Lançamentos do Selo Tordesilhas para o mês de Fevereiro/2015

POSTADO POR: admin sex, 20 de fevereiro de 2015

A nossa parceira Tordesilhas nos passou a importante missão de avisar aos nossos leitores os lançamentos de Fevereiro que eles acabam de lançar no mercado literário. Confira abaixo:

✔ Para onde vamos quando desaparecemos?, de Isabel Minhós Martins
Par sem uma meia, praia sem areia. Para onde as coisas vão quando desaparecem? A areia vai parar noutra praia. Já o sumiço das meias… este atravessa largas distâncias. No Brasil ou em Portugal – onde este livro foi originalmente publicado pela editora Planeta Tangerina –, não importa. Há sempre uma meia sozinha, esperando para ser reunida a seu par. E a outra, desgarrada, por vezes acaba reaparecendo, e sempre em lugares inacreditáveis, sem ninguém saber direito como foi que tudo aconteceu.
Esse é um dos mistérios da vida, que os distribui em bandejas. Para onde, por exemplo, vão as nuvens e as poças d’água? O barulho quando se faz silêncio? São perguntas simples – no estilo da clássica “Por que o céu é azul?”, que quase todos os pais já devem ter escutado –, mas imbuídas de uma reflexão muito mais profunda: para onde vai o que não está mais aqui?
Recorrendo a analogias leves e a mistérios do cotidiano que comumente suscitam dúvidas na cabeça dos pequenos, Para onde vamos quando desaparecemos? trata da morte de forma sutil, sem, em qualquer momento, falar explicitamente sobre ela. Essa ausência, inexplicável para quem fica e se questiona, pode ser muito angustiante para a criança, mas é irreversível e certa para todos os que vivem – e é por isso que precisa ser trabalhada junto a ela.
Escrito e ilustrado pelas portuguesas Isabel Minhós Martins e Madalena Matoso, referências do atual cenário infantojuvenil internacional, Para onde vamos quando desaparecemos? chega às prateleiras para ajudar pais e educadores na desafiadora tarefa de conversar de forma tranquila com os pequenos sobre a finitude da vida.
✔ O que não existe mais, de Krishna Monteiro

Krishna Monteiro é um escritor excepcional no modo como maneja as palavras e trata seus temas: memória e desajuste, solidão e renascimento. O tema da memória é adiantado no título e se desenrola ao longo dos sete contos do livro. Em “O que não existe mais”, um filho é perseguido pela imagem viva do pai: “Na primeira vez que te vi depois de tua morte, tu estavas na sala, de pé em frente à minha estante e aos meus livros”. Usando artifícios narrativos como o sonho dentro do sonho, Krishna enreda leitor e personagem numa miragem, como aquelas com as quais nos deparamos quando achamos ter visto alguém já falecido no rosto do familiar dele.
É por meio da memória que se reproduzem histórias, como bem sabe o autor, que explora o universo de sua transmissão oral em “Alma em corpo atravessada”. No conto de encerramento do livro, o narrador, junto a outras crianças, ouve à noitinha e ao pé do fogão casos narrados por uma mulher sem nome que, como acompanhamento, mexe as mãos sobre as chamas, produzindo sombras ilustrativas. A doença dela, entretanto, interrompe a diversão, e com o tempo as crianças vão deixando a casa. Anos mais tarde, o narrador revisita o lugar, que abriga as lembranças afetivas de outrora; os elementos do espaço são “cântaros para o interior dos quais fluiu, durante anos, sem que percebêssemos, a memória do que se disse e encenou entre as paredes”. Embora a solidez da estrutura de uma casa remeta a algo acabado, fechado, a memória se caracteriza exatamente pelo contrário: está eternamente recontando a si mesma, dando novo significado a momentos, lugares e pessoas que já não existem mais – mas que, num inerente paradoxo, estão a renovar sua existência a cada lembrança.