Novos fanzines têm impressão melhor acabada e podem custar até R$ 200

POSTADO POR: admin sáb, 26 de janeiro de 2013

Nos anos 80 e 90, o jovem que não teve uma banda, teve um fanzine. Ou, pelo menos, colecionou algum. Feitos em xerox, dobrados em quatro a partir de uma página A4, grampeados, repletos de desenhos, protestos, entrevistas, colagens, as pequenas revistas eram um ícone — e um termômetro — da cena underground em todo o mundo. A popularização da internet fez alguns títulos morrerem, ou virarem fotologs, blogs, sites. No início dos anos 2000, o movimento zineiro perdeu um tanto de força. Não era mais tão simples circular pelo Rio e voltar para casa com a bolsa cheia deles, como costumava acontecer, a troco de poucas moedas.
De uns tempos para cá, no entanto, novos zines começaram a pipocar. É possível comprar novos títulos em feiras de arte, como as que costumam acontecer na Comuna, em Botafogo, e na antiga fábrica Bhering, no Santo Cristo; em lojas alternativas, como a La Cucaracha, em Ipanema; e na própria internet, nos sites dos autores. Algumas têm status de objetos de arte. Há zines com excelente qualidade gráfica, que não devem nada a livros sofisticados, com mais de 300 páginas. Alguns chegam a custar R$ 200.
— O que renovou o interesse foi o barateamento das técnicas de impressão. Não há mais aquela fissura em fazer tiragens de 20 mil exemplares. Dá para fazer bem menos — diz o ilustrador carioca Ramon de Castro, o Zé Colmeia, de 35 anos, zineiro e colecionador há mais de 20. — Há uma boa quantidade de zines com foco em artes plásticas, o que renovou a linguagem das publicações.

Prova disso é o novo zine do próprio, “Favo de fel” (R$ 30), que acaba de ter a segunda edição lançada. Com 302 páginas, é praticamente um livro de arte que reúne o trabalho de ilustradores brasileiros e estrangeiros, formando um diversificado panorama da ilustração alternativa (estão lá o sérvio Aleksander Zograf, o mexicano CHema Skndl, o alemão Oliver Schulze e o coreano Xin).
Artista plástica com trabalhos expostos na livraria Blooks, no Arteplex, em Botafogo, a carioca Mariana Moysés lançou em março do ano passado o fanzine bimestral “Falafel” (R$ 5) em parceria com o namorado, o também artista plástico Elvis Almeida, para divulgar o trabalho de novos artistas nacionais. A última edição foi em dezembro. O casal é oriundo da nova geração do “Ateliê de Bravura” da Escola de Belas Artes da UFRJ (é o apelido do Ateliê de Gravura da instituição):
— Nas primeiras edições demos mais ênfase à ilustração, mas já estamos planejando outras com fotografia, colagem, contos e poesias — antecipa Mariana, cujo trabalho autoral chamou a atenção da editora Rachel Araújo, dona d’A Bolha Editora, que também distribui o “Falafel” na sede de sua livraria, no terraço da antiga fábrica Bhering.

De olho nesta arte bruta, Rachel vai lançar, em março, o primeiro volume do artista carioca Rodrigo Martins, o “Quadratura”.
Além dos novos títulos cariocas, o brasiliense “Fabio” (R$ 2) também é um exemplo desta renovação de linguagem das publicações independentes. Feito por três ilustradores que trabalham juntos, “para desanuviar das ilustrações que fazem sob encomenda”, o título da publicação é uma homenagem ao ilustrador Fabio Zimbres, considerado o guru da geração de zineiros. É um projeto ousado: desde 1° de janeiro, eles assumiram o desafio de fazer um zine por dia, até completarem 100 edições, recheadas de desenhos próprios.
— Vendemos duas assinaturas: a “assinatura de fé”, para comprar de uma vez só as cem edições, por R$ 200, e a “assinatura desconfiada”, que é de 30 edições, para quem não acredita na saga completa — brinca André Valente, um dos autores, que já vendeu 13 “de fé”. — É a nova maneira de editar: imprimimos sob demanda, não tem encalhe. Só faz sentido manter um zine hoje em dia se ele tiver uma impressão interessante. Sem um suporte físico bacana, basta a internet.

A “morte do zine” é uma discussão tão acalorada quanto um provável fim dos livros — ou dos jornais. O ilustrador paulistano Flávio Grão acompanhou o movimento da rede: começou a fazer zines no final dos anos 80, no movimento punk do ABC paulista, experimentou formatos e linguagens, deu uma parada entre 2000 e 2010, quando retomou a paixão com a publicação de “Manufatura”. No último mês, ele lançou o volume 3, que batizou de “Endoapocalipse”, com uma versão caprichada em capa dura ao custo de R$ 80.
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