Mastigando Humanos (Santiago Nazarian)

POSTADO POR: admin sáb, 28 de junho de 2014

Quando se é um leitor experiente, e eu me incluo nessa categoria, a gente acaba criando certa soberba em relação as nossas leituras. Concluímos, com uma estúpida prepotência, que já conhecemos todas as fórmulas, formatos e caminhos viáveis de se construir uma boa história. E ser surpreendido nesse ramo, é algo que só se espera dos famosos clássicos do passado. Mas no fundo, toda vez que iniciamos uma nova leitura, tudo que queremos é encontrar um autor que quebre esse paradigma. E eu acho que esbarrei com um destes há algumas semanas atrás.
Toda vez que visitava uma livraria, esse livro sempre chamava minha atenção em meio às prateleiras, fosse pela capa, pelo título ou pelo conjunto da obra. Mas quando eu lia sua orelha e contracapa (e isso ocorreu repetidas vezes), as indicações davam um nó em minha cabeça e seu conteúdo parecia maluquice demais, até mesmo pra uma pessoa como eu. E por conta disso, eu folheava o exemplar, mas ele nunca entrava na minha sacola de compras.
Hoje eu teria que conviver com um arrependimento a mais em minha vida se o mesmo título não fosse pauta de um evento literário que participei e fui agraciado com o livro “Mastigando Humanos” (Editora Record, 175 páginas), além de assistir uma interessante palestra com o autor Santiago Nazarian.
Preferi não ignorar os avisos do destino e parti para essa leitura, plenamente convicto de que isso não poderia ter sido coisa do acaso.
Começando pelo fato de que aqui temos um jacaré falante como protagonista, já imagino o leitor deste texto torcendo o nariz, como eu mesmo já o fiz. É claro que é bem mais plausível identificar-se com uma personagem de origem humana, mas como Kafka fez milhares de pessoas sentirem-se como uma barata certa vez, Santiago Nazarian pode perfeitamente te transformar em um réptil faminto, em um cachorro infiel ou até mesmo num roedor capitalista. Basta que você lhe dê a oportunidade e morda as primeiras páginas desse livro, que logo estará empanturrado pelo pecado da gula e devorará todo o seu conteúdo. Se possível, numa bocada só. E quando digo isso, não é um exagero ou apenas figura de linguagem, mas uma predisposição do próprio formato da obra, curiosamente escrita sem a tradicional divisão de capítulos. Sendo assim, o leitor não encontra um bálsamo em seu mar de palavras ou uma pausa sequer para engolir seus parágrafos.
Quando sua mente aceitar esse argumento, sua próxima barreira será entender o quão interessante pode ser a vida monótona de um animal de sangue frio que vive basicamente para comer e dormir. Mas o autor não precisa de muitas páginas para te convencer que o seu jacaré é bem diferente do que se espera. Seu lar é o esgoto subterrâneo de uma grande cidade, suas companhias são astuciosos animais urbanos (o que inclui os humanos) e seu cardápio é tudo que se pode encontrar em um cenário degradante como esse.
E aonde isso vai parar? Bem, Isso eu não posso contar. Mas posso garantir que você será surpreendido pelos rumos que esse enredo pode te levar. A dinâmica que o autor imprime a história faz um divertido contraponto com a vagarosidade estereotipada do protagonista que, ao mesmo tempo em que luta para sobreviver em um ambiente totalmente hostil, também tenta entende-lo e encaixa-lo em suas classificações reptilianas.

De pé na porta, esse livro chega ocupando seu espaço entre a lista dos meus favoritos, um lugar digno depois do esforço conspiratório do universo para que ele chegasse as minhas mãos. 
Por fim, toda essa resenha pode perecer em vão. Essa é o tipo de obra que a interpretação muda dependendo da própria experiência de vida do leitor que a acompanha. Claro que você sempre pode seguir a linha de pensamento original do autor, mas não creio que fosse a intenção de Nazarian. Após concluir essa leitura, use seu conteúdo para abocanhar a sua fatia suculenta de gordura desse mundo irritadiço.

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