Encontrado sozinho pelo bar

POSTADO POR: admin qua, 30 de maio de 2012

Não é a primeira que me encontro
sozinho em um bar como este. Não é a primeira vez que tento encontrar o amor em um copo de alcatrão, e aconchego num caldinho de feijão morno. Não é a primeira vez
em que todas as outras mulheres me parecem tão sem graça. Nem será a última. Eu
sou assim. Aprendi com o tempo que toda grande paixão deixa um grande vazio e
isso não é, e nunca será, razão para me fazer fugir de quem eu desejo.
Peço uma cerveja e mais um quartinho
de alcatrão. Não quero parecer o tipo de cara que chega no bar e fica bebendo
alcatrão sozinho, isso é deprimente. Olho pro celular e quase que por mágica
ele se treme todo e acende o visor. Ligação de um amigo,
provavelmente irá me chamar pra beber. Deixo tocar, não quero que nenhum dos
meus amigos me veja tão amargurado assim. Melhor preservar minha imagem de
irreverente. Alcatrão, colherada no caldinho. 
Penso em tudo que fiz, se mereço
o que recebi. É minha culpa o que aconteceu? Será que eu realmente saboto
minhas relações escolhendo as mulheres erradas? Gole na cerveja. Penso onde ela
estará. Me pergunto se ela está pensando em mim. Me repreendo, não posso mais
pensar nela. Não devo. É passado. Isso é amor? Obsessão? Ou me dói a rejeição?
Alcatrão, caldinho, cerveja. Cerveja. A Morena da mesa ao lado se levanta e vai
em direção ao banheiro. O cara que está com ela olha pra minha cara. Tiro a
vista. Cerveja. Telefone volta a tocar, o mesmo amigo. Não atendo. Me sinto mal
por não atender. Cerveja. A Morena volta do banheiro e discretamente sorri pra mim.
Uma pequena parte de mim fica feliz com isso, mas a grande maioria do meu ser
caga e anda pra qualquer outra mulher. Me sinto mal por não me empolgar com a
morena. Porque não me empolguei? Há quanto tempo estou assim? Certamente já
deveria ter saído dessa. Que merda. Só escolho mulheres ou loucas ou casadas ou
bissexuais. Alcatrão. Telefone toca, eu atendo:
-Cadê tu, cacete? 
-Na minha terra, porra. 
-Vai
demorar pra chegar? 
-Porra… acho que vou não, ‘véi’. 
-Porque, donzelo? 
-Tou meio
mal, bicho. Meio emo. 
-Tomar no c*, ‘carai’, vem pra cá! 
-Mermão, tô em um porre, dor
de cotovelo e tal. 
-Meu velho, venha pra cá!
-Bicho, eu tou muito chato, ninguem
vai me aguentar. 
-‘Fídirrapariga’, venha pra cá, eu aguento. 
-Tem certeza? 
-Eu sou
muito mais chato que tu, e tu me aguenta. O mínimo que eu posso fazer é aguentar
teu chororô. 
-Valeu, velho. 
-Valeu uma porra, vai vir? 
-Vou, eu vou. 
-Então deixa
eu te dizer um negócio… te arruma que tem umas amigas arrumadinhas da minha mulher por aqui. 
-Hehehe…Só se for agora, bicho!
Chegando lá, meu amigo veio me
receber. 
Me deu um abraço e ao sentir o álcool saindo dos meus poros, me
perguntou o que eu estava bebendo. 
-Alcatrão, e tu? 
-Uísque safado, vai encarar? 
-Vou, tendo alcool dá no mesmo pra mim. 
-Vai nessa! 
-Cadê tua mulher? Naquela mesa
alí, vai lá falar com ela.

Ao seguir seu indicador encontrei a
tal mesa sem maiores dificuldades, mas infelizmente não consegui enxergar a sua
namorada. Alguém roubou meu olhar, minha atenção, bagunçou meus pensamentos e
varreu pra longe toda a melancolia que eu carregava. A impressão que tive foi
de ficar parado, sem reação alguma, mas a julgar pelo rosto dela, devo ter
feito a cara mais engraçada do mundo. O seu rosto foi tomado pelo o que
certamente é o sorriso mais encantador que já vi até hoje. Um tipo todo especial
de sorriso. Um tipo convidativo, belo, largo e ao mesmo tempo intimista… e
acima de tudo, verdadeiro. Nesse instante me coloquei a andar em sua direção e
me esqueci da razão que me fez começar a beber naquela noite.
*** Talvez um dia
eu coloque a foto do tal sorriso. Por enquanto, fiquem com essa que é puramente
ilustrativa