Eu não consigo me acostumar

POSTADO POR: admin qua, 15 de outubro de 2014

Quando fica tudo quieto eu até estranho. Ele é agitado. Eu escuto que as madeiras do assoalho cedem quando ele anda, e ele anda praticamente o tempo todo.

O falecido trabalhou anos como mascate. Casou-se com tia Ana, irmã da minha mãe, mas ela o deixou. Antônio acordou em um domingo e encontrou um bilhete dizendo que o casamento havia acabado.

Foi demais pra ele. O tio entrou em crise. Fechou-se no sótão e morreu de inanição. Quando o acharam, ele já estava podre. Deve ter sofrido pra morrer.
Então herdei esta casa, sou seu único parente vivo. Eu gosto do lugar, tem uma boa iluminação e os cômodos são espaçosos.

Tio Antônio também me deixou uma boa grana no banco. O gerente já disse que está tudo certo e fez questão de frisar que é um prazer poder contar com um cliente como eu. Ele me trata como investidor.

A única coisa que me chateia é ter de aturar a alma penada do tio Antônio. Sempre que o desgraçado aparece me diz que está esperando pela tia Ana, e fica me olhando com um olhar frio, e de olhares frios eu entendo muito bem.