O Desejo de ser Viúva

POSTADO POR: admin ter, 07 de janeiro de 2014

Ela se fazia de ofegante,
e com vaselina, facilitava o sexo. Muitas vezes abriu a vulva com os dedos para
que houvesse o mínimo de penetração. Dizia que perdia a cabeça com ele, por
causa dos pelos brancos que o velhote carregava no peito. A putinha interesseira
fingia-se de recatada e envergonhada, pois afirmava ter aprendido com sua mãe,
que devaneios eróticos se manifestavam como pecado. Ele tremia na base com
Magali, por conta da habilidade da menina, e vivia certo de que ela tinha
orgasmos múltiplos com ele. Isso lhe fazia muito bem, aumentava a sua moral de
macho, chefe de família e mantinha seu ânimo.
Orlando era metido a
galanteador e escondia um segredo, uma metástase crescia velozmente e tomava
conta de seu pulmão. O velhote governava a família com mão de ferro, desde o
tempo da falecida sua esposa, mãe de Jerônimo, e não contava nada sobre sua
doença, por vaidade e porque não queria perder o controle dos bens e do
dinheiro da família. A única que sabia de sua doença era Magali, que
dissimulada, dizia a ele:
— Você vai viver meu
amor, você é um touro, o meu touro.
Jerônimo, coitado, era um
moço bonito e analfabeto, maltrapilho e encabulado. O povo dizia:
— Ele é um pobre diabo.
Era ele quem ordenhava as
vacas. Capinava o milho. Roçava o pasto. Levantava as cercas. Podava o pomar e
melava as abelhas. A sua maior ambição era beber uma pinga e fumar um palheiro
no final de um dia de trabalho na roça.
O tempo foi passando e a
presença de Jerônimo tornou-se complicada na casa de seu pai. O velho temia que
a sua Magali se apaixonasse pelo rapaz. Essa desconfiança começou numa tarde de
verão. Jerônimo chegou da roça, suado, sem camisa. Orlando viu que Magali
correu para a área da casa e ficou ali, com aquele vestido decotado, olhando
para seu filho caçula, que em sua santa inocência, molhava-se na mangueira
enquanto lavava seu corpo forte e sujo de terra. Daí para frente começaram as
brigas, e Jerônimo foi mandado embora em menos de um ano. Magali não dizia nada
e reprimia seus desejos pelo enteado porque tinha muito mais gosto pelo
dinheiro do velho.
Jerônimo catou seus
trapos e foi morar no pedaço de terra que herdou quando sua mãe faleceu. A área
era pequena, uns dez alqueires, ocupada de mata nativa e um reflorestamento de
eucaliptos. A partir daí, ele teria de viver da madeira e do carvão. Construiu
sua casinha por entre as árvores, e lá passou a beber demais e comer cada vez
menos. A solidão o carcomia, e embora injustiçado, ainda sentia amor pelo seu
pai. Tentou muitas vezes se reaproximar dele, mas o velhote ciumento e teimoso
nunca permitiu.
Os anos passavam e o
danado do velho conseguia manter-se vivo à custa de muito dinheiro. Magali, não
gostava disso, queria mais é que o velhote morresse logo, antes que dilapidasse
todo o seu patrimônio com o tratamento. Com habilidade, ela convenceu Orlando
de que ele não estava doente, que tudo aquilo que os médicos lhe falavam era
mentira, com o intuito de arrancar mais dinheiro dele.
— Você não tem nada, meu
tourão.
No início, ele discordou
de Magali, mas a danada era sabida, e pediu a razão para si, argumentando que
um homem entregue ao câncer, como diziam os médicos, não viveria tanto tempo, e
não faria sexo como ele.
A família entrou em embate,
os filhos queriam que o pai se tratasse, com medo de perdê-lo, e o alertaram
quanto às intenções de sua nova esposa. Mas o velho Orlando cortou relações com
eles:
— Vocês não gostam dela
porque não aceitam nosso casamento.
Ele deixou um testamento,
onde passava para Magali, tudo o que lhe restava. Foi quando seus filhos,
ofendidos, lhe viraram as costas. A teimosia era herança de família:
— Essa gente não é fácil
— dizia o povo.
A discórdia foi fatal.
Uma situação delicada e lamentável. Não demorou muito e o velho Orlando se foi.
No seu velório, não havia ninguém da família, e Magali, ali, ao lado do
caixão, fazia uma peça digna do Teatro
Municipal Carlos Camilo
. Jerônimo queria muito se despedir de seu pai, mas
Magali foi implacável e o impediu de entrar em casa, chamou a polícia e o
acusou de ser um dos responsáveis pela morte de Orlando.
Ela disse ao delegado:
— Doutor, o Jerônimo
vivia perturbando o pai dele. Os dois não se falavam tinha um bom tempo. Meu
marido morreu de desgosto. Esse aí também é culpado por essa desgraça.
Antes que o cadáver do
velhote esfriasse, Magali vendeu o que sobrou das posses de Orlando e ferrou todo mundo, ninguém
mais teve notícias dela. A perda foi tão forte, que
Jerônimo anda por aí, sozinho, abandonado, louco, variando, bebendo e correndo
por entre os matos e as estradas.
Ele grita:
— Vou matar, vou matar
essa desgraçada.
Jerônimo afirma
veementemente, que a madrasta mandou dois caboclos matá-lo:
— Esses dois não
descansam, passam dia e noite rondando minha casa.
A última vez que o viram,
Jerônimo sentava numa encruzilhada, armado com seu machado de lenhador, à
espera de Magali e seus dois capangas.
Segundo a língua do povo:
— O espírito de Orlando
se apossou do corpo de Jerônimo e quer vingança.