Manifesto do Nada na Terra do Nunca (Lobão)

POSTADO POR: admin ter, 25 de junho de 2013

Tanto já se falou, julgou e criticou esta obra antes mesmo de seu lançamento, que eu mal podia esperar para ter a oportunidade de examinar suas páginas e poder tirar minhas próprias conclusões. 
Depois de expor seu passado em carne viva na biografia ’50 Anos a Mil’, em seu segundo lançamento literário o músico Lobão agora traça um paralelo do seu presente, com o do momento sociocultural do nosso país. Um emaranhado de lucidas ideias que remam contra a maré só pra exercitar os cerebelos mais resignados. Um ensejo pertinente que não poderia ter vindo em momento mais oportuno.
Assim classifico o ‘Manifesto do Nada na Terra do Nunca’, o livro mais sabotado desse século. Talvez, se Lobão tivesse assuntado sobre o Papa, a igreja, e a sociedade judaico-cristã-ocidental, não fosse crucificado com tanto requinte de crueldade pela mídia nacional que deu tudo de si para que os exemplares fossem vendidos apenas para serem usados como combustível de alguma fogueira medieval onde, se possível, queimariam o próprio autor. Uma antiga prática conhecida dos meios de comunicação de massa, que em outros tempos sempre continham a fera sobre grilhões ao descredibilizar suas palavras junto a opinião popular.
É como tentar invalidar um legítimo protesto popular, focando as notícias em apenas meia dúzia de baderneiros que estragam uma manifestação. Mas acho que hoje em dia já vimos o suficiente disso por aí para não nos deixarmos levar. Dessa vez o tiro saiu pela culatra e o Manifesto foi quase que como um uivo libertário, que despertou a fúria de muitos, e convocou alcateias inteiras que hibernavam nos pontos mais longínquos do país.
Quem há poucos meses atrás julgou esta obrar sem sequer ler seu conteúdo, agora deveria ser expulso de qualquer manifestação popular por falta de incoerência política, a exemplo do que tem sido feito com os militantes de partidos.
Em seus diferentes capítulos, parece que o músico reforça seu sentimento solitário de ser o último remanescente de uma geração que teve vidas e línguas mutiladas, sendo assim, procura abordar o máximo de assuntos exequíveis, indo da MPB a política separando os assuntos por ‘vírgulas’, permitindo ao leitor apenas um breve suspiro antes de prosseguir com a leitura. E, acredite ou não, as partes exaltadas como ‘polêmicas’ pela crítica representam uma porcentagem tão pequena da obra, que se você não estiver procurando por confusão, esses trechos acabam passando despercebidos, tal qual a sutileza e serenidade que são tratados.
A obra também se utiliza de um humor que foi ignorado, ou não foi entendido, pela maioria dos críticos. Ao narrar suas últimas passagens como integrante do programa ‘A Liga’, Lobão se vale de um jeito ‘moleque’ e divertido para contar sua experiencia nos garimpos do coração da Amazônia, e a cilada em que foi posto pela produção da emissora em uma festa de sertanejo universitário. Deixando esses capítulos com cara de ‘extras’ da sua já publicada auto-biografia.
Considero este, um dos melhores e mais importantes, livros de contracultural nacional deste século, e diante do sentimento de insatisfação geral da nação, simplesmente não entendo como publicações como esta não surjam as dúzias nos catálogos das grandes editoras. 
Felizmente esse é outro ponto que Lobão também alveja nas seguintes palavras:

“Somos obrigados a admitir que estamos lidando com sociopatas que não possuem o menor senso de autocrítica e anseiam por aniquilar a convivência com oposições e qualquer tipo de adversário.” 

“Uma parte substancial da população exige saber a verdade integral. E isso não pode nos ser negado. Qualquer cidadão brasileiro, independente de partido, credo ou convicção político-religiosa, tem o direito de pleitear ao governo e, ao mesmo tempo, à Comissão da Verdade, todas as faces da história. De outra forma, a Comissão da Verdade será apenas uma patética Omissão da Verdade.”

E com essas ‘rosnadas’, o músico, compositor, e agora escritor, mostra que um velho lupino pode até perder seus dentes com a idade, mas nunca perde o seu instinto.

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