O Fim do Amante por Ocasião

POSTADO POR: admin sex, 06 de dezembro de 2013

Então ele recebe a mensagem: “estou na
cama sem nada, só o edredom cobrindo o meu corpo”…
Oh, droga, e a fila ainda está cheia de
gente para abertura de novas contas. Os cabelos caem. O suor se estica na
testa. Pip… Apita um caixa e, pip, apita o outro. As vozes juntas formam
único som, maçaroca terrível. Pip.. Mil vezes.
– O que você tem Leopoldo, está pálido…?
– Preciso sair daqui… Só isso.. (Pip)
– Precisa mesmo, você está ficando azul!
Quer que eu chame alguém? (Pip)
– Não. Dane-se. Eu preciso sair!
Saiu elétrico, num salto pegou casaco,
pasta e carteira. Terceira vez em um mês.
Onze anos sentado naquela cadeira
ordinária, fazendo a mesma coisa todos os dias em replay (pip), observando a
vida passar pela porta giratória do Banco Salveroy, no Centro. Depois ele
encara o trânsito caótico até seu apartamento apertado em Botafogo, para comer
comida congelada de micro-ondas, jogar videogame, olhar as redes sociais de
sempre… Abrir aquele site cretino para ver as garotas russas dançando nuas.
Estourar o cartão de crédito nas carícias digitais de Ekaterina, ou Bianka ou
Dasha. Ou apenas encher a cara assistindo filme velho, tipo Os Caça-Fantasmas,
até dormir (desmaiar), e talvez não acordar mais no auge perdido e sub-curtido
dos seus 33 anos amenos.
Outra mensagem no celular: “acho que vou
querer uma massagem bem gostosa hoje, e umas mordidinhas também”
.
– TÁXI!! – Leopoldo praticamente se joga na frente do
táxi. O motorista fica meio assustado, mas abre a porta. – Me desculpe, é uma emergência.
Toca pra Rua Pinheiro Guimarães em Botafogo, por favor. O mais rápido que o
senhor puder.
Marisa sempre soube o que queria quando
largou sua cidade no interior e partiu para o Rio de Janeiro. O velho Otávio,
empresário gaúcho, pagava as contas do apartamento em Botafogo, só aparecendo
uns dois ou três sábados por mês. Assim ela somava tempo de sobra para se
dedicar ao curso de atriz, e aos trabalhos como modelo fotográfica.
Marisa era demais.. Boca carnuda, a pele
bem branquinha… Cabelo escuro e liso até o bumbum. Jeito de moleca. Porém
mulherão, perigosa em seus efeitos. Na falta do que fazer sozinha no Rio de
Janeiro, entre um compromisso e outro, fez de Leopoldo (o Léo) seu brinquedo de
ocasião. Um vizinho escravo para emergências.
Léo pagou a corrida do taxi e correu para
o prédio.. Ignorou o elevador e o porteiro, subiu as escadas. Chegou arfando e
tocou a campainha.
– Está aberta… – Ela disse baixinho.
A voz da garota dos sonhos, a vizinha
safada que tirou sua alma para dançar livrando-o do carma que é o marasmo. A
mesma garota capaz de fazer um cara subir e descer os arcos da Lapa sem escada
ou corda! A doida, que bateu em sua porta pedindo um litro de leite e ganhou
muito mais do que isso e muito mais do que leite! Ganhara um coração
ridículo… E um escravo.
Ele entra no apartamento, e se depara com
a garota dos sonhos amarrada na cama; seu amante, Otávio, com o celular na mão
e uma pistola na outra. Na cabeceira da cama uma garrafa de uísque, pela metade.
– Então é isso guri…? Tu te enfias na
cama com essa aqui enquanto eu pago as contas, é?
– Não senhor, eu moro aqui em frente…
– Covarde. Eu li as mensagens no celular
da cadela.
Léo percebe que o cano da arma é
silencioso, pouco antes de tombar com dois disparos no peito.
Marisa não sorri, mas também não chora.
Deve estar mais preocupada agora pensando em um bom movimento de cena para se
safar de novo, e o que Otávio vai fazer com o corpo do bancário idiota. 
No fim,
o cara que entrava no apartamento de Marisa todos os dias não era Leopoldo. Era
um sujeito casado que frequentava a mesma academia que ela.
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