Elementos da nossa história que influenciaram a saga de Game of Thrones

POSTADO POR: admin qui, 09 de julho de 2015

Finalmente os fãs da série de TV Game of Thrones sentiram a angústia que os leitores dos livros de George RR Martin já vem sofrendo há muito tempo. E a cada nova temporada, as esperadas ‘polêmicas’ sobre o programa se alastram pela internet, chocando um público despreparado que caiu nessa série de paraquedas, e ainda assiste esse tipo de produção pelo prisma atrasado da nossa cultura ‘noveleira’. E por isso não entendem, e não entenderão tão cedo, por que tantas coisas terríveis ocorrem nas terras de Westeros.

Uma das razões para o fato são as fontes usadas como inspiração para a construção do material brutal criado por Martin. Aqui separamos alguns desses elementos que ajudaram a formar esta saga épica de fantasia e podem elucidar o porque de tanta aflição dentro desta história (aviso de spoilers pra quem liga pra isso).


✔ A Muralha de Adriano

O extenso muro de gelo que protege Westeros do povo selvagem (e sabe-se lá do que mais) é baseado na Muralha de Adriano, uma fortificação construída em pedra e madeira no norte da Inglaterra, próxima a atual fronteira com a Escócia. Foi assim denominada em homenagem ao imperador romano Públio Élio Trajano Adriano, que ordenou a sua construção. O próprio Martin explicou a referência em uma entrevista: “Bem, algumas inspirações prefiro revelar mais tarde, então não vou falar sobre esse aspecto, mas certamente a Muralha vem da Muralha de Adriano, que conheci em uma visita a Escócia. Fiquei imaginando como seria ser um soldado e estar á olhando para o horizonte, sem saber o que poderia emergir da floresta a frente. Claro que na fantasia tudo é mais brilhante e maior que na vida real, por isso a minha Muralha é mais extensa e mais fascinante.
✔ As convenções de escrita da televisão

Martin comentou na revista Time que escrever para a TV (Incluindo a série Bela e a Fera dos anos 80) lhe ensinou a importância da ‘ruptura do ato’. Isso significa saber ir para os comerciais no exato momento de uma revelação importante ou uma cena determinante. Ele queria manter os leitores envolvidos com a narrativa dos livros, e para isso acontecer ele sempre tentou acabar cada capítulo com uma pausa dramática, fazendo com que você queira sempre ler mais sobre aquele personagem.
✔ A Guerra das Rosas

Várias vezes Martin já admitiu que teve forte inspiração na histórica Guerra das Rosas (1455 – 1485), mas os fãs da saga tem ido cada vez mais longe para traçar os paralelos entre os personagens e eventos dos livros e os fatos da história real. Mesmo que o próprio Martin já tenha insistido inúmeras vezes que não há nenhum personagem que corresponda a uma personalidade história em específico. Por exemplo, algumas pessoas vêem os Starks e Lannisters como as casas de York e Lancaster, e Bran e Rickon como os “príncipes na torre”, entre outras coisas. Robert Baratheon pode ser Henrique IV ou Henrique V, dependendo de quem você perguntar.
✔ A série ‘Memory, Sorrow, and Thorn’ de Tad Williams

Muitas pessoas apontam para algumas semelhanças entre a série de quatro livros do autor Tad Williams (ainda inédito no Brasil! Alô Editoras!!) e o primeiro livro da saga de Martin. Incluindo guerreiros mongóis que comem cavalos, monstros congelados do Norte, lobos como animais de estimação, e um menino que gosta de correr pelo telhado. E, de fato, Martin admite livremente ter lido a série de Williams, e que ela foi uma das coisas que o inspiraram a escrever Game of Thrones.

✔ O Fogo Vivo

Para este artefato temos a nossa própria versão real: o fogo grego. Foi uma grande arma usada pela marinha bizantina em batalhas navais em séculos passados. Era uma substância que continuava queimando mesmo em contato com a água. A real composição do fogo grego é desconhecida até hoje, já que a fórmula para a produção foi perdida com o tempo. Segundo estudiosos, ele só podia ser extinto com areia, vinagre forte ou urina velha. Era uma arma extremamente temida e muitos tentaram reproduzi-la sem sucesso ao longo dos anos.

✔ Ficção histórica

Martin tem falado da sua admiração por autores de ficção históricas como Bernard Cornwell, Thomas B. Costain, Frank Yerby, Sharon Kay Penman e Philippa Gregory. E com isso ele tentou trazer um pouco do realismo e da complexidade da ficção histórica ​​em sua escrita de fantasia para servir como um contraponto da magia existente dentro do gênero. Ele sentiu que muitos imitadores de Tolkien tinham criado uma espécie de “Disneylândia da Idade Média”, e ele quis trazer o realismo de volta ao universo fantástico.
✔ Clássico de Fantasia e Ficção Científica

O mundo de Martin combina dragões com zumbis, e muitas vezes flerta com outros elementos de diferentes subgêneros também. Essa abordagem despreocupada com o gênero vem provavelmente dos hábitos de leitura infantil de Martin. Ele disse que leu Robert E. Howard, JRR Tolkien, Robert A. Heinlein, Eric Frank Russell, e Andre Norton, e que sempre gostou de ler ficção científica, horror, fantasia e não via problemas em transitar livremente entre esses gêneros. E mais do que isso, ele via todos esses gêneros como algo bem semelhante entre si, dizendo que um duende, ou um alienígena, em alguns aspectos, cumprem a mesma função em um conceito literário.
✔ Os relacionamentos e práticas sexuais

Martin aponta alguns casais históricos como inspiração para vários aspectos das práticas sexuais dos seus livros. O incesto entre Cersei e Jaime Lannister  é uma alusão a prática de incesto na dinastia ptolomaica do Egito antigo e das recentes monarquias europeias, que notoriamente teve problemas com a consanguinidade. Meninas casarem como apenas 13 anos, como Daenerys, era uma prática comum na Idade Média, mesmo que você não possa realmente mostrar isso na televisão. E casamentos arranjados, como a maioria dos que ocorrem nos livros, eram uma prática extremamente comum. Havia milhares, dezenas de milhares, talvez centenas de milhares de casamentos arranjados na nobreza através dos milhares de anos da Idade Média, e era a única forma de conseguir um casamento que as pessoas conheciam na época.

✔ Religiões do Mundo

Martin inventou algumas religiões para a sua série de livros, mas todas elas têm suas raízes em religiões da vida real. Por exemplo, a Fé dos Sete, baseada em sete aspectos de um deus, é derivada da Santíssima Trindade Cristã, que tem a figura da ‘Mãe’ como uma forte referência. Enquanto o Pai, o Ferreiro e Guerreiro vêm de elementos masculinos “abraâmicos”. E o Senhor da Luz, R’hllor, é mais ou menos baseado em zoroastrismo e os cátaros (que foram destruídos durante as Cruzadas).

✔ Massacres da vida real

E, finalmente, o Casamento Vermelho foi inspirado por dois eventos na história da Escócia : o Jantar Negro e o Massacre de Glencoe. No Jantar Negro (1440), o rei da Escócia estava lutando contra o clã de Douglas Black, mas ele ofereceu a William Douglas, o sexto conde de Douglas, passagem segura. Quando ele veio para Edimburgo, eles prepararam uma festa que terminou com o Earl sendo apresentado com a cabeça de um touro preto (ou javali, dependendo da versão), que era um símbolo da morte. O conde e seu irmão enfrentaram um julgamento simulado antes de ser executado.
Já o massacre de Glencoe foi em 1692, quando 38 membros do clã foram assassinados por aqueles que aceitaram a sua hospitalidade. Quanto às regras de hospitalidade, que diz que um anfitrião não pode prejudicar um convidado, Martin diz que são hábitos diretamente “roubados da história.”


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