Filmes que melhoraram o Livro em que foram baseados,… Segundo seus autores

POSTADO POR: admin sáb, 01 de novembro de 2014

Algum mega estúdio fez um filme baseado no seu livro favorito, e não foi nenhuma surpresa em ver que eles mudaram toda a história?! Hollywood sempre demonstrou que adora os livros, exceto por todo o resto que há dentro deles. Mas, às vezes, quando os planetas se alinham com Alpha Centauro, rola uma certa sincronia de ideias e os diretores acabam fazendo algo direito. Outras vezes, em ocasiões ainda mais especiais, eles fazem a coisa tão bem feita que até mesmo o autor original tem que admitir e exclamar: “Droga! Porque é que eu não pensei nisso antes!?”.
Blade Runner: O Caçador de Androides
Adaptado de: Androides Sonham com Ovelhas Elétricas?, de Philip K. Dick

Qualquer outro autor desta lista ficaria tenso com a possibilidade de uma adaptação cinematográfica acabar com o conceito de sua obra, mas Philip K. Dick deve ser o único que literalmente ‘se lixou’ para o fato. Parece que o autor vivia uma crise emocional pelos anos 80. De acordo com uma carta que enviou aos produtores do filme, ele afirmava ter perdido a fé em todo o reino da ficção científica.
Depois de ler o roteiro inicial, Philip K. Dick pensou que os cineastas retiraram todos os nuances e o significado de sua história, reduzindo-a apenas a um monte de cenas de lutas entre robôs desmiolados e um caçador de recompensas. E aconteceu que todos os seus medos foram justificados. O estúdio acabou forçando um final feliz respaldado por uma voz em off que acabou sugando toda a sutileza do filme.
Infelizmente Dick veio a falecer antes de ver o filme finalizado, mas ele chegou a visualizar algumas cenas iniciais e se sentiu aliviado ao ver que o mundo retratado no filme era incrivelmente “corajoso, detalhado, autêntico e convincente”. Na verdade ele viu os efeitos do filme, que era uma grande novidade pra época, como um novo tipo te expressão visual. Dick viu a coisa muito além do seu próprio livro, e ficou deslumbrado ao imaginar que uma coisa que ele escreveu poderia ganhar tamanha dimensão. Ele morreu logo após compartilhar esses pensamentos com os produtores do estúdio.
Entrevista com o Vampiro
Adaptado de: Entrevista com o Vampiro, de Anne Rice

Anne Rice escreveu sobre o universo vampírico muito antes de virar moda.
Ou, se você preferir: Anne Rice escreveu sobre o universo vampírico quando o tema ainda era legal.
Ou, se você insistir: Anne Rice escreveu ficção gótica e erótica muito antes desses gêneros caírem na falta de credibilidade que gozam hoje em dia.
Tudo começou qm 1976 quando ela vendeu os direitos para a criação de um roteiro baseado em Entrevista com o Vampiro, pela primeira vez. Ela passou as duas próximas décadas lutando contra terríveis versões de Hollywood. Uma dessas tentativas sugeria uma mudança no sexo dos dois protagonistas masculinos ‘homoeróticos’, porque dois homens se beijando era ‘bruto’ demais para a época. Em outra, a menina Cláudia seria interpretada por uma adulta, porque consideravam que crianças mortas (mesmo as morta-vivas) era algo muito deprimente. Em resumo, os produtores tentaram cortar tudo que havia de sombrio e sensual nesse clássico do vampirismo.
Quando o filme começou a ser produzido em 1994, Rice já havia perdido toda a esperança em Hollywood, até que ela descobriu que Tom Cruise faria Lestat no filme. A autora simplesmente enlouqueceu ao saber que o seu personagem mais obscuro seria interpretado pelo mesmo autor que protagonizou Top Gun.
Anne Rice começou a falar mal do filme antes mesmo de sequer ter visto, e deixou claro que não queria nem olhar para o trailer. Foi necessário que um dos produtores fosse até a sua casa com uma cópia do VHS e insistisse com veemência para que ela o assistisse. Assim que o filme começou, Anne Rice explodiu de alegria feito uma tiete. Ela gostou tanto que escreveu uma carta aberta com 8000 palavras para os seus leitores, em que descrevia a produção como “perfeita”, “impecável” e “extraordinário”. Considerou o elenco “maravilhoso” e frisou que Tom Cruise, de quem inicialmente duvidou como ator, deveria ser lembrado eternamente por essa sua interpretação.
Clube da Luta
Adaptado de: Clube da Luta, de Chuck Palahniuk
Palahniuk continua a escrever grandes obras, mas poucas delas foram parar nas telonas até agora. Seu material ainda parece muito esquisito para Hollywood. Tomemos Clube da Luta como exemplo, o diretor manteve o filme o mais próximo do original possível a maior parte do tempo, mas acabou impelido a sair dos trilhos perto do final. No livro, o plano de demolição de Tyler Durden falha, o narrador atira em si mesmo para escapar da sua outra personalidade, e acaba em um asilo que ele acha que é o paraíso. Já no filme, fechamos na visão dos edifícios em colapso com o narrador e seu par romântico, Marla, de mãos dadas. Eles venceram o sistema e viveram felizes para sempre.
É o tipo de clichê otimista que Hollywood adora, mas que você espera que um escritor como Palahniuk despreze solenemente,… Mas, acredite ou não, ele curtiu! Chuck elogiou a forma como o filme conseguiu racionalizar um enredo baseado no livro de forma coerente. Na verdade, Palahniuk ficou tão impressionado com os resultados finais, que chegou a declarar que sentiu “uma espécie de vergonha do livro” em comparação ao filme. Completou dizendo que no fundo sempre quis ver o romance enfatizado como foi feito, não apenas porque ajudaria nas vendas, mas também por causa da verdadeira mensagem da obra: “A história sobre um homem que alcança o limite até onde ele pode se comprometer com uma mulher”
Me parece que o tempo todo ele estava tentando escrever uma comédia romântica, e acidentalmente criou a maior história de violência urbana masculinizada da atualidade.

O Nevoeiro

Adaptado de: O Nevoeiro, de Stephen King
De todos os romances de Stephen King da década de 80, O Nevoeiro é uma das suas histórias mais otimistas. Um monstro estranho ataca a cidade e, depois de um breve impasse, um homem consegue fugir com o seu filho, certo de que a sociedade tenha sucumbido a tal criatura. Mas após ligar o rádio, ouve as seguintes palavras sussurradas pela estática: “Hartford” e “esperança”.
Dessa vez Hollywood decide descartar a tradição de um final feliz, e simplesmente derrama um balde de sangue sobre ele. No filme, o homem e seu filho fogem do supermercado com outros sobreviventes de carro, e a cidade está de fato visivelmente tomada pelo monstro. Mas não há nenhuma mensagem de esperança aqui: O mundo como conhecemos, para todos os efeitos, parece ter desaparecido. E em vez de aceitar o destino de ser morto pela criatura da névoa, o protagonista usa suas últimas balas em seu filho e nos outros companheiros. Então, inutilmente vira a arma vazia contra si mesmo antes de sair do carro para enfrentar seu fim. Em poucos segundos, um tanque se aproxima demonstrando que o exército tem a situação sob controle e já começa a dissipar a névoa. Nosso herói apenas matou seus amigos e seu filho para nada.
Os revisores acharam o novo final “medonho” e “nilista”, e como Stephen King sempre foi uma figura bem presente nas produções baseadas em suas obras (Ele disse abertamente que odiava o clássico O Iluminado de Stanley Kubrick por suas mudanças), todos ficaram surpresos quando o autor declarou ter adorado a adaptação, e que ele mesmos teria escrito o tal final se tivesse pensado nele primeiro. Quando os estúdios inicialmente rejeitaram o roteiro preferindo o final original, o próprio King interveio explicando que os fãs de terror, na verdade, gostariam de ficar assustados e perturbados com o conceito da história.
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