Eu costumo prestar atenção em meu relógio
Correria, gente chegando, saindo.
Alguns indecisos no portão ou apenas interessados na proteção da Acácia, não sei ao certo.
Varrendo aqui, varrendo ali, pego o cesto de lixo e o esvazio.
Estou cansado.
Sigo com minha vassoura em mãos.
Entre um passo e outro, recolho um papel aqui, outro lá.
A cada movimento estou mais perto do portão.
E meu carrinho fica mais cheio a cada instante.
Olho meu relógio.
Os minutos são lentos como a própria eternidade.
“Há tempo pra tudo nessa vida”, penso.
E então o alarme de meu relógio desperta, são 18h cravadas.
E tão logo bato o cadeado no portão, alguém grita, “senhor, senhor zelador, por favor, eu me atrasei, mas preciso acender uma vela e deixar essas flores”.
É a voz de um homem ofegante.
Fico um tanto quanto consternado, mas, mesmo assim, respondo a ele, “eu lamento, amigo, está atrasado, volte amanhã”, e antes de ouvir qualquer coisa, sumo por entre os túmulos e tomo meu caminho.
Sei que essa é uma atitude dura.
Mas é que eu tenho um encontro.
E quando me atraso, ela nunca me beija.