
clareza.
-A concha representa ordem e democracia na ilha.