Fuga dos Mortos (conto interativo) – Final

POSTADO POR: admin sex, 17 de maio de 2013

Este é mais um capítulo da terceira temporada do nosso projeto ‘Conto-Interativo’ que ocupou espaço nas últimas quintas deste blog. A ideia consistiu em apresentar contos curtos e interligados, onde ao final de cada um, foi apresentada uma enquete com opções para que o público decidisse a próxima ação do personagem, assim participando do enredo e influenciando diretamente no final da história.
E lamento dizer que devido a opção escolhida pela maioria do público na última enquete, hoje chegamos ao capítulo final de ‘A Fuga dos Mortos!’.

Para acompanhar seu conteúdo e entender como tudo começou, seria sensato que você lesse os capítulos anteriores:
PARTE 1 – PARTE 2 – PARTE 3 – PARTE 4

Anteriormente, em Fuga dos Mortos…
…Com a arma em punho ele olhou pra baixo e não conteve as lágrimas quando viu Mauro agarrado ao seu calcanhar pedindo ajuda com um olhar desesperador enquanto o zumbi obeso rasgava sua carne feito um sem teto fuçando em sacos de lixo. 
Mirou na criatura e atirou. Pow! Um tiro certeiro bem na testa. 
O corpo caiu pesado sobre Mauro, que ao mesmo tempo soltou seu último suspiro. Afrouxando os dedos da perna de Bernardo.
Demorou algum tempo até que se recuperasse do choque. Não saberia precisar o quanto, mas quando voltou a si estava apontando o 38 para o corpo desfalecido do vizinho, e as buzinadas haviam cessado. 
E sem saber direito o porque, isso o preocupou.
Mais uma vez se via em uma encruzilhada e ainda nem era hora do almoço. Nem sabia se sobreviveria até lá. Mas diante de tanto desfortúnio, só havia uma decisão lógica a se tomar… 

Bernardo respirou fundo e tentou se recompôr. Abaixou a arma calmamente e a guardou na cintura, ainda vidrando seus olhos nos dos sem vida de seu vizinho. 
Conformou-se em levar o fardo daquela morte consigo e aos poucos foi se arrastando pelo chão para longe dos corpos e em direção aos suprimentos espalhados pelo assoalho.
De gatinhas, em uma velocidade que aumentava gradualmente, foi recuperando o controle dos músculos e reunindo os alimentos e apetrechos de volta as malas, ignorando a grande quantidade inútil de dinheiro que só servia para atrapalhar seu trabalho do tipo ‘formiguinha’. Enquanto executava a entediante tarefa, só conseguia pensar no som da buzina lá fora. Ou melhor, na súbita ausência dele.
Com a mente dopada de endorfina pelas cenas que acabara de vivenciar, ele imaginava dúzias de motivos que poderiam ter cessado o ‘buzinaço’ lá fora. E nenhuma dessas suposições o agradou.

Com os corpos fora de seu campo de visão e totalmente concentrado no que fazia, Bernardo não teve chance de reação quando os dentes pútridos do cadáver reanimado de Mauro penetraram  em seu calcanhar.
Ele urrou alto. Mais alto que qualquer buzina.
Contaminado pela mordida infecta do zumbi gordo, lamentavelmente o vizinho despertou como um morto-vivo e guiado por uma fome irracional seguiu seu instinto até a carne escura do capoeirista.

Virou-se como pode, e com a outra perna, acertou um belo chute com a chapa do pé bem na face da criatura que rolou para o lado com o maxilar deslocado, deixando alguns dentes cravados na perna do rapaz.
Bernardo sacou o 38 novamente, e pela segunda vez no dia, apontou a arma para o rosto do seu vizinho. Mas dessa vez sem qualquer tipo de hesitação com o gatilho.
Atirou uma vez. Devido a tremedeira acabou errando feio.
Com o apoio da outra mão na coronha do revólver, arriscou um segundo tiro. Esse até que passou perto, mas o esfomeado continuava a rugir.
O terceiro disparo abriu um buraco bem entre os olhos do zumbi. Finalmente estava feito.

Fadigado, ele pesou o olhar sobre o ferimento da perna, lamentando sua falta de sorte. 
Deixou a arma cair de suas mãos e, desesperançado, foi se arrastando em direção aos caixas do mercado. Escorou-se em uma das cadeiras empoeiradas do lugar, e alcançou as prateleiras superiores onde ficavam os cigarros. Serviu-se de um maço, sacou um bastonete de tabaco, e o acendeu com um esqueiro anunciado ao lado em promoção por três e noventa e nove.
Estava há quase cinco anos afastado do vício, e por algum motivo, achou que aquele era o momento ideal para recomeçar com velhos hábitos.
Deu uma forte primeira tragada, e ao expelir a fumaça azulada dos pulmões, proferiu aquelas que provavelmente seriam suas últimas palavras.
– Bom,… É melhor tomar uma decisão errada, do que criar o hábito da indecisão.

*FIM*


Resultado da última enquete
Gostaria de agradecer a todos que votaram e comentaram a cada post, alimentando o projeto, e tornando sua realização viável. 
Espero que tenham gostado da história que construímos juntos. E novamente conto com a participação de todos nos comentários, com um feedback deste final de projeto,… e tá todo mundo contratado para participar da próxima temporada do Conto-Interativo de novo.