Escrever não é fácil, e talvez você morra tentando.
O grande escritor achava que escrever era fácil. Viver de letras seria natural, de acordo com tudo aquilo que o idiota produzia, durante seus delírios animados por vinho ou uísque. Coitado.
– Geraldo, eu não aguento mais o processo.
– Que processo?
– Mandar originais para editores, lamber sacos, tudo isso.
– E agora?
– Não sei.
– Novidade você não saber.
– Ééé…
Pegava o carro velho, depois de conversar nos bares do centro, e via de passagem a minha bela cidade do caos. Respirava fundo, sabedor de que o inferno é algo inspirador, e que as palavras, sacanas, viriam aos montes. E caso não viessem, abriria aquele maldito site russo para assistir strippers do Leste capazes de levantar Trotsky e Lênin de pau duro da cova para a vida capitalista, e beberia mais um pouco. Depois provaria o veneno dos noticiários, absorvendo para cuspir, palavra por palavra, sobre este mundinho bem fodido.
Então ele ama alguém, uma mulher surge, os pensamentos se revezam. A depressão já não é uma constante e ele percebe que isso (a depressão) o ajudava a escrever de maneira desenfreada. Descobre, tardiamente, que sua literatura, amiga fiel, foi forjada na desgraça e na solidão, e talvez não exista nela espaço para um punhado genuíno de alegria.
– Oi Pitz!
– Oi Laurinha, o que manda?
– Parou com a coluna no DpM?
– Não… Mas ando sem inspiração. Estudando naquela faculdade filha da puta, trabalhando, juntando tostões, pagando dívida.
– Humm.. Um homem sério!
– Nunca.
Não existe essa coisa do homem sério, o homem é o homem e poucas vezes ele é sério. Os problemas de comando são sérios, o mundo me parece sério até demais com suas tempestades e trovões, terremotos, vulcões, mas a humanidade é só uma puta brincalhona tentando arrumar clientes depois das três da madrugada. A sociedade é uma babá, sacana, quente, tentando fisgar o marido da patroa com ares de zombaria erótica. E o homem comum fede, mesmo quando se perfuma, e ele sabe disso.
– Oi amor, o que está fazendo agora?
– Tentando escrever, garota..
– Sobre o quê?
– Que merda, eu sinceramente não sei!
– Está de mau humor?
– Talvez.
– Me ama?
– Sim..
É estranho olhar para trás e me ver encarando um editor escroto nos olhos. Ele me dizia que eu não chegaria a lugar nenhum porque queria viver de livros, e todos que fazem isso acabam morrendo pelo caminho para dar de comer aos urubus. Eu quis arrancar-lhe os olhos com os dedos, e depois mijar na cabeça dele para mostrar que caras como ele são apenas vasos sanitários; mas hoje preciso admitir que, aquele saco de bosta vazio possuía máxima razão. Não se pode sonhar demais. O sonho é privilégio bobo daquele que ainda não realizou porra nenhuma. Sonhar em ser grande é coisa de quem é pequeno. Realizar grande, isso sim, que honra para um futuro cadáver.
Mas eu não quero ser nada além de papel e ilusão. Um homem caminhado com um coração que bate por osmose. Uma garrafa vazia e uma felicidade aparente.
Uma felicidade aparente. Um miserável.