Maldição só de mãe

POSTADO POR: admin dom, 13 de maio de 2012

Mãe é sagrada,… mas também não tem coisa pior do que maldição de mãe. E é beirando essa dualidade bíblica que eu gostaria de recordar de uma singela história, dessas com ‘moral’ no final, que minha mãe sempre contava visando a minha formação como homem adulto, e que evidentemente hoje em dia faz parte do que sou. Se não me falha a memória, ela reforçou muito essa lição, contando e recontando a história, durante os meus cinco ou seis anos de idade, até que estivesse certa de que eu havia finalmente absorvido a tal moral.
É mais ou menos assim…

“Em um belo dia de feira. Um menino de família pobre surrupiou uma laranja
de uma barraca de frutas e foi direto correndo a sua mãe contar feliz o seu
feito.

-Olha mãe! Peguei uma laranja na feira pra gente.
E eis que sua mãe respondeu.
-Nossa! Que bom meu filho.
E ambos dividiram o produto do furto.
Nas semanas seguintes a cena sempre se repetia. Cada vez o menino
voltava pra casa com frutas ainda maiores, cachos de bananas, mamão, abacaxi e
até uma melancia, sempre com a mesma reação apática de sua mãe. A habilidade do
garoto era inegável, e durante alguns anos isso lhe bastou.
Até que o menino cresceu e tornou-se um homem. E junto com ele, também
foi crescendo a gravidade de seus delitos. As frutas haviam ficado em um
passado humilde e agora ele já era um conhecido ladrão de bancos, mas ainda
assim nunca abandonou o hábito de retornar para casa e contar suas ações para a
mãe que sempre respondia da mesma forma.


Até que em uma jogada criminosa mal sucedida, o rapaz acabou sendo
capturado pela polícia, e sentenciado pela justiça a morte na cadeira elétrica.
Já sentado no instrumento fatal e preparado para o seu triste fim, o
condenado implora para reencontrar sua amada mãe como um último pedido.
Comovidos com o caso, as autoridades presentes resolvem atende-lo. A mulher é
trazida até a sala de execução onde encontra seu filho amarrado à cadeira,
imóvel. Ele olha em seus olhos e suplica:
-Mamãe, eu nem posso tocá-la. Chega mais perto pra eu poder te dar um
beijo.
Ela aproxima seu rosto do dele com ternura e usando o único movimento
que dispunha, o filho morde o nariz da mãe e com uma puxada rápida o arranca na
dentada. Todos se desesperam no recinto. Ele cospe no chão a mistura de carne
com sangue e explica seu ato para a mãe que agoniza de dor a sua frente.
-Isso é por que a senhora nunca me corrigiu quando eu comecei a roubar
ainda criança!”
.
A moral da história?
Naquela época, e com aquela idade, eu achava que a grande lição que se
tirava disto tudo era ‘Não roube’. Até por que, eu não tinha a menor ideia do que era uma ‘Cadeira
Elétrica’.
Já na fase da minha rebeldia adolescente, eu acabei dando uma nova
interpretação a história, e comecei a achar que deveríamos punir nossos pais
pelos erros que cometerem durante nossa formação, nem que seja a última coisa
que façamos na vida. Percebe-se que neste período eu já sabia bem o que
era uma ‘Cadeira Elétrica’ e também que não existia tal coisa em nossas leis.
Mas esse menino aqui também cresceu e tornou-se homem, e hoje eu acho
que não era pra mim que minha mãe repetia essa história.