Eu sou roqueiro e carioca, e o ‘Rock in Rio’ não me representa

POSTADO POR: admin qua, 10 de abril de 2013

Para os ‘novinhos’ que acham que o Rock in Rio sempre foi essa
farofada toda, fiquem vocês sabendo que o evento já teve seus dias de glória, e
em sua primeira edição foi até considerado um grande marco político e social na
história do nosso país. Na época o ano ‘coincidiu’ com o fim da ditadura, passávamos por diversas mudanças políticas, e era o começo de uma nova era de liberdade que até hoje ainda não
aprendemos muito bem como usufruir.
Claro que tudo isso ficou em um passado remoto, por que atualmente o
que tentam nos empurrar não é muito diferente de um trio elétrico de um
carnaval baiano. Há muito tempo o evento perdeu o direito de ter o ‘Rock’ em
seu título, e recentemente até o ‘in Rio’ foi colocado em cheque após suas edições extras em Lisboa, e até Madrid. O Rock in Rio, o verdadeiro Rock in Rio, deveria
conter todo a atitude que o seu nome sugere, o grito de sua geração,… Claro, daqueles
que realmente têm algo a dizer. Me diz qual o tesão em ir à um grande show que o
seu vizinho arrota todo dia que já comprou o ingresso antecipado? Aquele mesmo
vizinho que te irrita diariamente com um terrível gosto musical. Pense um pouco,
você quer mesmo ser visto nos mesmos lugares que ele frequenta?
O Rock in Rio tornou-se uma marca fraudulenta, e se algum dia frequenta-lo
já foi um status de rebeldia, hoje nada mais é do que um atestado de
desorientado. Deveriam ao menos respeitar tudo que o evento já representou, e deixar
que ele descanse em paz e seja enterrado junto com tantos roqueiros, de verdade,
que já passaram pelos seus palcos.
E porque ainda ostentar este ‘in Rio’? Só pra embarcar no marketing da
Cidade Maravilhosa? Porque sabemos bem,… Eu sei bem como carioca, que o Rio
de Janeiro não tem cultura Rock in Roll suficiente, me desculpem, nem pra
encher a Rua Ceará na Praça da Bandeira. Porra, a coisa toda é tão incoerente,
que o símbolo do evento é uma guitarra, e quase tudo que se escuta no Rio
provém de voz e violão.
Mas será possível que esses mega empresários do ramo não são capazes
de criar algo novo mais condizente com a cultura atual? Até quando viverão
da carne podre de cadáveres do passado?
Veja o Lollapalooza, por
exemplo, um evento que nem é tão novo assim, nem teve a pretensão de incluir Rock no nome, em compensação colocou
esse gênero musical exatamente onde deveria estar, no palco.
Acho que foi na terceira edição do Rock in Rio que um amigo me veio
com a seguinte proposta:
-E aí? Vamos no Rock in Rio?
-Claro. Mas só vou ter grana pra ir em um dos dias, e ainda não me
decidi qual. Não sei se vou ao dia do Iron Maiden, ou do Deftones. Qual você
vai?
-Que mané Iron Maiden o que, porra! Nós vamos é no dia da Britney
Spears.
-Hehehe,… Você tá brincando, né?
-Nunca falei tão sério na minha vida.
-Você pirou? Isso jamais vai acontecer. Tenho uma reputação a zelar.
-Raciocina comigo. Britney Spears, Five, ‘N Sync,… Você tem noção da
quantidade de mulher que vai ter nesses shows?
-É. Pensando por esse lado da sua mente doentia, realmente vai ter
muita mulher em um lugar assim.
-Muitas não. SÓ vai ter mulher. Se tiver algum homem naquele lugar, ou
é gay, ou é namorado acompanhando a namorada.
-Ou pai acompanhando a filha. Acho que nesse dia tem Sandy & Junior também.
-Você está sendo pessimista… Olha, pense por esse lado, terá muita mãe solteira
levando a filha.
-Sei não cara. Como é que vai ficar essa história quando eu ficar mais
velho e contar pros meus filhos e netos que eu gastei a minha única chance de ir
ao Rock in Rio, justamente no dia da Britney Spears?
-Pode começar dizendo que foi o dia que você mais pegou mulher na sua
vida. Tenho certeza que isso vai conquistar o respeito deles.
Naquele momento, naquela época, meu lado ‘in Rio’ falou mais alto que
o lado ‘Rock’, e acabei topando essa ideia maluca. Eu e esse amigo nos desencontramos
logo no início do show do Five, e só nos vimos novamente já no hotel em que estávamos
hospedados. No fim do saldo, aquele pilantra terminou com duas primas de Santa
Catarina, e eu com uma argentina linda devidamente trajada com uma blusa da
seleção de seu país, que alias, fiz questão que ela permanecesse usando em
algumas ‘posições’.
No dia seguinte nos reunimos os cinco, no salão do hotel para o café da manhã. O meu amigo
com um sorriso triunfante, e eu com uma baita ressaca. Na primeira oportunidade
que aquelas mulheres, desconhecidas até o dia anterior, afastaram-se e pudemos ficar
sozinhos, ele não perdeu a chance de debruçar-se sobre a mesa e, em voz baixa,
me cobrar.
-E aí?! E agora? Tem algo a me dizer sobre a minha brilhante ideia?
-Sim. O show foi uma merda.