Gabriel Gaspar, 27 anos, é oficial do Exército e escreveu por quase uma década
antes de se considerar pronto para publicar a primeira obra. Nessa publicação
de estreia, ousou abordar logo de saída um tema tão inquietante quanto polêmico
para a espécie humana: será mesmo a existência obra de algo divino, deus existe
e, caso sim, faz alguma diferença na nossa trajetória? Como pesa a solidão do
ser um humano no mundo de hoje, como cada um lida com a dor, o amor, a inveja,
a fuga para a religião, o deixar de existir que isso traz? Conseguiremos mesmo
nos equilibrar na tênue linha entre a lucidez e a (in)sanidade mental? 

“Apesar de minha idade,
ainda me lembro muito bem de meu nascimento. Surgi da mente de um Homo Sapiens,
muito parecido com você, que está segurando esse livro agora. É bem verdade que
muita coisa mudou desde então (…) Mas, internamente, essencialmente, o ser
humano ainda é exatamente o mesmo desde então. 

“Na verdade, instantes
antes de mim, nessa mente perturbada e doente, diferente das de seus irmãos, só
existia o medo e o horror. Meu embrião virulento já existia naquele crânio,
embora ele não conseguisse encontrar-me. Aquela pobre criatura estava prestes a
entrar em colapso. Seu
cérebro havia alcançado um grau de desenvolvimento que nenhum outro animal
jamais sonhara. Sua capacidade de raciocínio permitia-o prever o futuro com
relativa precisão e com um mínimo de antecedência. Era não apenas um animal que
se alimentava e se reproduzia, mas também um animal que pensava. E essa
incrível habilidade, além das vantagens óbvias para a sobrevivência desse novo
animal, já estava trazendo também problemas gravíssimos. Surgia o primeiro
animal que tinha certeza de sua morte.