Não havia mais ninguém em seu funeral

POSTADO POR: admin ter, 06 de maio de 2014

Primeiro, mordeu a cabeça.
É sempre assim! Do mesmo jeito de sempre, quando chegam aqui, realizam expressões espantadas.
Olham minha barba enorme e meus cabelos até a cintura e se apavoram com o branco que os cobre, com minha face surrada pelo tempo.
Eu sei que não esperavam ver um velhote com uma perna mecânica. É quando aponto a pistola para as fuças deles e aviso que é uma medida de segurança.
Vivo em um bunker subterrâneo há anos, eu mesmo o idealizei. Fica nas montanhas. Gosto de solidão. De música clássica. Do Goya. Da morte.
Quem vem aqui sabe que antes de tudo, traz um cadáver, e nunca imagina o que vai acontecer.
Recebo a grana sempre antes do corpo. Ou é assim ou não é.
O último que veio ficou de olhos arregalados e boca aberta o tempo todo. O Goya é fascinante, merece ser visto em ação.
Logo que me entregou o corpo, olhei bem em seu semblante. Havia um orifício de bala em sua testa.
Seus cabelos longos e negros adornavam sua pele branca. Não perguntei nada sobre ela. Não se deve.
Os corpos chegam sempre sem roupa e muito bem limpos. É uma exigência que faço.
Logo que abri a porta do terrário percebi que o Goya se estimulou. Nós nos conhecemos muito bem.
A moça não tinha mais que cinquenta e cinco quilos. Quando abocanhada, foi facilmente arrastada para perto dele.
Um píton-real com dez metros de comprimento possui força descomunal. Seus dentes curvados prendem tudo que alcançam e nunca mais largam.
Goya deslocou seu maxilar e engoliu a cabeça com facilidade. Não havia mais ninguém em seu funeral. Só a gente.
O babaca que trouxe a garota parecia petrificado. Eu o entendo, porque não é sempre que se tem a chance de ver o que ele via.
Não demorou muito e não restava corpo algum. Olhei nas fuças dele e sem hesitar, mandei uma bala em sua cara.
Sem testemunhas, amigo, é assim que se faz.
Tirei a roupa dele e lavei seu corpo. Depois o coloquei no freezer. Logo que Goya digerir a garota, será a vez dele.