O Menino Alienígena

POSTADO POR: admin sex, 31 de maio de 2013

Teodorico de Andrômeda
Teodorico nasceu curioso, e ao invés de chorar com as costumeiras
palmadinhas desferidas pelo doutor, abriu a boca e verbalizou: Por que me
bates, ó homem de branco?
Anos depois a comprovação científica de que o estranho bebê desenvolvera
no útero a capacidade de ouvir sons externos e identificá-los todos. Nasceu
falante. Perguntava sem parar. Mas não chorava.
Teodorico Veiga Cassiano Piragibe Júnior, menino estranho que sorria dos
professores de história, enquanto os colegas tentavam copiar na mente as
verdades autorizadas ensinadas em sala de aula.
– É tudo porcaria! Professores só ensinam a história errada!
– E como você sabe Téo?!
– Muito simples professora… A história é contada pelos vencedores. Os
perdedores não podem retrucar… Estão mortos, assim como sua cultura, seus
livros e suas verdades.
Garoto esquisito, rebelde, brigão, pai falecido muito cedo… Não se
encaixava. Comprou uma moto e construiu um avião pequenino (confiscado pela
aeronáutica) de apenas um lugar, usando motor de motocicleta, corda, lona e
madeira. O combustível era magnetismo Tesla, as luzes em casa eram
proporcionadas por placas solares; no céu via discos voadores.
– Mãe, eu acho que a nossa vizinha é metade jacaré…
– Metade o quê??
– Jacaré… O olho dela muda enquanto conversamos. Os dentes também.
(silêncio)
Menino louco, desregulado, cerveja, baseados, festas, luta, putaria,
corridas de carro. Os homens de bem falam sobre o bem, mas falar não significa
nada mais que assoprar as cordas vocais com palavras. Dizem pela boca o que
copiaram desde pequenos com seus ouvidos, e de certo não sabem o que dizem. Não
conhecem o jogo terrestre em sua plenitude, mas Teodorico sempre soube. Carne e
luz (anjo e picanha)… Jogo medonho… Instintos animalescos regulados por
energias racionais. Planeta esquisito. Valores malucos.
Agora a mãe morreu também… Fazenda grande, trabalho que nunca termina,
e para piorar a solidão trouxe com ela sonhos estranhos. Estava voando, suas
coisas voavam também, até o trator e a colheitadeira voavam. Um homem de
cabelos brancos usando uma túnica violeta apareceu no sonho o chamando de
filho… Duas vezes.
Numa noite estrelada Teodorico correu para o fundo da propriedade, em meio
a plantação de soja, e com os braços erguidos para o cosmo começou a narrar tudo o que
sempre sentiu na Terra, na esperança de que algum semelhante do espaço pudesse ouvi-lo.
– Eles ainda queimam fósseis sem motivo! Eles matam e destroem
sua própria raça por dinheiro e poder! Socorro, meus amigos! Eles são loucos, animais primitivos, todos eles, cegos, os pequenos e os grandes! Desde moleque eu tento gostar das coisas
da humanidade, mas não dá. Eles só querem o poder material, e para isso
são capazes de qualquer coisa. SOCORRO!! Povo das estrelas me leve embora daqui!!
O desaparecimento de Teodorico na noite de 16 de outubro de 1999 chocou os moradores da cidadezinha, que
creditaram seu sumiço à grande luz violeta pairando sobre a fazenda. A lenda
transformou Téo em Teodorico de Andrômeda, o abduzido. 
E a tal luz ainda aparece sobrevoando a
fazenda de vez em quando.