Escritores que (provavelmente) foram mortos por causa de seus livros

POSTADO POR: admin sex, 19 de agosto de 2016

Para a maioria das pessoas, o trabalho de um escritor é sempre visto como uma posição confortável atrás de um teclado, digitando histórias perigosas de um lugar bem seguro. Claro que, às vezes, alguns jornalistas precisam ir a campo, e até encarar zonas de combate, para compor suas pesquisas. Mas realmente a maior parte dos autores de ficção não precisam muito se preocupar com um bom seguro de vida.

Mas as ideias contidas em uma escrita podem alcançar uma plenitude que nenhum poder político ou militar é capaz de destruir completamente. Ao longo da história, muitos escritores perderam suas vidas por que se atreveram a escrever sobre algo que não deviam. Mesmo atualmente, existe pelo menos meia dúzia de escritores pelo mundo sob ameaças diretas de execução por causa de seus trabalhos.
Aqui estão alguns autores que poderiam ter vivido um pouco mais se não tivessem tido a teimosia de escrever seus livros.
Anna Politkovskaya

Pode parecer engraçado ver o presidente russo, Vladimir Putin como um meme divertido de internet, mas quando você considera que ele provavelmente tenha mandado assassinar a jornalista Anna Politkovskaya pela sua oposição declarada à sua administração e a guerra na Chechénia,… Ele não parece uma piada.
Politkovskaya foi encontrada morta a tiros em um elevador (justamente no dia do aniversário de Putin), depois de ter sobrevivido a pelo menos nove outras tentativas documentadas contra a sua vida. Embora cinco homens tenham sido condenados pelo assassinato, eles confessaram que o fizeram apenas sob ordens expressas, mas a identidade do mandante permanece desconhecida.
Um Diário Russo
Em 7 de Outubro de 2006, Anna Politvoskaya foi morta a tiro à porta da sua casa, a meio de uma investigação que estava a levar a cabo para o jornal Novaya Gazeta sobre a tortura na Chechénia. Em 24 de Novembro de 2006, dois colegas do mesmo jornal que investigavam o seu assassinato receberam ameaças de morte. Alexander Litvinenko, muito crítico do regime de Vladimir Putin e dissidente dos serviços de informações russos, foi envenenado com tálio enquanto investigava, a morte da jornalista Anna Politkovskaya.
O assassinato de Anna Politkovskaya foi objecto de condenação internacional e levantou preocupações sobre a estabilidade política da Rússia. Em Dezembro de 2006, o Comité Executivo do Instituto Internacional de Imprensa (IPI) decidiu nomear a jornalista russa como Heroína da Liberdade de Imprensa Mundial. Recentemente, as autoridades russas detiveram 10 suspeitos formalmente acusados de envolvimento no assassínio.
Politkovskaya foi a 13ª jornalista a ser assassinada a soldo desde que Vladimir Putin chegou ao poder, no ano 2000. Apesar das reiteradas ameaças de morte que recebeu até esse dia, Anna sentiu que era seu dever continuar a denunciar o sofrimento de milhões de russos sob a governação de Vladimir Putin e recusou ter um guarda-costas ou dar ouvidos aos pedidos da sua família para deixar o país.
Um Diário Russo inclui entrevistas a pessoas cujas vidas foram devastadas pelas polícias de Putin, incluindo as mães das crianças cujos filhos morreram no cerco de Beslan, as vidas dos soldados russos estropiados na Chechénia e depois abandonados pelo Estado e de todos os jovens homens e mulheres dados como “desaparecidos”. (Editora Rocco)

Giordano Bruno

Durante um período da história em que a prática da ‘inquisição’ corria solta nos lábios de homens poderosos da igreja que viam heresia em quase tudo, o gênio Giordano Bruno recusou-se a medir as suas palavras, escolhendo escrever livremente sobre as suas crenças panteístas e outras ideias consideradas blasfêmia pela igreja. Ele foi preso, e, depois de um longo julgamento, queimado vivo pelas coisas que escreveu. Bruno era um astrônomo notável e criou teorias que ainda hoje são usadas no campo da filosofia.
Acerca do Infinito, do Universo e dos Mundos
Os enigmas do universo ainda não foram completamente desvendados, mesmo no século XXI, e dificilmente serão. Isso graças à constatação, séculos atrás, de um pensador que expôs pela primeira vez a infinitude do universo e a possibilidade de haver vidas inteligentes em outros mundos. Seu nome era Giordano Bruno, que, estimulado pela introdução do sistema heliocêntrico de Copérnico e tomado de um profundo gosto pela controvérsia, defendeu a idéia da pluralidade dos mundos.
É evidente que suas ideias não foram prontamente aceitas, já que o homem tem em sua natureza, talvez para se sentir seguro, a tendência de acreditar naquilo que é comprobatório ou palpável. Entretanto, isso não foi empecilho para o desenvolvimento de sua teoria.
Seu ponto de partida foi contestar com veemência as posições aristotélicas, favoráveis ao geocentrismo e à ideia da existência de um único mundo.”Giordano Bruno – Acerca do Infinito, do Universo e dos Mundos” é uma obra que contribuiu sobremaneira para a Astronomia, pois, em razão de sua conclusão, hoje estamos cientes da amplitude do universo e, mesmo que novas descobertas caminhem a passos lentos, é inegável que seu conteúdo nos legou a base necessária para explorarmos novas ocorrências. (Editora Madras)

Isaac Babel

Por outro lado, você deve entender porque as pessoas sempre levam Joseph Stalin a sério. Stalin era atarracado, tinha o braço esquerdo atrofiado e graves cicatrizes no rosto devido a um ataque de varíola na infância. O que não é exatamente a aparência assustadora que se espera de alguém que se tornaria um dos maiores assassinos em massa de todos os tempos. Issac Babel decidiu parar de escrever quando Stalin forçou todos os escritores russos a seguirem os seus preceitos do “Realismo Socialista”, convencido de que sua autoridade logo dominaria a classe. Ele selou o seu destino quando escreveu e tentou apresentar a sua peça Maria que, não só foi contra as preferências artísticas de Stalin, mas também era carregada de referencias a corrupção do estado. O NKVD (a antecessora da KGB) fechou o teatro durante os ensaios, prendeu Babel o declarando como traidor, mataram o escritor a tiros, e jogaram o seu corpo em uma vala comum.
Maria:Uma Peça e Cinco Histórias
Lançada no Brasil recentemente, Maria é a última peça criada pelo escritor russo Isaac Bábel. Escrita em 1935, a peça nunca foi encenada diante da repressão política que vigorava na URSS stalinista. De teor polêmico, Maria trata da vida numa ordem cada vez mais autoritária, onde o espaço para o romantismo dos bandidos (tema presente em diversas obras de Bábel) é cerceado pelas próprias engrenagens do Estado soviético.
Além disso, essa edição acompanha alguns dos principais contos do escritor, incluindo o conto “Mamãe, Rimma e Alla”, seu primeiro texto publicado na revista de Máximo Gorki (a quem ele dedica o também publicado “História do meu pombal”).
Uma leitura recomendada a todos aqueles que desejam conhecer o pensamento de um escritor comprometido com a revolução e que se vê gradualmente enredado e assombrado por ela. (Cosac & Naify)