MEDO – Um Conto de Duas Irmãs

POSTADO POR: admin qui, 01 de maio de 2014

Medo (Janghwa, Hongryeon)

Diretor: Kim Jee-Woon
Roteiro: Kim Jee-Woon
Ano: 2003
País: Coréia do Sul
Atores: Kap-su Kim, Jung-ah Yum, Su-jeong Lim
Medo é um daqueles filmes que… Espera! Antes de qualquer coisa, por que diabos o filme foi lançado como Medo se o título original é UM CONTO DE DUAS IRMÃS? Faz muito mais sentido… Enfim…
Após um tempo no internato, duas irmãs retornam para casa, onde tem que lidar com a madrasta tentando assumir o lugar da mãe, que morreu. As irmãs não a aceitam, ao mesmo tempo em que tem de processar a perda da mãe. O pai, ausente e de poucas palavras. A madrasta oscila entre uma mulher mentalmente instável e seu desejo por realmente ser aceita como a nova mãe. Relações totalmente interligadas pela tensão.
Um Conto… (Me recuso a chama-lo de Medo) é baseado no conto A História de Janghwa e Hongryeon, uma história coreana da dinastia Joseon. Seus nomes remetem aos originais, que significam Rosa Flor e Lotus Vermelha. Pois os nomes das meninas, Soo-Mi e Soo-Yeon significam Rosa e Lotus.

Este filme merece atenção pelo misto de excelências. Seu equilíbrio entre o terror e o drama emulam o que há de melhor no encontro dos gêneros, aliado aos pontos de interrogação que surgem no decorrer devido sua construção, e que, mais à frente, encontram suas respostas. Mas para isso, é preciso ter a mente astuta. Um Conto… não foi feito para espectadores preguiçosos. Esperando deste um filme onde você apenas assiste, recebe tudo mastigado e ponto final, saiba que se frustrará. E muito. Não sendo suficiente, as chances de espalhar que se trata de um filme sem pé nem cabeça e por isso é péssimo são enormes. Infelizmente tal ação é mais frequente do que parece. Inúmeros trabalhos são arduamente criticados por que uma parcela considerável não os entendeu. Mas enquanto existir aqueles que insistem em transformar filmes em sinônimo de passividade, tais comentários sem nexo continuarão correndo por aí.

Parece contraditório como um filme que, em vários momentos, dá um nós em nossos cérebros, consegue manter-se coerente e lógico. E em meio a essa complexidade permanece o clima proposto, que não oscila nem nos momentos mais lentos. Tudo em meio a planos e ângulos utilizados que explicam muito do que está sendo apresentado, numa sutileza tamanha e intencional.
Sua estética gótica e monocromática, passando por todas as possibilidades de vermelho, potencializa o clima estranho e instigante, fugindo totalmente das sombras e tons escuros bastante utilizados nos filmes do gênero. Vide que suas cenas de maior tensão acontecem no claro. Não se trata uma crítica, mas seria decepcionante uma obra construída de maneira tão singular utilizar-se de elementos técnicos tanto quanto comuns. Isso não descaracteriza o gênero. Pelo contrário, agrega valor a tal, mostrando que os limites do mesmo encontram-se na criatividade de seus idealizadores. Consequentemente, quando um trabalho recebe tal tratamento, nós, espectadores, nos vemos diante uma intensa experiência que nos obriga a ampliar o olhar, muitas vezes condicionado a regras e padrões estabelecidos pela repetição das fórmulas de sucesso. Costumo dizer que, para cada excelente filme lançado, “segundos” depois somos soterrados por uma avalanche de variações sobre o mesmo tema. Infelizmente, nessas avalanches, são pouquíssimos os bons trabalhos que as compõe.

Curiosamente, a história apresentada em Um Conto… é basicamente, simples. O que não significa rasa. E sua construção comprova tal, aprofundando na complexidade e nos pontos-chave da história sempre muito bem trabalhados. Apresentando concretude ao invés de devaneios e possibilidades malucas a fim de amedrontar o espectador. O mesmo pode-se dizer das atrizes.
Além de todo o cuidado estético e no roteiro, sua trilha sonora, que aparece pincelada nos momentos certo ao decorrer da obra, também foge do esperado, tão curiosamente diferente do esperado, lembrando a música tema do incrível I Saw The Devil, dirigido pelo mesmo diretor.
Infelizmente Um Conto… teve um remake americano que transformou a obra-prima num pedaço de asfalto. Passe longe da regravação (esta lançada com o nome correto) exceto se quiser perder tempo.
Curiosidades:
-A atriz Gianna Jun recusou o papel de Soo-mi por achar a história pesada demais. Curiosamente seu próximo projeto era outro filme de terror (Inyong Shiktak), que foi traduzido para o inglês como The Uninvited,título da péssima adaptação americana. O diretor, inicialmente, a queria no papel de Soo-mi.
-Su-jeong Lim, que atuou como Soo-mi, fez audição para o papel de sua Irã, Soo-yeon.
Premiações:
-Blue Dragon Awards – 2003 – Atriz revelação – Su-jeong Lim
-Brussels International Festival Of Fantasy Film – 2004 – Atuação – Jung-ah Yum
-Fantasia Film Festival – 2004 – Filme mais popular – Kim Jee-woon
-Fantasporto – 2004 – International Fantasy Film Award – Melhor Filme – Kim Jee-won. Melhor diretor – Kim Jee-won. Melhor atriz – Su-jeong Lim. Orient Express Section Special Jury Award – Kim Jee-woon
-Gérardmer Film Festival – 2004 – Grand Prize – Kim Jee-woon. Prix13ème Rue – Kim Jee-woon. Youth Jury Grand Prize  – Kim Jee-woon.
-Screamfest – 2003 – Kim Jee-woon
Indicações:
-Chlotrudis Awards – 2006 – Melhor atriz coadjuvante – Jung-ah Yum
-Sitges – Catalonian International Film Festival – 2003 – Melhor filme – Kim Jee-woon
E qual o pensamento que tirei sobre?
Gosto é pessoal e o que causa medo é subjetivo. Ninguém é obrigado a gostar de nada. Mas não gostar por que não entendeu é como dar um tiro na própria cabeça querendo acertar o alvo à frente. Isso vale pra todos os diálogos entre você e um trabalho artístico, não importa qual… Quando não entendemos algo, nada mais justo que ir estudar sobre, conversar e assistir novamente. Daí, se não gostar, ok. Você tem todo o direito, desde que tenha entendido.
Agora, se você prefere a versão americana. Sinto dizer, mas você merece morrer… #risadasdemoníacas

Você confere o trailer (Legendado em inglês) aqui: