Homens covardes e mulheres incríveis

POSTADO POR: admin sex, 14 de setembro de 2012

Homens covardes e
mulheres incríveis

Milena do quarto azul

Primeiro ela escreve por e-mail:
– Está muito ocupado hoje? Quero falar com você.
Horas depois eu olho para o lado e vejo a cabeleira ruiva
voando com o vento, o sorriso sacana mais expressivo de todos; a estrada virando
tapete para a comitiva passar.
O rádio do carro tocava This
Love, do Maroon 5…
Coisa dela.
– Está com uma cara péssima… – Disse Milena, sem tirar por
muito tempo os olhos da estrada.
– Estou péssimo por inteiro. Mas você tem o dom
de melhorar as coisas.
– Apertei sua coxa direita, e a beijei no canto da boca.
Milena é arquiteta das boas, trabalha com gente importante,
teve um “casamento dos sonhos”, três filhos (um deles é super inteligente); tudo
que uma ‘mulher normal’ gostaria de ter. Um dia, resolveu dar um chega pra
no marido empresário para viver sua vida sozinha. Até os filhos ficaram morando
com o cara. Uma vez perguntei o motivo da separação, Milena respondeu que
precisava caminhar por aí. Estava sufocada. Queria ser invisível para o mundo.
Chegamos à bela casa de Muriqui.
Ficamos trancados no quarto azul daquele casarão por dois
dias, novamente.  Ela tinha uns 45 anos e eu 28, ou
melhor, ela não tinha mais do que 20 anos na alma e no corpo… E eu? Uns 200.
– Vem morar comigo…
– Nem pensar.
– Por quê?
– Você me devoraria a alma.
-…Garoto covarde.
– Sim.
Não era covardia, não de todo, o fato é que Milena me parece
mais mulher do que eu poderia suportar. 
Eu não seria bom padrasto, bom marido, bom companheiro, bom nada…
– Eu não sou homem para você, Milena. Você merece coisa
melhor. Nem eu casaria comigo.
– Eu quero cuidar de você, seu babaca!
– Esqueça isso.
Após três dias voltamos para o Rio. Ao me deixar em casa,
Milena disse que não ligaria mais. Não perguntei motivos. Acenei com a cabeça, positivamente, e entrei.
No fim ela não ligou mesmo. Mandou alguns e-mails, mais
tarde, falando sobre os meus livros, desejou sorte e muito sucesso na caminhada.
 O chato de receber esses e-mails é que
só consigo lembrar do quarto azul, o corpo lindo que se manteve eternamente
jovem, as garrafas vazias pelo chão do quarto, a estrada, o cabelo vermelho
grudando na pele suada, a rebeldia de ser, os detalhes, os sinais atrás do pescoço…  As expressões distintas em cada momento.
Fico pensando em quantas vidas interessantes deixei passar
no egoísmo racional da minha solidão. Fico pensando em quantas vidas minhas deixei de viver.
Saudades do quarto azul…