Mausoléu de Memórias

POSTADO POR: admin qua, 01 de dezembro de 2010

01 de dezembro de 2010
Quando saímos do ninho (casa dos pais) levamos conosco apenas o que julgamos necessário para sobreviver na selva lá fora longe de nossos progenitores. Na lista de equipamentos constam suas roupas mais bacanas, seu colchão, seus livros ainda não lidos (para quem tem o maravilhoso hábito da leitura), seus CDs antigos (na era MP3, apenas para fins decorativos) , seu computador e tudo mais que estiver duplicado na casa,..
“Mãe!!! Posso ficar com a TV e o aparelho de DVD da sala já que a senhora já tem os do seu quarto??”.
Nessa pressa de galgar mais um degrau da vida, e principalmente de nos livrarmos dos grilhões paternos, acabamos deixando para trás, por puro descuido, pedaços valiosos de nós mesmos. Transformamos a casa dos nossos pais em um enorme depósito de memórias, com fotos, enfeites, anotações pessoais e caixas e mais caixas de lembranças que sussurram fragmentos da nossa história.
Quando se retorna ao lar para uma visita e se depara novamente com o seu velho e empoeirado quarto (caso seu irmão caçula não o tenha tomado de assalto) se recebe de volta, de uma vez só, toda aquela carga de momentos que ocorreram em etapas durante anos da nossa vida, transformando seu antigo refúgio de adolescente, em uma verdadeira máquina do tempo.
E eu estou fazendo uma dessas viagens nesse momento…
Cada item contido nesse ambiente é meticulosamente catalogado pela minha mente, basta que eu os toque para reviver momentos, cenas, locai, pessoas,… Até mesmo as marcas de sujeira impressas nas paredes me contam alguma situação, assim como as queimadas de cigarro na beirada da minha antiga escrivaninha que tanto incomodavam minha mãe.
“Porque você simplesmente não usa a porra do cinzeiro menino?!”.
Está tudo ali,…ou melhor, eu estou todo ali.
Claro que em alguns casos pouco se salva dessas preciosidades depois de deixarmos nossos cantinhos desguarnecidos serem invadidos pelos nossos irmãos que saqueiam tudo que julgam útil ou bacana e pelos nosso pais que definem todo o resto como entulho inútil e se aproveitam da nossa ausência para se livrarem de todas as ‘tralhas’.
“Não acredito que a senhora doou toda a minha coleção de quadrinhos para um orfanato?!”
Minha coroa teve o bom senso de preservar cada arquivo da minha memória, e olha que são muitos. Alem das pilhas de livros e revistas cuidadosamente adquiridos por anos (alguns de extrema raridade com o intuito de funcionar como investimentos em longo prazo) ela também preservou as dúzias de cadernos espirais que foram meus companheiros por anos, onde eu ensaiava alguns dos meus escritos e despejava o que antes eu definia como ‘angustia’ de viver e agora sei que são apenas ‘aprendizados’ da vida.
Garimpando esses ‘tesouros’ fui ainda mais longe nessa nostalgia, me redescobrindo em cada linha daquelas palavras mal escritas, puras e imaturas. Feito um diamante bruto sem nenhum sinal de lapidação pelas navalhadas da experiência. Coisas que hoje me envergonhariam profundamente se lidas em público.
Talvez se salve algum luxo meio a tanto lixo inexperiente, uma frase aqui, outra ali,… e talvez eu possa resgatar alguns textos. Quem sabe com um pouco de massa e muito reboco eu possa restaurar alguma das coisas que inevitavelmente perdi com a idade.
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